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Apoios à cultura. Orquestra de Câmara e Jovem Orquestra Portuguesa com os dias contados

02 abr, 2018 - 18:19 • Maria João Costa

“Estamos encurralados, não há hipótese de não encerrar”, diz o maestro Pedro Carneiro. Continua a polémica em relação aos resultados provisórios do programa de apoio às artes.

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A Orquestra de Câmara Portuguesa (OCP) e a Jovem Orquestra Portuguesa (JOP), que depende daquela, vão encerrar, caso o Governo não encontre forma de as apoiar.

A conclusão é do maestro Pedro Carneiro, que em declarações à Renascença diz que “não há hipótese de não encerrar”.

A Orquestra de Câmara Portuguesa foi fundada por Pedro Carneiro, Teresa Simas, José Augusto Carneiro e Alexandre Dias, em julho de 2007. A direção artística da OCP é assegurada por Pedro Carneiro, que lidera a mais recente e virtuosa geração de instrumentistas de Portugal, desde a estreia na abertura da temporada do CCB, no dia 13 de Setembro 2007.

O Centro Cultural de Belém acolheu a OCP, primeiro como Orquestra Associada, e desde 2008 como Orquestra em Residência.

Se nada mudar até lá, o último concerto da JOP já tem mesmo data marcada. “Estamos encurralados, não há grandes hipóteses senão encerrar a nossa atividade. Já cancelámos a digressão internacional a Macau e à China e caso a situação não se altere, o último concerto da JOP será tocado nos Dias da Música no dia 21 de abril e a Orquestra da Câmara aos poucos vai ser desmantelada”, diz.

O maestro que classifica como “serviço público” a atividade da Jovem orquestra portuguesa lembra que é a única orquestra a representar Portugal na Federação Europeia de orquestras Nacionais de Jovens. A Pedro Carneiro resta ter esperança que o ministro da Cultura, "que tem mostrado tanto interesse neste nosso projeto”, decida transformar esse interesse em apoio financeiro.

Entretanto foi colocada a circular uma carta aberta escrita pelos músicos da JOP onde pedem ajuda e lançam um "grito de socorro". Foi mesmo criado um hashtag #SAVEJOP.

PCP e PSD falam de “fracasso”

Continua assim a polémica em volta dos resultados provisórios do programa de apoio às artes. O PCP convocou esta segunda-feira, com carácter de urgência, o ministro da Cultura. Os comunistas querem que Castro Mendes vá ao Parlamento dar explicações sobre os subsídios ás artes.

Também o PSD já veio dizer que estes resultados provisórios dos concursos de apoio sustentado para 2018-2021 são “mais um episódio de fracasso da política cultural do Governo”. Os social-democratas consideram que “já nem vale a pena chamar o ministro ao parlamento, por não responder a nada”.

Para sexta-feira está marcada também uma concentração frente ao Teatro Nacional D. Maria II em Lisboa convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos e já esta segunda-feira “A Plateia” - a Associação de profissionais das Artes Cénicas exigiu uma revisão independente das apreciações feitas pelo júri dos concursos.

Há muito que os subsídios às artes são contestados. O atual Ministério da Cultura anunciou mudanças para este ano, que conhecem agora o seu resultado. Depois de atrasos no lançamento dos concursos, com as novas regras propostas para os apoios às artes, na sexta-feira foram conhecidos os resultados provisórios dos concursos na área do teatro.

Protestos em vários palcos

O coro de contestação rapidamente começou. Das 89 candidaturas avaliadas na área do teatro, apenas 50 vão receber apoio, segundo os dados provisórios divulgados pela agência Lusa. De fora ficaram companhias e festivais que tiveram apoios no passado.

Sem subsídio plurianual ficaram por exemplo companhias como a Seiva Trupe, o Teatro Experimental do Porto, o Festival Internacional de Marionetas e o FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica.

Terça-feira o autarca do Porto, Rui Moreira reúne-se no Teatro Rivoli com as estruturas culturais da cidade que se sentem lesadas pelos resultados do Programa de Apoio da Direção-geral das Artes.

Mais a sul, também sem apoio, ficou o Teatro Experimental de Cascais. Carlos Avilez, o diretor do TEC já pediu uma reunião de urgência com o primeiro-ministro. A companhia com 52 anos de história foi agraciada há dias, no Dia Mundial do Teatro, pelo Presidente da Republica com o grau de membro honorário da Ordem de Mérito pela atividade de mais de meio século e a autarquia de Cascais que apoia a companhia com 150 mil euros já pediu ao Governo para rever a situação.

Também em Évora o autarca já se mostrou indignado pela exclusão das companhias de teatro da cidade do apoio às artes. O CENDREV – o Centro Dramático de Évora, a única companhia profissional de Évora já veio dizer que terá de fechar as portas.

No ramo da música os números não são muito mais animadores. Das 47 candidaturas, apenas 29 receberam apoio para o período entre 2018 e 2021 e para além dos já referidos Orquestra de Câmara e JOP, ficaram a Banda Sinfónica Portuguesa do Porto, a Casa Bernardo Sassetti de Lisboa, a Academia de Música de Lagos e a orquestra Clássica do Centro sediada em Coimbra.

Marcelo vai ouvir e falar

O Presidente da República afirmou esta segunda-feira que vai falar com alguns autarcas e que aguarda dados sobre os apoios plurianuais ao teatro e prometeu pronunciar-se depois sobre este assunto.

Interrogado se ainda não falou com o Governo sobre esta matéria, Marcelo Rebelo de Sousa não respondeu diretamente à questão, mas ressalvou que só irá pronunciar-se publicamente, "claro, depois de falar com o senhor primeiro-ministro".

O chefe de Estado foi questionado sobre a contestação ao Programa de Apoio Sustentado da Direção-Geral das Artes para o período 2018-2021 no final de uma iniciativa no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, e respondeu: "Penso que estão a falar do apoio ao teatro. Eu devo dizer que durante o fim de semana vi noticiada essa questão. Não tenho dados ainda".

"Irei falar com alguns autarcas, irei receber os dados relativamente àquelas companhias que foram apoiadas, aqueles teatros que foram apoiados, e às companhias e teatros que não puderam ser neste programa. E, quando tiver os elementos na minha mão, aí pronunciar-me-ei", acrescentou.

Os resultados provisórios dos concursos ao Programa de Apoio Sustentado 2018-2021 da Direção-Geral das Artes, conhecidos na sexta-feira, têm suscitado protestos de companhias e criadores.

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