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Liga dos Campeões

​Só há dois tipos de treinadores, segundo Ancelotti: os que não fazem nada e os que estragam

30 abr, 2024 - 10:35 • Hugo Tavares da Silva

Foi mais uma aula de Carletto na véspera do Bayern-Real, para a primeira mão da semifinal da Liga dos Campeões.

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Era fácil imaginar Carlo Ancelotti a dizer tal coisa num café central qualquer de um qualquer país com cafés centrais, esse património nacional almejante de estatuto da UNESCO. As palavras escaparam-lhe da boca na véspera do Bayern-Real Madrid, para a primeira mão da meia-final da Liga dos Campeões (esta terça-feira, 20h00), a 11.ª para Carletto.

“Há dois tipos de treinadores: os que não fazem nada e os que fazem muito dano”, disse o italiano na conferência de imprensa. “Espero estar sempre entre os primeiros e não fazer nada, que façam os jogadores. O jogo é dos jogadores e tu podes dizer-lhes uma determinada estratégia, convencê-los, mas logo decidem a qualidade e o compromisso deles.”

Há muitos treinadores que dizem isso, que o jogo é dos jogadores, mas, havendo tantas regras e futebolistas presos a lugares, a declaração roça a balela. OK, haver ordem é uma coisa. Haver uma harmonia e ideia coletivas, tudo certo. É inegável o valor e a influência que os bons treinadores têm nos nossos dias e por isso talvez tenham mais protagonismo do que quase todos os jogadores. Mas alguns críticos vislumbram que o futebol caminhou completamente para o oposto do que é arrojado, com muitos passes e passinhos, equipas encaixadas, certezas e poucas dúvidas, perfeições e sem desperdícios, ei chutar de longe?!, então mas ficamos sem a bola e tal…

“Estamos a abusar, por exemplo, dos treinos a um e dois toques”, denunciou Jorge Valdano, numa entrevista à Renascença, em que se falou de liberdade por ocasião dos 50 anos do 25 de Abril. “Jogar a dois toques é dizer aos miúdos para não jogarem. Estás a dar-lhes um forte condicionamento. A história do futebol fala-nos disto. O Maradona era todo rua. O Messi era metade rua, metade academia, porque chegou aqui com 12, 13 anos e o resultado é insuperável. Os que vêm agora, que podem ser Mbappé ou Haaland, já são produtos académicos. À primeira vista nota-se que esse futebolista não só passou pela academia, como passou também pelo ginásio.”

Carlo Ancelotti é dos que podem dizer aquela frase com autoridade. “Há dois tipos de treinadores: os que não fazem nada e os que fazem muito dano.” Ele tem vencido no futebol europeu como ninguém e fá-lo com aparente respeito pela essência do futebolista. Como o seu estilo de jogo não é padronizado, como parece que pertence realmente aos jogadores, há quem diga que ele faz pouco ou “nada”, talvez daí esta reflexão na véspera do jogo com o Bayern Munique, um clube que também treinou.

“O treinador tem de fazer entender o que é o trabalho em equipa, porque qualidade já têm eles”, sentenciou este senhor nascido em Reggiolo há 64 anos. Este homem, que celebra triunfos enormes com charutos à Lippi, respondeu ainda a Bernardo Silva, que rotulou este Real Madrid de “equipa estranha”.

“Não somos estranhos, somos uma equipa que tem em conta o peso da camisola nesta competição”, explicou. “Não tenho nada que responder a Bernardo Silva. No ano passado, passaram eles e bem, este ano fomos nós. Isto é futebol.”

Simplifica tudo este senhor a quem Roberto Baggio mudou a visão. Lá atrás, no início de carreira, este sucessor de Arrigo Sacchi rejeitou o mago do rabo de cavalo porque não encaixava no sistema de jogo idealizado. Imaginem, recusar Baggio e não mudar o mundo e o outro só para ele encaixar… Mas esse erro, que admitiu anos mais tarde, mudou a forma como encara o jogo. Os jogadores falam mais alto do que ideias com morada fiscal no pensamento estático.

Esta noite há Bayern-Real, às 20h00, na Allianz Arena. Os madridistas procuram a final para atacar a 15.ª ‘orelhuda’. Já os de Munique, que continuam meio à deriva, sem um treinador para a próxima época, mantêm o registo grandioso neste torneio e tentam também eles mais um desfecho triunfal numa prova que também é muito especial para eles. E Harry Kane quer quebrar uma certa maldição…

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