02 mai, 2020 - 09:44 • Lusa
José Neto, metodólogo de treino, critica o regresso da I Liga, por considerar que há alterações "altamente significativas" nas regras que acabam por desvirtuar a competição.
"O campeonato está ferido de uma certa legalidade, porque para questões novas, como é o caso, novas questões têm de ser resolvidas. E quem tem de decidir são os clubes todos, os representantes dos jogadores, que são o mais importante e nem estiveram representados na reunião a três com o primeiro-ministro, mas também dos adeptos", refere José Neto, em entrevista à agência Lusa.
O Mestre em Psicologia do Desporto recusa falar numa decisão precipitada, até por desconhecer em rigor as orientações que suportam esta retoma. Contudo, aponta "desfasamentos enormes" entre as novas condicionantes competitivas e as dinâmicas competitivas que o futebol exige.
"Se obrigarem a treinar em 20 metros de distância, quero ver, depois, como vão jogar. Não é possível. Quem não joga como treina não joga, apenas pratica. Jogar implica outras condicionantes e a reorganização do tempo e espaço são muito importantes no treino de futebol. E treinar à distância não é treinar, apenas preparar", sublinha.
Covid-19
"Só na I Liga é que há condições de permitir a rea(...)
José Neto elogia o cuidado dos clubes com a saúde física dos atletas nesta fase de confinamento. Ainda assim, insiste que manter o foco só no perfil físico-atlético pode ser curto e não evita lesões, na medida em que "há um tempo de forma e uma pré-época, mas a pré-época com estas condicionantes não tem nada que ver com uma pré-época normal".
"A ideia que se fala de confinar equipas e jogadores numa determinada zona, devidamente preparada, seria um mal menor. O que importa é que todos tenham condições iguais e todos estejam de acordo", realça.
O especialista em Psicologia do Desporto também se mostra contra a realização de jogos à porta fechada.
Segundo José Neto, "quase todas as equipas fazem do público o seu 12.º jogador". Dá mesmo o exemplo do Vitória de Guimarães, clube em que já trabalhou: "O Vitória conseguiu muitas vezes ultrapassar a vertente competitiva através da força do seu público, que é único".
"Com o silêncio do estádio, o jogador entra muitas vezes mais relaxado, sente menos pressão na discussão do lance. Por vezes, poderá diminuir níveis de concentração e este vazio enorme poderá gerar um certo facilitismo. Além disso, um jogo sem público é um cartão vermelho ao futebol", conclui.
O Governo definiu, na quinta-feira, que a I Liga e a final da Taça de Portugal poderão ser disputas. A retoma da I Liga, a partir de 30 e 31 de maio, está sujeita a aprovação da Direção-Geral da Saúde (DGS) de um plano sanitário. Os jogos vão realizar-se sem público nos estádios.
Faltam disputar 90 jogos do principal escalão, que é liderado pelo FC Porto, com um ponto de vantagem sobre o campeão Benfica. Também falta a final da Taça de Portugal, que vai opor Benfica a FC Porto.