22 jan, 2020 - 16:56 • Filipe d'Avillez com Reuters
O Iraque prepara-se para o que promete ser uma sexta-feira tensa e potencialmente violenta.
Os vários movimentos xiitas, próximos do Irão, convocaram uma manifestação de um milhão de pessoas em Bagdad para protestar contra a presença americana no país e tudo indica que a marcha conduza à embaixada, que na passagem de ano já tinha sido sitiada por xiitas em protesto.
Mas a marcha tem também o objetivo de responder aos protestos populares que têm levado centenas de milhares de iraquianos para as ruas, exigindo a demissão de um governo que consideram ser demasiado próximo do Irão.
A população iraquiana é composta na maioria, cerca de 60%, por xiitas. Durante o regime de Saddam Hussein o aparelho do Estado era controlado por sunitas e os xiitas eram marginalizados e oprimidos, mas depois da invasão americana em 2003 a situação inverteu-se.
A subida ao poder dos xiitas aproximou o Iraque do Irão, inimigo dos Estados Unidos, e o país persa tem mobilizado as milícias que apoia no Iraque contra as tropas americanas. Foi em resposta a estas atividades que Donald Trump autorizou o assassinato de Qassem Soleimani, a figura de Estado iraniana que coordenava todas estas milícias e ataques.
Paradoxalmente a morte de Soleimani pode ter fortalecido a influência iraniana no Iraque, que estava a ser posta em causa pelas manifestações populares. “O assassinato foi uma bolsa de oxigénio para os agentes e classe política pró-iranianos”, argumenta o analista Fanar Haddad, do Instituto do Médio Oriente da Universidade Nacional da Singapura, citado pela Reuters.
“Criou uma contra-causa e uma contra-crise que pôs os manifestantes em segundo plano, por pouco tempo”, acrescenta.
Até agora as manifestações contra o Governo não têm assumido contornos sectários, os jovens nas ruas gritam acima de tudo por melhores oportunidades de emprego e contra a estagnação económica. Mas os manifestantes temem que um eventual choque com os seguidores dos líderes xiitas reacenda o conflito sectário que matou dezenas de milhares de pessoas nos anos que se seguiram à invasão americana.