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25 anos de carreira de Rodrigo Leão: “Há uma melancolia que marca o meu trabalho”

06 jan, 2018 - 12:04 • Maria João Costa

Em 2018, Rodrigo Leão promete novo disco. O músico, que há 25 anos se lançou numa carreira a solo, recebeu a Renascença em casa no seu estúdio com vista para o Tejo.

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Da janela vê-se o Tejo. É com esta “vista fantástica para o rio que nascem as ideias”, diz-nos Rodrigo Leão, o músico que nos recebe em sua casa, num pequeno quarto que serve de estúdio para as suas criações. A comemorar 25 anos de carreira a solo, o cofundador dos Sétima Legião e dos Madredeus descreve o que precisa para fazer música: "Um computador, um sintetizador que tem sons de piano, violino, violoncelos; uma mesa de som, duas colunas e uns auscultadores”. “É o suficiente!”, afirma Rodrigo Leão, que prepara novo disco para 2018.

Há seis meses que está a trabalhar em novos temas e irá ao longo deste ano tocá-los no espectáculo a que chamou provisoriamente “O Ensaio”, onde irá apresentar-se com “uma formação de cinco músicos” e que “será todo instrumental”, explica Rodrigo Leão.

O novo álbum será uma das formas de comemorar os 25 anos de carreira a solo. As outras serão em palco numa série de concertos, afirma o compositor. “Vamos ter este ano a oportunidade de fazer os últimos concertos do projecto com o Scott Matthew que começou há um ano e pouco. Vamos fazer em Março os dois últimos concertos em salas, no Centro Cultural de Belém [em Lisboa] e na Casa da Música, no Porto, e alguns na Bélgica”. indica Rodrigo Leão.

O músico destaca ainda para 2018 “o concerto da comemoração dos 25 anos que tem uma formação maior” e onde vai ter “pela primeira vez a Ana Vieira e a Selma Uamusse a cantarem juntas”. Na intenção de Rodrigo Leão está a vontade de tocarem “temas desde o primeiro álbum até ao último”.

A carreira a solo, que começou em 1993 com o álbum “Ave Mundi Luminar”, é também contada através de uma exposição no Espaço Atmosfera M em Lisboa onde até sábado poderá ver “fotografias, capas e até desenhos muito simples” feitos por Rodrigo Leão.

As músicas que ficam para trás

Rodrigo Leão diz que os 25 anos “passaram a correr”, mas fica com a sensação de que conseguiu concretizar ideias “com a ajuda de muitos músicos e amigos”. Mas no processo criativo “há muitas coisas que ficam para trás e que não prestam para nada”, sublinha o compositor.

“Há muitas ideias em que estou horas e horas a trabalhar e depois, no dia seguinte, penso: porque perdi tanto tempo?”, admite Rodrigo Leão, que, nesta entrevista ao programa Ensaio Geral da Renascença, explica que é “um músico autodidacta”. “Não sei escrever música”, confessa Leão. “Através do computador, imprimo as ideias que tenho para os instrumentos com que quero fazer música, mas, se calhar, se soubesse música seria mais rápido, mas talvez não fizesse esta música simples que acho que faz parte do meu universo”, explica.

No processo criativo de Rodrigo Leão, há momentos de isolamento no estúdio onde nos recebeu para esta entrevista. Conta-nos que: “Há uma parte em que estou sozinho, que pode demorar seis meses, um ano ou dois anos, mas depois há uma altura em que acho que tenho algum material que dá para começar a gravar ideias em estúdio, a discutir as colaborações que podemos ter e esses amigos e produtores que trabalham comigo são importantes”. É com esses “cúmplices” que já criou várias sonoridades.

O estilo melancólico

Se esta entrevista tivesse uma banda sonora poderia ser um dos dois temas que Rodrigo Leão diz serem canções de uma vida. De fundo poderíamos estar a ouvir a canção “Ave Mundi” do seu primeiro disco, cantada em latim, ou o tema “Alma Mater”, do disco lançado em 2000 e onde conta com as colaborações de Adriana Calcanhotto e Lula Pena.

As colaborações que foi tendo ao longo dos 25 anos de carreira a solo são também definidoras da sua música. Rodrigo Leão fala do seu estilo e perguntamos-lhe qual é. “Penso que tenho um estilo que tem muitas influências que vão da música clássica, à música pop, à música popular brasileira, francesa, à própria música portuguesa.” Talvez por isso seja tão importante para si “poder trabalhar com músicos de áreas muito diferentes como o Daniel Melingo, cantor argentino ligado ao tango, ou Adriana Calcanhotto, Rosa Passos, Beth Gibbons - tudo pessoas de áreas muito diferentes que acrescentaram muito” à sua música diz-nos Rodrigo Leão.

Mas e o estilo? Há uma palavra para o definir? Rodrigo Leão diz: “É evidente que há uma melancolia que não transmite necessariamente tristeza. É uma melancolia que acho muito portuguesa, presente na poesia ou na comida. Em Portugal, as viagens que faço acabam por fazer parte do meu universo e da inspiração para fazer música. Apesar de ser muito intuitiva a forma como eu trabalho, tudo o que me rodeia acaba por me influenciar. É claro que tenho músicas mais alegres, mas há uma melancolia que marca muito o meu trabalho.”

Sempre com uma “vontade muito grande de procurar harmonias e melodias”, o músico admite, contudo, que vai fazendo o seu “trabalho sem grandes preocupações”. A tecnologia foi uma ajuda importante para um músico autodidacta. “Foi um fascínio. A primeira vez que trabalhei com o computador com ajuda do Paulo Abelho, estava a fazer a música para um filme do Manuel Mozos e isso deu-me uma vontade ainda maior de compor porque até aí compunha com uma guitarra ou um sintetizador.”

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