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Covid-19

“É para manter tudo na mesma”. Ovar sai da calamidade mas fica em emergência

18 abr, 2020 - 19:12 • Isabel Pacheco , Marta Grosso

Foram 31 dias de cerca sanitária, durante a qual ninguém podia entrar ou sair do concelho. Ovar já não é zona de calamidade, mas não se pode falar ainda em normalidade.

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Com o levantamento do cordão sanitário, neste sábado, Ovar deixa para trás dias de contenção máxima, mas está longe de ter recuperado a normalidade.

O fim do cerco foi assinalado, durante a madrugada, com foguetes lançados em várias localidades do concelho e, aos poucos, o centro da cidade mostrava-se mais vivo. Mas a alegria é contida. Afinal, o país encontra-se ainda em estado de emergência.

“Isto é para manter tudo na mesma ao nível do país”, diz Alfredo Costa, vareiro. “Eu vou à frutaria ou ao mercado e vou embora porque não podemos andar na rua”, acrescenta.

E, na realidade, as mudanças sentidas a partir de agora vão ser limitadas. O aviso foi deixado pelo ministro da Administração Interna, que nesta manhã foi ao concelho agradecer à população “olhos nos olhos”.

“Aplicam-se todas as regras do estado de emergência, mais as normas específicas do artigo 6.º, o artigo de Ovar neste período de prolongamento [do estado de emergência]”, explicou Eduardo Cabrita.

Não há eliminação das restrições à circulação”, reforçou e as empresas do concelho vão continuar a seguir regras “mais exigentes” do que as aplicadas no país.

Alguma “discriminação” durante cerca polémica

Alfredo Costa lembra momentos em que se sentiu discriminado, só por ser de Ovar.

“Ia a certos clientes descarregar o camião e diziam-me: ‘oh chefe, coloque aí a guia e desapareça, porque é de Ovar e vai contaminar isto tudo’. Isto é desagradável”, conta à Renascença. “Senti isso mais no trabalho, porque de resto não podíamos sair daqui, não é?”, acrescenta.

Um mês depois, ovarenses esperam o fim da cerca sanitária. "Somos tratados como leprosos"
Um mês depois, ovarenses esperam o fim da cerca sanitária. "Somos tratados como leprosos"

Ricardo Pereira, ovarense em teletrabalho desde março, está convencido de que a cerca sanitária foi “necessária” e tomada “a tempo e horas”. Já Aníbal Campos não tem a mesma certeza: “o cerco sanitário em si não era muito justificado”.

“Se tínhamos a norma nacional de que não podíamos sair de casa, não se justificava. No fundo, o cerco só teve consequências para quem trabalhava”, considera o sexagenário.

Se “valeu a pena” limitar a circulação para fora do concelho, Aníbal Campos mantém as suas dúvidas. Certo para todos é o preço que a economia local vai pagar nos próximos tempos, defende

“Ao nível económico, a fatura existe”, admite Ricardo Pereira, mas a “capacidade de resiliência que carateriza o vareiro, e com ajuda do Governo, penso que vamos conseguir dar a volta ao contexto”, confia o ovarense.

Ovar conta, nesta altura, com 504 pessoas infetadas com o novo coronavírus, segundo os dados divulgados neste sábado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).


No país inteiro, o boletim epidemiológico da DGS indicava, ao início da tarde, 687 óbitos entre 19.685 infeções confirmadas. Desses doentes, 1.284 estão internados em hospitais, 519 já recuperaram e os restantes convalescem em casa ou noutras instituições.

Portugal está desde 19 de março em estado de emergência, o que vigorará pelo menos até ao final do dia 2 de maio.

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