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Desemprego na pandemia

Trabalhadores do turismo no setor social? “Uma anedota”, diz sindicato

20 ago, 2020 - 12:18 • Marta Grosso , Celso Paiva Sol (entrevistas)

“O senhor primeiro-ministro não conhece os problemas dos trabalhadores”, acusa o sindicalista Francisco Figueiredo. “As pessoas não têm ideia do trabalho que temos nos lares”, diz Associação de Lares e Casas de Repouso.

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O Sindicato dos Trabalhadores da Hotelaria e Turismo classifica como “uma anedota” o desafio lançado pelo primeiro-ministro para que os profissionais desse setor, afetados pela pandemia, passem a trabalhar no setor social.

“A declaração feita pelo senhor primeiro-ministro é uma anedota completa”, afirma Francisco Figueiredo à Renascença. “Não temos qualquer aptidão, qualquer competência para tratar de idosos”, acrescenta.

O sindicalista diz conhecer bem o setor social e considera que só por desconhecimento António Costa pode fazer tal sugestão.

“Participámos nas negociações do contrato coletivo de trabalho da CNIS [Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade] e das Misericórdias, etc, e conhecemos o setor social. Aqueles trabalhadores têm de ter uma grande vocação para o trabalho que praticam todos os dias”, sublinha.

“Não é possível empurrar para esse setor das IPSS trabalhadores de outros setores que não têm vocação, que não têm aptidão, que não têm competências, que não têm formação. E só por desconhecimento das atividades, das competências, é que se pode ter uma proposta dessas”, conclui.

Um trabalho “violento”

João Ferreira, da Associação de Apoio Domiciliário de Lares e Casas de Repouso de Idosos, é mais explícito.

“Mudar fraldas, posicionar doentes acamados na cama, fazer-lhes a higiene, por aí fora, não é fácil”, afirma à Renascença.

“As pessoas não têm muito ideia do trabalho que temos nos lares. É um trabalho que custa a fazer e é mesmo violento”, acrescenta.

Por isso, o presidente daquela associação defende formação específica. “Colocar essas pessoas em lares de idosos só com o mínimo de formação prévia para os preparar para assumir essas funções, que não são fáceis – antes pelo contrário”.

“Temos que ter em consideração o perfil e a experiência profissional anterior das pessoas. Se estamos a falar de um empregado de mesa é uma coisa, se estamos a falar de uma empregada de quarto é diferente. Agora, vão precisar de certeza de alguma formação mínima antes de assumir funções”, reforça.

“Não há esse desemprego todo” no turismo

O sindicalista Francisco Figueiredo considera que afirmações como as do primeiro-ministro, na quarta-feira, apenas dão força à impunidade com que os grandes grupos hoteleiros têm gerido os efeitos da pandemia.

“Vivemos uma situação de crise, porque estão em causa os nossos direitos, os direitos dos trabalhadores e porque o Governo os deixou ao abandono completo. Essa é que é a grande questão”, começa por apontar.

“O que os grandes grupos económicos estão a fazer é fechar unidades hoteleiras para depois justificar, junto do Governo, os apoios que estão a receber. Não há esse desemprego todo que se fala no setor. Há problemas graves, porque há um clima de impunidade geral, há os trabalhadores a tempo parcial por lay-off, mas estão a trabalhar 40 horas e mais”, denuncia.

O sindicalista critica ainda a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) de não atuar “de acordo com as suas atribuições, as suas competências – é preciso que saia dos gabinetes e que vá para as empresas”.

Francisco Figueiredo conclui, assim, que “o senhor primeiro-ministro não conhece os problemas dos trabalhadores do setor”.

Quanto à ideia de exercerem atividade no setor social, “os trabalhadores não iriam aceitar exercer uma função para a qual não têm qualquer vocação. É uma situação, de facto, que não lembra ao diabo”, remata.

O programa MARESS (Medida de Apoio ao Reforço de Emergência de Equipamentos Sociais e de Saúde) já está em curso, com o objetivo de colocar desempregados ou trabalhadores em situação de lay-off em instituições sociais que precisam de funcionários, como os lares.

Até agora, foram colocadas seis mil pessoas em mil instituições e o Governo quer, até ao fim do ano, atingir as 15 mil.

Podem candidatar-se desempregados – estejam ou não inscritos no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) – trabalhadores que estejam com os contratos suspensos ou com horário de trabalho reduzido e estudantes maiores de 18 anos.

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