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Cinemas não querem abrir já. "É como vender produtos fora de prazo”

25 mai, 2020 - 16:35 • Maria João Costa

A Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais garante que não há filmes para estrear e atrair o público. Pede ao Governo o adiamento por um mês da reabertura dos cinemas. A associação diz que o Ministério da Cultura está "sintonizado" com as preocupações do setor.

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A carta tem como remetente a FEVIP - Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais e como destinatários o primeiro-ministro, os Ministério da Cultura e da Economia e o Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA). Na missiva a FEVIP pede ao Governo o adiamento da reabertura das salas de cinema por um mês, em vez de ser a 1 de junho como previsto pelo executivo, seja a 2 de julho.

Segundo esta associação, “as distribuidoras de cinema confrontam-se com a falta de estreias de filmes para distribuir” e, por isso, consideram a abertura das salas a 1 de junho “uma proposta irrealista e despropositada”.

Além de que referem que tanto a FEVIP como a Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas (APEC), que representa mais de 95% do mercado de exibição cinematográfica, nunca foram consultadas “para se pronunciar sobre a data de reabertura das salas de cinema.”

"É como ir a um supermercado e ter as prateleiras vazias", diz o diretor-geral da FEVIP, Paulo Santos, porque “as distribuidoras não têm filmes para estrear e os cinemas vão ficar vazios”.

Em entrevista à Renascença, este responsável defende a data de 2 de julho, “o mês em que começa a haver produto novo disponível no mercado”. Paulo Santos diz que o público não quer ver “produtos que já passaram em sala ou em streaming”, é como “vender produtos fora de prazo”.

Na carta a que a Renascença teve acesso pode ler-se que a distribuição de filmes “está atrasada e dependente da abertura dos mercados internacionais, como é o caso dos EUA, disponibilidade que só é esperada para o mês de julho se as condições sanitárias o permitirem”. Não está por isso prevista qualquer estreia nas primeiras semanas de junho.

Sem qualquer estreia para chamar o público de volta ao cinema podem estar em causa as condições de rentabilidade e, logo, a sobrevivência de muitas empresas do setor. É por isso que a FEVIP defende que “as salas, que promovem cinema comercial, abram a 2 de julho, sendo que esta proposta não invalida que, para os cinemas que assim o entendam, possam abrir no próximo mês. Por outro lado, a lotação mínima das salas terá de ser garantida a 50%, pois só com esta taxa se poderá tornar o negócio viável”.

A associação confirma à Renascença que “o Ministério da Cultura está sintonizado com esta exposição e está de acordo com ela”, explica Paulo Sousa que acrescenta, no entanto, que “falta neste momento um ministério que se pronuncia sobre estas matérias que é o Ministério da Economia e falta o aval do primeiro-ministro”.

Contacto pela Renascença, o Ministério da Cultura reforça que o que está previsto pelo Governo é a reabertura das salas a 1 de junho, mas fonte da secretaria de Estado do Cinema, Audiovisual e Media diz compreender que possa, em algumas situações, não haver condições para essa reabertura e que algumas salas só conseguirão reunir essas condições mais à frente.

A questão é que a data escolhida para as salas de cinema, foi a mesma da reabertura dos centros comerciais e os cinemas são “lojas âncora” nestes espaços, explica Paulo Santos que sublinha que os cinemas vão ser “fortemente penalizados pelas cláusulas penais” se não abrirem portas.

“Vai haver empresas que vão para a insolvência”, alerta Paulo Santos, que diz que “estas empresas são criadoras de emprego efetivo”, que “levam cultura a 200 localidades do país” e vão estar confrontadas com o desemprego.

Cinema Ideal perdeu 60 mil euros com a pandemia

“Há um buraco de 60 mil euros provocado por esta pandemia”, diz à Renascença Pedro Borges do Cinema Ideal, uma sala de cinema independente de Lisboa, sob a gestão da produtora Midas Filmes.

O cinema vai voltar a trabalhar já a partir de dia 1 de junho e retomar a atividade onde parou, com o filme “Retrato da Rapariga em Chamas”, de Céline Sciamma.

Para tentar reerguer-se, durante o mês de junho e dada a limitação de lugares, o Cinema Ideal pede ao público que faça marcação e o bilhete terá o custo de 5 euros. Mas esta sala de cinema que tem um público muito fiel disponibiliza também um bilhete “Apoio Cinema Ideal” no valor de 10 euros, “para todos aqueles que quiserem expressar de forma mais concreta o seu apoio” a esta sala de cinema do centro de Lisboa.

A ideia é “se as pessoas quiserem ser generosas e gastarem agora aquilo que não gastaram durante o confinamento” assim vão contribuir para a continuação do Cinema Ideal, explica Pedro Borges.

No caso do Cinema Ideal, implementando as novas regras para a ocupação das salas vai obrigar a que “entre cada fila onde se sentarão espetadores, haverá sempre uma fila vazia e haverá sempre dois lugares de distância” entre espetadores.

Feitas as contas “se vierem espetadores individuais, aos 33 a sala estaria esgotada”, contabiliza Pedro Borges que acrescenta que “se forem pares”, podem ir até aos 55 espetadores.

Temendo que possa haver sessões onde não caibam todos os espetadores potenciais, o Cinema Ideal está a pedir ao público para marcar bilhete atempadamente. Questionado sobre durante quanto tempo conseguirão sobreviver com esta lotação reduzida, Pedro Borges compara com a situação de restaurantes com menos clientes e outros estabelecimentos onde a procura está condicionada para dizer que se torna inviável a longo prazo.

[notícia atualizada - com reação do Ministério da Cultura]

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