“Amar a todos, até os inimigos, e amar até ao extremo, representa a máxima realização do amor de Deus para com a humanidade”, lembrou esta Quinta-Feira Santa o Patriarca de Lisboa. Na homília da Missa vespertina da Ceia do Senhor, que faz memória da Última Ceia, D. Rui Valério considerou que Cristo mostrou que “o único sentido de o homem viver a sua humanidade, e de a viver com sentido, é vivê-la ao modo de Deus”, “doando-se na gratuidade” e “sacrificando-se pelos seus”.

Ao lavar os pés aos discípulos, Cristo mostrou a importância do amor ao próximo e da fraternidade humana. “Lavar os pés a alguém é uma humilhação que a Escritura não exige sequer a um escravo. E, no entanto, Jesus assumiu-a e assumiu-a perante aqueles que O amam”, sublinhou.

“‘Fazei o mesmo que fiz eu’, impele-nos Jesus, ‘lavai os pés uns aos outros’. E São Paulo, mais radical, chega mesmo a dizer ‘fazei-vos servos uns dos outros’, amai-vos a todos como irmãos, porque só no serviço realizais a vossa condição de filhos. Somente na Eucaristia se vive este dom total de entrega plena”, afirmou ainda.

Para D. Rui Valério, a Eucaristia, instituída na Quinta-Feira Santa, “é uma nova maneira de ser pessoa”, e os valores que representa influenciam mesmo os não cristãos, porque “todo o projeto social, e até mesmo humanista, que se queira implementar no mundo, ou na sociedade, se prescinde da força da abnegação, da entrega e do sacrifício, está condenado ao fracasso. E logo desde o início”.

Há uma maneira de estar e servir, moldada pelo exemplo de Cristo, que não perde atualidade, pelo contrário. Projetos que se baseiem “na pura sobrevivência” ou “na busca da autopromoção” e no “salvar-se a si mesmo”, nunca passam de “meros remendos”, e “os povos já não suportam mais as dinâmicas dos remendos: necessitam e necessitamos de projetos que se situam nos dinamismos da autossuperação, da vontade de oferecer a todos a dignidade própria da liberdade. Sobretudo na saúde e na educação, na justiça e na implementação de uma política que promova a igualdade de todos os cidadãos face à lei. Isso só se consegue pela vivência do serviço, na missão de que se está investido, a promoção do bem comum como um projeto eucarístico”.

O Patriarca acrescentou, ainda, que a Eucaristia “tem esta força: liberta todo o ser humano do anonimato e da insignificância, e torna irmão e irmã mesmo o distante e o desconhecido; faz dele um ‘alguém’ amado por Jesus Cristo. Tocamos uma dimensão fundamental da existência, pois ninguém suporta ser tratado como objeto, mas cada ser humano anseia e necessita de ser reconhecido e respeitado como pessoa”.

“Hoje, a cultura da era digital e da valorização do número, e sobretudo a mentalidade que a sustenta, coloca a urgência de afirmar como cada um é mais do que capacidade de produzir muito a pouco custo. O reconhecimento do rosto de cada pessoa, da sua identidade única, libertando-a das trevas da massificação, desenvolve-se no caminho da eucaristia”, disse ainda D. Rui Valério, que durante a manhã presidiu à Missa Crismal onde os padres da diocese renovaram os seus votos sacerdotais.