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O caso da princesa Haya e a batalha jurídica real que ameaça os laços Reino Unido-Emirados

30 jul, 2019 - 17:39 • Filipe d'Avillez

Uma princesa fugitiva, um príncipe poeta e alegações de tortura. O caso envolve marido e mulher, mas pode pôr em causa as relações diplomáticas entre Estados.

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Uma batalha jurídica entre marido e mulher, em Londres, ameaça pôr em causa as relações diplomáticas entre o Reino Unido e dois dos seus mais importantes aliados no Médio Oriente.

O caso envolve o Sheikh Mohammed bin Rashid, líder do Dubai e número dois dos Emirados Árabes Unidos, e a sua (sexta) mulher, a princesa Haya, que esta terça-feira apareceu pela primeira vez em público desde que fugiu para Londres, onde foi hoje ouvida no Tribunal Real de Justiça do Reino Unido.

Embora as informações sejam escassas, em causa deverá estar a custódia dos filhos do casal, mas as implicações poderão ser muitas e muito graves até para o Reino Unido.

Quem é a princesa Haya?

Filha do antigo Rei Hussein da Jordânia, e meia-irmã do atual Rei Abdullah do mesmo país, Haya foi atleta olímpica de equitação nos Jogos Olímpicos de 2000, vindo mais tarde a casar com o Sheikh do Dubai, tornando-se a sua sexta mulher.

Haya foi educada em colégios internos no Reino Unido e visitava frequentemente o país com o seu marido, em particular para assistir a eventos equestres.

O casal tem dois filhos que estarão alegadamente com a mãe desde que esta procurou refúgio em Londres. O processo em tribunal poderá ter a ver precisamente com a custódia dos filhos, estando Haya a pedir que lhes seja garantido asilo ao abrigo da Lei de Proteção Civil contra Casamentos Forçados, que entrou em vigor no Reino Unido em 2007.

Porque é que fugiu para Londres?

É aqui que o caso ganha contornos de policial. Há duas versões que justificam a fuga.

A mais emocionante é a que envolve a princesa Latifa, filha do Sheikh por outra das suas mulheres, que em fevereiro de 2018 fugiu do país, de barco, depois de ter aparecido num vídeo a admitir que era torturada e alvo de abusos no seu país há anos.

A fuga acabou mal para Latifa quando um comando das forças armadas dos Emirados tomou de assalto o barco em que se encontrava, ao largo da Índia, devolvendo-a ao Estado árabe.

No seguimento da sua devolução, e perante o interesse dos media, a princesa Haya apareceu em público com Latifa, garantindo que ela estava segura no Dubai.

Contudo, segundo esta versão dos acontecimentos, Haya terá ficado com dúvidas sobre o caso e depois de investigar mais a fundo terá descoberto detalhes que a levaram a temer pela sua própria segurança e a dos seus filhos, acabando assim por planear a sua própria fuga para o Reino Unido.

Uma segunda versão avançada por alguns jornais britânicos alega que a princesa fugiu depois de o seu marido ter começado a desconfiar da proximidade da mulher a um guarda-costas britânico.

Depois da sua fuga, o Sheikh, que é conhecido pela poesia que escreve, publicou um poema numa página do Instagram em que fala de traição, o que foi largamente entendido como sendo em referência à sua sexta e atual mulher, a foragida princesa Haya.

Que implicações é que o processo pode ter?

Caso se confirme que Haya vai pedir custódia a custódia dos seus dois filhos e asilo para os três no Reino Unido, o caso em tribunal poderá ter graves implicações para as relações diplomáticas entre o Reino Unido e os Emirados Árabes Unidos e até mesmo com a Jordânia, dois aliados importantes dos britânicos no Médio Oriente.

Em tribunal é certo que Haya entrará em detalhes sobre a vida na corte no Dubai e sobre as ameaças de que se sente alvo. Poderá também falar sobre o caso da princesa Latifa.

Os tribunais britânicos têm por hábito não entregar pessoas aos Emirados, mas neste caso em particular isso poderá ser interpretado como uma afronta ao país e também uma confirmação tácita de que não respeita os direitos humanos dos seus cidadãos.

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