09 set, 2019 - 09:50 • Aura Miguel , Filipe d'Avillez
O Papa Francisco diz que a falta de pessoas a querer viver nos caminhos da santidade é mais preocupante do que a falta de vocações à vida religiosa.
Francisco celebrou missa com cerca de 100 mil pessoas, esta segunda-feira, nas Ilhas Maurícias, um país com uma forte indústria turística e onde a qualidade de vida contrasta totalmente com a de Madagáscar, de onde veio e para onde regressa ao final do dia.
Mas o conforto material de que beneficiam os habitantes das Maurícias tem também lados sombrios, incluindo um alto índice de desemprego entre os jovens.
“Custa constatar como, apesar do crescimento económico que registou o vosso país nas últimas décadas, sejam os jovens quem mais sofre: são eles os mais afetados pelo desemprego, o que lhes causa um futuro incerto e tira-lhes também a possibilidade de se sentirem protagonistas da sua própria história comum. Um futuro incerto, que os descarta e obriga a conceber a sua vida à margem da sociedade, deixando-os vulneráveis e quase sem pontos de referência perante as novas formas de escravidão deste século XXI. Eles, os nossos jovens, são a nossa primeira missão!”, disse Francisco.
“Não deixemos que nos roubem o rosto jovem da Igreja e da sociedade! Não permitamos aos mercadores de morte roubar as primícias desta terra”, pediu.
O Papa explicou ainda que o conforto material pode também levar a um ambiente social em que a vivência das bem-aventuranças passa a ser alvo de ridicularização, o que depois leva a uma diminuição da prática religiosa e quebra de vocações religiosas. Contudo, insistiu Francisco, a chamada crise das vocações não é a dimensão mais grave do problema.
“Quando ouvimos o prognóstico ameaçador ‘somos cada vez menos’, deveríamos preocupar-nos em primeiro lugar, não com o declínio desta ou daquela forma de consagração na Igreja, mas com a carência de homens e mulheres que queiram viver a felicidade pelos caminhos da santidade, homens e mulheres que deixem o coração inflamar-se com o anúncio mais belo e libertador”, diz Francisco.
Durante a sua homilia o Papa referiu-se várias vezes ao beato Jacques-Desiré Laval, conhecido como o “apóstolo da unidade mauriciana” pelo trabalho que levou a cabo entre as comunidades de escravos recém-libertados naquelas ilhas.
100 mil árvores
No final da missa o arcebispo de Port Louis, o cardeal Maurice Piat, anunciou que como gesto para assinalar esta visita do Papa, e em linha com a sua preocupação ecológica, serão plantadas 100 mil árvores na ilha. A iniciativa é da Comissão Justiça e Paz das Maurícias.
As Ilhas Maurícias são o terceiro país visitado pelo Papa durante esta viagem apostólica a África, depois de Moçambique e do Madagáscar. Ao todo Francisco não chega a passar um dia inteiro nas Maurícias, tendo chegado de manhã e partindo ao fim da tarde de volta para o Madagáscar.
Terminada a missa, Francisco almoça com os membros da Conferência Episcopal do Oceano Índico e visita um santuário dedicado ao beato Jacques-Desiré Laval. Seguem-se três encontros, primeiro com o Presidente, com o Primeiro-ministro e, por fim, com os representantes do Governo, os líderes da sociedade civil e os membros do corpo diplomático, durante o qual Francisco fará o seu segundo discurso em terras maurícias.
Apesar de voltar para o Madagáscar, não estão previstos mais eventos naquele país. Francisco parte na manhã de terça-feira para Roma, onde chega por volta das 18h00.
[Notícia atualizada às 10h51]