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Novo disco de Rodrigo Leão tem mais perguntas que respostas

21 fev, 2020 - 07:00 • Maria João Costa

"O Método" é lançado esta sexta-feira e conta com a voz da filha e letra da mulher de Rodrigo Leão, bem como desenhos do músico.

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O novo disco de Rodrigo Leão chama-se “O Método”, mas à Renascença o músico confessa que “tem muito pouco método” no seu trabalho. Quando a inspiração falta, passa do sintetizador para a mesa de refeições de casa. É lá que, embora diga que não tem jeito, faz alguns desenhos que o ajudam a desbloquear a composição musical.

O vídeo do primeiro single do disco, “A Bailarina” revela esses desenhos em animação. Já a música em si mostra ao mundo a voz da filha mais nova de Rodrigo Leão e as letras da mulher Ana Carolina. Nesta entrevista, o músico fala do disco ao qual se dedicou nos últimos dois anos.

O título do novo disco "Método" é revelador ou não da sua forma de trabalhar?

É um título um pouco estranho para uma pessoa como eu, que tem muito pouco método na maior parte das vezes. Mas a verdade é que neste trabalho existiu um método para procurar chegar até este som. Demorou eventualmente mais do que em trabalhos anteriores.

Porque é que foi longo esse caminho de procura por esta sonoridade?

Porque os meus últimos três trabalhos são muito diferentes entre si. "A Vida Secreta das Máquinas", depois o "Retiro" com o Coro e Orquestra da Gulbenkian e depois "Life is Long", que é um disco em parceria com o Scott Matthew, é um disco mais com canções. A minha maneira de tentar fazer música é sempre muito intuitiva. Tento não me prender a grandes influências ou decisões, antes de ter algum material.

E foi esse o caminho trilhado?

De certa maneira havia um caminho que eu estava a tentar seguir que era o de um som mais ambiental, mais eletrónico, usando muito mais o piano. Este foi o disco em que toquei mais piano acústico de todos os trabalhos que fiz. Havia também compositores que eu tenho ouvido recentemente e que admiro, muito como o Nils Frahm, o Ólafur Arnalds ou Ludovico Einaudi, toda esta corrente de alguns músicos islandeses ou alemães que marcaram um bocadinho estes últimos anos. São das poucas coisas que eu ouço.

Daí nasceu o "Método"?

Houve um convite para, pela primeira vez, termos um produtor que nos ajudou a coproduzir este trabalho e que veio de fora e que é um músico italiano, o Federico Albanese, que vive em Berlim. Penso que trouxe alguma coisa de novo a este trabalho.

E há também um lado muito familiar neste disco, porque a sua mulher e a sua filha também participam no disco.

Esse lado familiar que existe muito no meu trabalho é porque eu acabo por mostrar muito as ideias que estou a tentar desenvolver às pessoas que estão mais perto de mim, aos amigos mais chegados, à família. A Ana Carolina, a minha mulher, que costuma escrever às vezes letras para canções, neste caso ajudou-me a fazer um dos primeiros temas que compus para este trabalho. A Sofia, a nossa filha mais nova, acabou por cantar também uma parte e tem o coro da Academia Musical dos Amigos das Crianças, portanto parte do coro juvenil.

E é cantado numa língua que não existe?

É. Nasceu por uma brincadeira de um computador, com uma voz em reverse. E a partir daí eu pensei "Podemos tentar construir alguma coisa à volta disto". Foi a Ana Carolina e a Sofia que acabaram por construir ali umas frases que não significam absolutamente nada, mas que dão um ar mais misterioso à música e isso acontece em mais dois temas. Depois há outro tema cantado em russo pela Viviena Tupikova e há só um tema em inglês cantado pelo Casper Clausen, dos Efterklang, um cantor dinamarquês que conheci e admiro muito. Tive a sorte de ter esta colaboração neste trabalho.

Também arriscou desenhar? O vídeo do single "A Bailarina" conta com ilustrações suas?

São muitas as horas que eu passo à procura de ideias e muitas vezes não sai nada e então passo para a mesa da sala de jantar. Comecei a fazer uns desenhos que acabaram por ter alguma ligação com este disco. Para o vídeo de "A Bailarina", Oskar e Gaspar acabaram por fazer uma animação de alguns desenhos meus.

Treina-se a mão da música desenhando?

Sim, são desenhos muito simples. Eu não tenho jeito para desenhar, nunca tive! Mas como são desenhos muito abstratos, às vezes ajuda-me a descontrair. Fico um pouco desligado daquela procura constante de sons e de melodias no sintetizador, de ideias. Afasto-me disso e fico ali algumas horas a desenhar.

E qual é a imagem sonora deste "O Método"?

É uma música mais ambiental, onde diria que existem muitas perguntas, mas não existem respostas. É uma música que penso que nos transmite alguma tranquilidade, é uma música ambiental, um disco que foi feito ao longo de dois anos e pouco onde eu procurei muitas ideias. Lembro-me que numa altura tínhamos quase 40 ideias e tínhamos de escolher. Umas estavam, claro, menos desenvolvidas do que outras. Acabámos por escolher 15 ou 16, mas acabaram por ficar 12 temas que fazem parte deste "Método".

O que é que acontece aos temas que ficam de fora?

Estão lá guardados. Alguns eventualmente consigo aproveitar mais tarde para algum filme ou para um disco que ainda não está feito. A música, entretanto, leva arranjos diferentes e as coisas mudam. Normalmente é este o processo.

Quando é que vai apresentar este disco ao público no palco?

O primeiro será dia 27 de fevereiro no Centro Cultural de Belém e depois a 9 de março na Casa da Música, no Porto. Serão os concertos de apresentação deste novo trabalho, onde vamos ter o quinteto que habitualmente faz o concerto.

Já tivemos a oportunidade de, nestes últimos três meses, fazer sete ou oito espetáculos deste novo concerto. Temos a Ângela Silva que canta, e aliás com quem trabalhamos há mais de 20 anos, e que além de cantar nestes concertos toca sintetizador e metalofone. A Viviena Tupikova que toca violino e canta. O Carlos Tony Gomes que faz grande parte dos arranjos para as cordas e que toca violoncelo. O João Eleutério que é o grande companheiro de longa data e que produz grande parte de todos estes últimos trabalhos que editámos. E eu no sintetizador e no piano.

E os desenhos criados por si também entram no espetáculo?

É um concerto onde a componente da imagem também está muito presente. O Gonçalo Santos, com quem temos trabalhado ultimamente, tem feito vídeos para os concertos. Os desenhos entram num dos temas, precisamente na "Bailarina". Temos também o coro juvenil da AMAC com cerca de 14 crianças, com entre 12 e 18 anos.

"O Método" é também o seu primeiro disco a ser editado pela BMG internacional. Pode ajudar a chegar a outro público e mercado?

Espero que sim, mas é uma incógnita. Não fazemos ideia se este disco vai ter algum sucesso nestes novos países, onde o disco vai com certeza ser editado com mais visibilidade. Espero que possamos fazer alguns concertos e penso que isso está pensado. Agora em fevereiro vamos a Sevilha, em maio vamos a Madrid e, portanto, vamos tentar levar este trabalho ao máximo de sítios possível.

Hoje ouvir música passa muito mais pela experiência de um concerto do que ouvir música em disco?

Creio que sim. O concerto neste momento tem mais importância para o público do que se calhar propriamente o objeto do CD ou vinil. As pessoas ouvem muito no Spotify, no YouTube... Apesar de, se calhar, grande parte do meu público dar importância a ter o vinil ou o CD.

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  • Rodrigo Oliveira
    21 fev, 2020 Guarulhos 19:02
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