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TAP pode perder 1.700 trabalhadores e mais de 30 aviões

20 mai, 2020 - 07:00 • Luís Aresta

A injeção de capitais não deverá evitar um esvaziamento parcial da companhia aérea portuguesa, com uma redução de 25% da frota e de 10% do pessoal. Há contratos a termo que não estão a ser renovados.

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Menos 1.700 trabalhadores. Redução da frota em 25%, ou seja, menos oito aviões de longo curso e 23 de médio curso. Os primeiros números do provável redimensionamento da TAP já correm em círculos restritos de trabalhadores da empresa, ainda que não haja, até ao momento, confirmação oficial por parte da administração.

Contactada pela Renascença, a TAP, que de início declinou fazer comentários, diz agora, através de fonte da empresa, que "não reconhece esse cenário". Uma outra fonte próxima da companhia aérea, admite, porém, que a União Europeia não deixará de impor contrapartidas à injeção de capitais públicos, sendo inevitável a redução da frota e o consequente ajustamento do número de postos de trabalho.

Na prática, a redução de pessoal começou no momento em que administração da companhia aérea informou os trabalhadores de que os contratos a termo não seriam renovados.

A medida tem sido aplicada nomeadamente a comissários e assistentes de bordo, confirmou à Renascença o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC). O presidente do sindicato, Henrique Martins, esclarece tratar-se de “contratos que não vêm sendo renovados, conforme a primeira renovação”, admitindo que “no final das contas se possa chegar aos 1.100 trabalhadores”. Henrique Martins considera, porém, ser prematuro retirar conclusões face à incógnita que carateriza o momento atual da TAP e do transporte aéreo de passageiros.

Já o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, declinou prestar quaisquer declarações a este propósito.

Técnicos de manutenção de aeronaves esperam não sofrer com os cortes


Para além da não renovação de contratos a termo, a política de "emagrecimento" da TAP passa pelas reformas antecipadas. A administração da companhia terá em mente a negociação da antecipação de reformas com cerca de duas centenas de trabalhadores.

Paulo Manso, do Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA) aceitou falar à Renascença para confirmar que “se tem ouvido falar na dispensa de trabalhadores” e que a redução deverá ser feita “sem afetar as pessoas que estão no quadro”.

O sindicalista atesta que o número de 1.700 saídas da empresa circula internamente, “mas sem qualquer confirmação oficial”. Apesar da previsível redução da frota em 1/4 da capacidade atual, o SITEMA espera que os trabalhadores da manutenção de aeronaves não sejam atingidos, porque se trata de um setor em que o momento era até de “alguma dificuldade em conseguir quadros desta área para a companhia” e que agora ficará ”mais perto das necessidades, face ao número de aviões”, sublinha Paulo Manso.

Um dossier gerido com pinças


Desde 30 de março que o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil espera para ser ouvido pela administração da TAP, que se tem mantido muito reservada num momento particularmente complexo da vida da companhia aérea de bandeira.

“Não temos qualquer tipo de informação quanto ao futuro. Gostávamos de ter, mas não temos e o que vamos sabendo é através da comunicação social e pouco mais", diz Henrique Martins. E confessa não haver outra forma de gerir o problema que não seja com "pinças", porque estão envolvidos muitos milhões de euros e muitas pessoas.

O dirigente sindical assinala ainda o peso significativo que os descontos feitos pelos trabalhadores da TAP têm na Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo. A convicção de Henrique Martins é de que o governo fará um esforço “no sentido de preservar a empresa e os postos de trabalho".

Estas declarações à Renascença do presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil foram feitas escassas horas após uma reunião da direção do sindicato. Sem querer entrar em detalhes, Henrique Martins considera ter sido dado “o arranque para um verão um bocado quente”.

o SITEMA, pela voz de Paulo Manso, garante que “não tem dogmas” relativamente à entrada de capitais na TAP, venham eles de privados ou do reforço da posição do Estado, sublinhando, porém, que será de todo indesejável ver a companhia aérea portuguesa “outra vez dirigida por pessoas que nada percebiam do negócio, que única e exclusivamente faziam ali um prolongamento da sua carreira por interesses políticos ou outros, que não os interesses da companhia”.

O SITEMA entregou um pedido de audiência ao Ministro das Infraestruturas e da Habitação, numa altura em que o governo se prepara para negociar o reforço da presença do Estado na TAP.

O ministro Pedro Nuno Santos declarou esta terça-feira no parlamento que nenhum cenário deve ser excluído, “inclusivamente o da própria insolvência da empresa”, sendo inevitável “revisitar o plano estratégico da TAP“. Pedro Nuno Santos sublinhou ainda que “para a fase de investimento se concretizar, a presença do Estado na empresa é fundamental”.

Aviões da TAP permanecem em terra


Ao que a Renascença apurou, o voo que a TAP tinha com destino ao Funchal, programado para terça-feira, dia 19, acabou por não se realizar por falta de passageiros.

Para além das ligações às regiões autónomas da Madeira e dos Açores, asseguradas ao mínimo, a companhia aérea portuguesa retomou esta semana as ligações entre Lisboa e o Porto, mas com apenas três voos semanais em cada sentido. Os primeiros realizaram-se na segunda-feira. Para quinta está prevista nova ligação ao Porto, com partida de Lisboa às 10H00. O mesmo aparelho irá descolar do aeroporto Sá Carneiro ao meio-dia de quinta-feira com destino a Lisboa. Este será, de resto, o único voo TAP com origem no Porto nas próximas 24 horas.

Em Lisboa o cenário é um pouco melhor, mas para além do "voo Porto", cinco dedos chegam para contabilizar as rotas em que a companhia prevê viajar na quinta-feira.

De manhã sairão dois aviões: um rumo a Heathrow, em Londres; o outro terá como destino o aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Para a parte da tarde estão previstos voos com destino ao Rio de Janeiro, São Paulo e Madeira.

Por agora, de pouco servem as garantias “Clean and Safe” que a TAP anuncia no seu site oficial. Aí se dá conta, por exemplo, da desinfeção preventiva de todos os aviões, da renovação do ar nas cabinas a cada dois ou três minutos, do treino das tripulações ou do uso de de máscaras em terra e a bordo.

Da mesma forma que é garantido que antes, durante e depois dos voos, nada irá falhar caso seja detetada qualquer doença infetocontagiosa entre os passageiros.


[Notícia atualizada às 22h00]

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