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Bastonária dos enfermeiros

"Porque é que os hospitais têm de pagar policiamento? Não somos todos Estado?"

08 jan, 2020 - 16:19 • Marta Grosso , Pedro Filipe Silva , Celso Paiva Sol

Uma enfermeira foi agredida no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. É o mais recente caso de violência contra os profissionais de saúde. Bastonária pede medidas concretas.

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A bastonária da Ordem dos Enfermeiros pede mais ação do Estado para reagir ao aumento de casos de violência contra profissionais de saúde nos hospitais.

“Da mesma forma que teve de se encarar o problema da violência doméstica, e muito bem, em termos de penas, de uma determinada forma, aqui tem de ser encarado da mesma forma. Não chega criar um gabinete de segurança na dependência direta da senhora ministra”, afirma Ana Rita Cavaco à Renascença.

No entender da representante dos enfermeiros, esta decisão saída da reunião entre os ministros da Administração Interna e da Saúde “não vai resolver problema algum do dia a dia dos enfermeiros”.

“Muitos hospitais queixam-se que não têm dinheiro para pagar policiamento. Mas por que é que os hospitais têm de pagar policiamento? Não somos todos Estado? Não há possibilidade de garantir que esse policiamento seja independente de um pagamento por parte dos hospitais?”, questiona a bastonária.

O mais recente caso de violência aconteceu contra uma enfermeira, na madrugada desta quarta-feira, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

“Ela estava a fazer o seu serviço numa das muitas áreas que o serviço de urgência tem, precisou de se deslocar para dar uma medicação àquela utente e aquela utente entendeu que a senhora enfermeira teria demorado mais tempo do que ela gostaria e, quando ela chega com a medicação, agrediu-a com uma estalada, puxou-lhe os cabelos e de seguida vem o marido dar-lhe socos e os filhos”, descreve.

“Nada justifica isto”, sublinha a bastonária, questionando a reação das autoridades no local.

“A agressão foi presenciada por um agente da autoridade que estava a acompanhar um outro doente na urgência e as pessoas puderam permanecer no local como se nada fosse. Não foram detidos, não lhes aconteceu nada e os acompanhantes puderam continuar lá, parece que numa atitude até de permissão”, critica.

Caso enviado para o Ministério Público

Do lado da PSP, a descrição é diferente. Num comunicado emitido nesta quarta-feira, a Polícia de Segurança Pública de Lisboa refere que os polícias de serviço na altura, no Hospital de Santa Maria, não presenciaram os factos, tendo apenas tomado conta da ocorrência e identificado os envolvidos.

Os agentes foram chamados pela enfermeira coordenadora das Urgências para um caso de agressões mútuas num dos gabinetes de atendimento, refere a nota, adiantando que o caso foi enviado para o Ministério Público.

Segundo a PSP, tudo aconteceu por volta das 2h00 e a enfermeira envolvida teve que receber tratamento nas Urgências.

Hospital garante apoio a enfermeira agredida

A administração do Centro Hospitalar de Lisboa Norte (CHLN) condena de forma veemente as agressões desta madrugada a uma enfermeira do Hospital de Santa Maria, a quem garante todo o apoio clínico e jurídico que precisar.

Em comunicado, o CHLN diz que a enfermeira foi agredida por uma doente e o seu acompanhante, cuja identificação foi entretanto comunicada às autoridades policiais.

A mesma nota lembra que a segurança nas Urgências do Santa Maria é prestada por polícias que ali se encontram e por outros profissionais de segurança do próprio hospital.

Na sequência deste caso, a administração diz estar a analisar eventuais melhorias ao esquema de segurança.

Comentários
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  • Cidadao
    09 jan, 2020 Lisboa 09:52
    Se os cidadãos não podem andar armados porque "a proteção dos cidadãos cabe ao Estado", então o Estado que cumpra as suas funções pois é muito bem pago em impostos, para que isso aconteça. O Estado não pode? Então tem de rever toda a política de proteção das pessoas, incluindo facilitar a aquisição e uso e porte de armamento de defesa pessoal mesmo que seja não letal. Isso era transformar isto no Faroeste. Então voltamos ao principio:necessita-se de alteração legislativa para agressores cumprirem efetivamente prisão, mais policiamento, mais vigilância e menos criação de instituições inúteis a (re)fazer o que já se faz, e que servem apenas para jobs for the boys

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