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Eleições Europeias

Debate BE, Chega, PAN e Livre. Esquerda unida contra teoria de "portas escancaradas" nas migrações

15 mai, 2024 - 21:19 • João Pedro Quesado

Segundo debate televisivo antes das eleições para o Parlamento Europeu voltou a focar assuntos de segurança e política externa.

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As migrações abriram o segundo debate televisivo para as eleições europeias de 9 de junho, que opôs, esta quarta-feira, Catarina Martins (BE), Pedro Fidalgo Marques (PAN), António Tânger Correia (Chega) e Francisco Paupério (Livre). Como esperado, os cabeças de lista dos partidos de esquerda destoaram do discurso do Chega, e recusaram a ideia de uma "onda descontrolada" de imigração.

Tânger Correia, cabeça de lista do Chega, recusou que tenha que alterar o discurso do partido devido aos recentes casos de violência contra imigrantes. Sustentando que "precisamos de imigrantes", o Chega quer "uma imigração controlada".

Contudo, argumenta que "quando se abrem as portas de forma escancarada", entram "maus elementos". "O problema não é a origem, é quem vem sem o mínimo de escrutínio. Não somos, de todo, contra a imigração", afirma Tânger Correia, acrescentando que é "contra incidentes no Porto ou da criança nepalesa" e que Portugal não está "a cumprir os acordos de Schengen".

O candidato do Chega escolheu ainda elogiar a comunidade brasileira em Portugal, por ter melhorado "em muito" fatores do comércio português como o atendimento ao cliente.

Catarina Martins, que se candidata ao Parlamento Europeu pelo Bloco de Esquerda, acusou a extrema-direita de ser "o maior problema de segurança na União Europeia" e apontou o dedo ao elogio de Tânger Correia, que diz "separar nacionalidades entre as boas e as más".

"Desvalorizar os incidentes é um discurso da direita em toda a Europa", declarou a ex-líder do Bloco, criticando a extrema-direita que "ataca nacionalidades, mulheres, divide povos" e recusando que exista "uma onda descontrolada de imigração".

Catarina Martins declarou que as fronteiras da UE "estão fechadas" e que "o Mediterrâneo é a fronteira mais mortífera do mundo". Culpa assim a falta de regularização das "centenas de milhares de pessoas" que já vivem em Portugal, que considera serem "exploradas".

Também Francisco Paupério voltou a defender a ideia dos corredores humanitários - depois de assinalar que esta quarta-feira se recorda a Nakba, a "catástrofe" da deslocação forçada de palestinianos do território que habitavam em 1948.

O cabeça de lista do Livre sustenta que os corredores "servem para pessoas em situações de emergência", como refugiados climáticos - que diz que também vão ser portugueses -, e também negou a ideia de "portas escancaradas", sublinhado que "os imigrantes que chegam cá chegam com regras".

Pelo PAN, Pedro Fidalgo Marques optou por alertar que o novo pacto europeu sobre a política de migração e asilo coloca em causa os direitos humanos, por prever "que qualquer pessoa na Europa possa ser detida por não ter os seus documentos" - o que "pode levar a perfis racializados" e afetar "até portugueses na UE".

Picando o candidato do Livre por só o PAN ter apresentado um estatuto do refugiado climático, o cabeça de lista do partido que faz parte dos Verdes europeus - tal como o Livre - também defendeu que se deve melhorar as políticas de integração.

Já depois de Tânger Correia ter declarado que "os refugiados são pessoas como nós, mas também temos de pensar nos portugueses" e que os imigrantes em Portugal vivem pior que as pessoas nos campos de refugiados, Pedro Fidalgo Marques atacou o candidato do Chega por uma "tremenda desumanidade".

Ucrânia deve negociar a paz com Rússia?

Com a guerra na Ucrânia em foco, Francisco Paupério esclareceu que o Livre defende “que não se deve intervir a nível militar porque aumentaria o conflito”, recusando tropas portugueses e europeias no país candidato à União. Mas o partido ecologista e europeísta quer “uma política de segurança comum”.

Para o candidato do Livre, a União Europeia deve apoiar a Ucrânia incondicionalmente, quer o país opte por um cessar-fogo, quer queira continuar a combater para recuperar o território ocupado pela Rússia. Uma UE “neutra”, mas tudo “sempre com armas de defesa”.

O candidato do PAN considera que o apoio ao país invadido pelo regime de Putin tem que ser “inequívoco”, e avisa que “não podemos ser utópicos” - referindo-se ao pensamento de que tudo se vai resolver “só com negociações”.

Contudo, Pedro Fidalgo Marques, que quer desenvolver uma melhor “integração em termos militares europeus” feita de unidades de intervenção rápida, aponta que o caminho das negociações para chegar à paz não deve ser esquecido, e apoia o alargamento da UE à Geórgia e Moldávia, que vivem situações “dramáticas”.

Já Catarina Martins considera que os 27 não têm tentado negociar a paz - acusando a UE de “eurocinismo” - mas sim trilhado um “caminho de enorme cinismo” sem “estratégia autónoma para a paz”.

A ex-deputada na Assembleia da República disse ainda que Zelensky afirmou estar disposto a negociar com base numa ideia de “neutralidade” ucraniana, mas que a “UE não tentou”.

Tânger Correia defende que a Ucrânia não deve chegar à mesa das negociações “numa situação de inferioridade”, mas propõe uma “cooperação” que dê à Rússia “uma cintura de segurança feita pela própria Ucrânia”.

Questionado sobre o eventual risco de uma vitória de Donald Trump em novembro, o principal candidato do Chega ao Parlamento Europeu confessou que ainda não percebeu devido propostas “contraditórias entre si”. Isto antes de pôr na mesa uma ideia de parceria público-privada para a defesa, para os Estados “controlarem a venda e produtos que saem” da indústria de armamento.

Debate das rádios a 3 de junho

Este foi o segundo de seis debates a quatro entre os cabeças de lista das candidaturas dos partidos portugueses ao Parlamento Europeu. O próximo, na sexta-feira, põe em debate João Oliveira (PCP), Catarina Martins (BE), João Cotrim Figueiredo (IL) e Francisco Paupério (Livre), na TVI.

Depois dos seis debates há ainda um debate a oito entre os partidos com assento parlamentar, e um debate a nove com partidos sem representação parlamentar na Assembleia da República. A 3 de junho, é altura do debate das rádios, organizado pela Renascença, Antena 1, TSF e Rádio Observador, das 9h30 às 11h30, apenas com os oito partidos com assento parlamentar.

As eleições para o Parlamento Europeu acontecem a 9 de junho. Em Portugal vai ser possível exercer o direito de voto através do voto antecipado e ainda em mobilidade no dia 9.

[notícia atualizada às 2h42 de 16 de maio]

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