14 fev, 2020 - 16:39 • Ana Carrilho
Arménio Carlos fez esta sexta-feira de manhã o seu último discurso como secretário-geral da CGTP-IN, na abertura do XIV Congresso da central, que decorre até sábado na Torre da Marinha, Seixal.
A intervenção, que haveria de prolongar-se por mais de 40 minutos, começou com um aviso: “o que falta na voz é o que sobra de confiança e motivação para o presente e futuro da nossa central”.
Mesmo afónico, Arménio Carlos desfiou as críticas ao Governo, às confederações, à UGT, à União Europeia. Enumerou as diversas lutas em que a CGTP e os seus sindicatos se envolveram nos últimos oito anos, desde que tomou posse, sucedendo a Manuel Carvalho da Silva. E que coincidiram com a presença da troika em Portugal.
Reivindicou “louros” da luta dos trabalhadores no afastamento do Governo PSD/CDS do poder, “travando o processo de destruição de direitos e rendimentos”. Também “face à política laboral de direita do Governo PS e às posições retrógradas do grande patronato”.
Às criticas não escapou a UGT por se ter aliado aos patrões num acordo de Concertação que, na opinião da CGTP, mantém o país preso a uma política de baixos salários ou caducidade das convenções coletivas. E seguiu o recado que ninguém da central liderada por Carlos Silva ouviu, mas que o presidente do Conselho Económico e Social, Correia de Campos, poderá transmitir.
“A CGTP reafirma que prefere estar sozinha na defesa dos trabalhadores na Concertação do que acompanhada a assinar acordos que fragilizam e reduzem os direitos dos trabalhadores. Se alguns ainda não perceberam, é bom que saibam que um acordo assinado pela CGTP é um selo de garantia de progresso, de melhores condições de vida e de trabalho, de credibilidade e de desenvolvimento do país”, declarou.
Arménio Carlos deixou, também, recados a nível interno, para os que questionam os resultados conseguidos: “é verdade que se não conseguimos tudo, sem a luta não conseguiríamos nada”.
Na hora da despedida da liderança da CGTP, Arménio Carlos recordou o papel importante da família. Uma afirmação feita com alguma nuance na voz, eventualmente motivada por uma certa emoção com que tinha elogiado o papel das famílias dos sindicalistas.
Emoção que passou para alguns dos 730 delegados ao Congresso da CGTP. Porque, sublinhou o secretário-geral, “um dirigente sindical é um homem ou uma mulher, não têm só momentos felizes, às vezes também têm momentos problemáticos. É justo destacar que muitos de nós suportaram, avançaram e sobretudo estiveram na luta e vão continuar porque têm na sua família companheiros e familiares que os apoiam, dão ânimo e confiança e que nos levam a continuar esta luta que é de todos para todos”.
Para as famílias, em que por vezes há vários sindicalistas, seguiu um abraço de solidariedade: “não se veem, mas elas são determinantes para o que vocês fazem”.
Ficou ainda o compromisso de que a luta vai continuar com determinação. “Independentemente dos dirigentes que saem, dos dirigentes que continuam e dos que assumem agora novas responsabilidades”.
Neste XIV Congresso da CGTP será feita uma das maiores renovações de sempre. Mais de um terço dos membros do conselho nacional e da comissão executiva cedem lugar a outros dirigentes e assiste-se, igualmente, a um rejuvenescimento.
Nos últimos quatro anos, a CGTP conseguiu quase 115 mil novos sindicalizados, anunciou Arménio Carlos a poucas horas de ceder o lugar à primeira mulher a assumir o cargo: Isabel Camarinha.
Mas fica por saber, para já, qual é o saldo no ano em que a central completa 50 anos. E se os sindicatos da INTER têm mais ou menos sindicalizados do que em 2016.