17 fev, 2020 - 13:00 • Redação
Moradores e Junta de Freguesia de Carnide unem-se, esta segunda-feira, pelas 18h30, numa ação pública para exigir a requalificação e reabertura da Esquadra 42 da PSP, fechada há mais de quatro meses, pelo Governo, alegadamente por falta de condições do edifício.
O presidente da Junta de Freguesia, Fábio Sousa, diz à Renascença, que o encerramento da esquadra tem feito aumentar a sensação de insegurança entre os moradores e comerciantes e também a criminalidade.
Por estas razões, o autarca considera essencial que a esquadra seja reaberta “o mais rapidamente possível” e, tendo em conta, a relutância do Governo em fazê-lo, exige que lhe sejam “confiadas as chaves do edifício” para que possam requalificá-lo e acolher, de novo, os cerca de 70 agentes que foram recolocados nas esquadras do bairro Padre Cruz e Horta Nova.
“Se o Governo não quer encontrar uma solução tripartida, entre a junta, a câmara municipal e o próprio ministério da Administração Interna, então que nos deixem fazer parte da solução. Aquele espaço o que precisa é de obras de requalificação, não é de estar fechado. Sobretudo, porque tinha altos níveis de produtividade”, afirma Fábio Sousa.
O autarca diz que a falta de condições da esquadra não parece, contudo, ser a única razão para o encerramento da esquadra. Apesar de nunca ter conseguido reunir com o ministro da Administração Interna - facto que lamenta - Fábio Sousa foi informado pela secretaria de Estado de que, por parte do Governo, “não existe qualquer vontade de reabrir a esquadra”, por serem “a favor de uma mega esquadra, onde se concentrassem todos os agentes”.
Contactado pela Renascença, o Ministério da Administração Interna confirmou que o futuro da esquadra será decidido no “âmbito de um reordenamento do policiamento de Lisboa”, mas assegurou que o encerramento não se traduziu na redução do policiamento nas ruas e que a criminalidade até diminuiu desde que a esquadra encerrou, de acordo com o número de ocorrências registadas.
Para Fábio Sousa, a opção por esquadras muito grandes - que não é recente, nem exclusiva deste Governo - exclui por completo a proximidade, apesar do objetivo ser, precisamente, o contrário: libertar agentes de funções administrativas e enviá-los para as ruas, para junto das populações.
Reorganização pensada pelo antigo ministro Miguel (...)
Para os moradores e comerciantes da zona de Carnide, é óbvio que algo está a falhar, porque, desde que a esquadra foi encerrada, sentem os polícias cada vez mais distantes e ineficazes e a falta de meios é apontada como uma das principais razões.
Júlio, proprietário de um restaurante no centro histórico, não tem dúvidas de que a insegurança aumentou. “Desde que a esquadra fechou, isto piorou bastante. Antigamente, as pessoas estavam mais seguras, porque estavam aqui a dois minutos e agora estão lá longe. E segundo sei, eles só têm um carro, se o carro for chamado para alguma aflição e nós tivermos aqui algum problema, eles terão de vir a pé. E eles virem a pé do Bairro Padre Cruz até aqui demoram, no mínimo, meia hora. Quando cá chegam, já não se passa nada”.
Beta trabalha numa peixaria e afirma que desde que a esquadra encerrou “passamos dias inteiros sem ver uma autoridade na rua”. “Antes eles andavam sempre por aqui, a passar a ronda, falavam com os moradores, com os comerciantes. Agora é muito raro. Ficámos sem segurança mínima” desabafa.
À medida que passeamos pelo centro histórico de Carnide, zona de prédios baixos e ritmo lento, que contrasta fortemente com a azáfama de grandes infraestruturas que estão mesmo ali ao lado, (como o centro comercial Colombo ou a 2ª circular), percebemos que a sensação de insegurança é generalizada.
Uma das maiores preocupações é a população mais idosa que aqui reside. "Se não fosse o movimento que os restaurantes trazem, os velhinhos já tinham sido todos assaltados”, afirma outro comerciante.
E multiplicam-se os relatos de quem conhece alguém que já foi assaltado, na rua ou em casa, e também de pequenos desacatos noturnos devido a um estabelecimento que fica aberto “até mais tarde do que devia”.
Para além de denunciar as queixas de insegurança que lhe chegam dos moradores e comerciantes, o presidente da Junta dá também voz ao que afirma ser o "degradar da situação dos profissionais da PSP".
“Se estavam mal, foram transferidos para pior. A realidade é essa. E, por isso, fazemos também um apelo muito grande ao ministro da Administração Interna para que venha conhecer as condições em que estes agentes estão a trabalhar.”
Os moradores, que afirmam ter tido sempre uma relação muito próxima com os polícias, que eram "autoridade, mas também vizinhança", acusam o Governo de ter gerido de forma inaceitável o fecho da esquadra, que "foi encerrada de uma hora para outra” e que nem os polícias souberam atempadamente, “quanto mais a população”.
A Renascença está a aguardar esclarecimentos sobre o assunto por parte da PSP, mas ao que conseguiu apurar, junto de um agente recolocado noutra esquadra, esta insatisfação é sentida por algum destes profissionais. “Se estávamos mal, agora estamos pior”, afirmou o polícia.