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José Eduardo Agualusa lança “romance político” sobre Angola

02 jun, 2017 - 16:19 • Maria João Costa

"É um romance de ficção pura", conta o escritor angolano em entrevista à Renascença. "Mas é um livro que tem um pé em Angola, que surgiu da minha preocupação com a situação em Angola, com a prisão dos jovens activistas", adianta.

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“A sociedade dos sonhadores involuntários” é o novo livro de José Eduardo Agualusa, que é lançado esta sexta-feira.

Trata-se, nas palavras do escritor angolano, de um “romance político” que surgiu da sua preocupação com a situação política em Angola.

A prisão de activistas como Luaty Beirão inspirou esta obra que surge num “período de grande inquietação” em Angola, porque o regime de José Eduardo dos Santos “não preparou uma transição”.

Entrevista à Renascença para ouvir no Ensaio Geral, depois das 23h00 desta sexta-feira.

Este é um livro de personagens que em comum têm o facto de sonharem...

É um livro sobre personagens que se encontram por acaso e descobrem que têm relações não muito convencionais com os sonhos. Não quero adiantar muito porque senão estrago o enredo do livro.

“Lutar contra um sonho é como lutar contra a correnteza de um rio” escreve a certa altura no livro. Este é um livro sobre quem sonha uma Angola diferente?

Exactamente. É um livro que tem a ver com esse sonho maior, essa outra forma de sonhar que é almejar. É um romance político, da mesma família do “Vendedor de Passados”, da “Teoria Geral do Esquecimento”. É um romance de ficção pura, não tem um pé na realidade que tinha “A Rainha Ginga”, porque acompanhava o percurso de uma figura real. Mas é um livro que tem um pé em Angola, que surgiu da minha preocupação com a situação em Angola, com a prisão dos jovens activistas - dos “quinze mais duas” - que acompanhei de perto e me impressionou muito.

Há uma semelhança entre a prisão de Luaty Beirão, a greve de fome e a filha de uma das personagens, o Daniel Benchimol. Ela também é presa e faz greve de fome...

Sim, não é por acaso. O livro começou a ser escrito já há seis anos. Recuperei a primeira frase. Começou movido por esse deslumbramento com o que estava a acontecer no norte de África, com a Primavera Árabe, que teve uma repercussão directa em Angola. O Luaty surge na sequência da Primavera Árabe, com uma intervenção num concerto onde estava um dos filhos de José Eduardo dos Santos, ao qual ele se dirigiu enviando um recado ao pai. Aquilo impressionou-me logo ali. Revelou ao país uma juventude muito actuante, cheia de vida, força e esperança.

"Passamos muitas horas a sonhar", escreve neste livro. O sonho é um motor de um desejo de futuro diferente?

Este livro também surge de uma conversa que tive com um neurocientista brasileiro, a quem dedico o livro, o Siddarta Ribeiro. Ele trabalha com sonhos e sempre chamava a atenção para a utilidade prática do sonho. Os sonhos preparam-nos para a realidade. Servem para organizar as nossas reacções.

Um dos personagens, o Daniel Benchimol, um jornalista, diz a certa altura: “Criticar os erros do Governo não era o mesmo que destratar Angola e os angolanos. Pelo contrário, eu criticava os erros do Governo porque sonhava com um país melhor.” É importante o papel da imprensa em Angola?

Esse jornalista vem da “Teoria Geral do Esquecimento”. Essa crítica que ele sofre também eu enfrentei, quando fui jornalista. É também contra qualquer pessoa que faça ouvir a sua voz. Por mais que se diga, não é falar mal do país, é falar mal do regime, é criticar o partido que está no poder. Não é criticar o todo. É aquela critica do traidor à pátria: "Vocês estão a dar mau nome ao país.”

Este livro surge no contexto das eleições presidências, da saída de José Eduardo dos Santos, da sua doença. É um tempo de fim de regime?

A sensação que tenho é a de que estamos num fim de tempo, num período de transição. Não sabemos o que vai acontecer. O presidente sairá, certamente, mas o que vem a seguir nenhum de nós saberá bem o que será, porque, na verdade, o país não foi preparado - ou este regime não preparou o país - para uma transição. Não sabemos. É um período de grande inquietação. Espero é que as forças da sociedade civil e partidos políticos da oposição consigam organizar de forma a que essa transição acontece sem sobressaltos e violência.

A mãe da Lila, uma das detidas diz: “Coragem! Precisamos aprender com os nossos filhos a fazer coragem.” Angola precisa deste “fazer coragem”?

Sim. Se há alguma coisa podemos aprender com estes jovens, é isso. Deram uma lição de coragem. Há poucos dias, o marido da Isabel dos Santos veio a público elogiar o Luaty Beirão, dizendo que ele é o exemplo da verticalidade e coragem do homem angolano. É interessante que este reconhecimento seja feito por quem está do outro lado.

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  • Alexandre
    04 jun, 2017 Lisboa 22:31
    José Eduardo Agualusa, tu és um palhaço.

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