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Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

Novo provedor realça "graves problemas" da Santa Casa. Ministra espera gestão "rigorosa e transparente"

20 mai, 2024 - 19:40 • Susana Madureira Martins

Antiga provedora Ana Jorge diz que Paulo Alexandre Sousa, sendo "um bom gestor, há de encontrar a melhor solução para o que a ministra o encarregou".

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"Estou ciente dos graves problemas da Santa Casa". Num curto discurso de tomada de posse que durou pouco mais de dois minutos, Paulo Alexandre Sousa resumiu assim o futuro que o espera como novo provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML).

O gestor, que já passou pelo Banco Central de Investimento e pela Caixa Geral de Depósitos, não se comprometeu com nenhum objetivo, nem qualquer calendário ao assumir a liderança da provedoria da SCML.

Paulo Alexandre Sousa garante que assume o cargo com "orgulho" e "sentido de responsabilidade", agradecendo a "confiança" do Governo no seu "percurso profissional", após a polémica das últimas semanas em torno da exoneração da anterior provedora Ana Jorge, que assistiu à tomada de posse na plateia.

Numa sala das extrações da SCML completamente apinhada de funcionários da instituição, Paulo Alexandre Sousa prometeu "dedicação" aos trabalhadores e equipas da SCML, que pretende estender às "múltiplas atividades da SCML e da sua secular atuação em prol da comunidade"

O novo provedor falou ainda da SCML como uma instituição de "inestimável utilidade pública", salientando que a missão é "trazer bem estar às pessoas a começar pelos mais desprotegidos".

Na plateia estava o primeiro-ministro, Luís Montenegro, que assinou o auto de posse do novo provedor e não proferiu palavra nem antes, nem durante, nem depois da cerimónia, mas cuja presença serviu de sinal de apoio inequívoco a Paulo Alexandre Sousa.

Ministra pede "novo ciclo" de "transparência"

Num pequeno discurso cheio de recados e ajustes de contas com a anterior provedora da SCML, a ministra do Trabalho, Maria do Rosário Palma Ramalho, definiu Paulo Alexandre Sousa como uma "escolha" do Governo e que tem o "melhor perfil para enfrentar os sérios desafios" da instituição.

O novo provedor foi vice-presidente da Cruz Vermelha Portuguesa na direção do núcleo da Costa do Estoril, teve cargos na Caixa Geral de Depósitos (CGD) e no Banco Central de Investimentos (BCI).

Foi no BCI que o novo provedor esteve envolvido numa polémica, em 2019, quando o Banco Central de Moçambique aplicou uma multa e decretou a inibição de funções. Paulo Alexandre Sousa viria a impugnar a decisão do Banco de Moçambique e o tribunal acabou por decidir a seu favor dando o caso por encerrado.

A ministra do Trabalho não se referiu a este episódio no discurso de tomada de posse do novo provedor, com Maria do Rosário Palma Ramalho a falar de Paulo Alexandre Sousa como um gestor de "vasta e reconhecida experiência profissional", que tem "provas dadas" na área social.

Numa crítica implícita à anterior provedora, a ministra do Trabalho disse que a SCML "começa agora um novo ciclo na sua liderança", salientando que Paulo Alexandre Sousa "compreende a importância da gestão transparente e criteriosa", que o Governo considera necessária para "proteger a instituição e a sua missão".

Maria do Rosário Palma Ramalho refere ainda que arranca agora um "novo ciclo de longevidade na forma paradigmática como são prestados os serviços assistenciais e apoios sociais" da SCML e como "são desenvolvidas parcerias com outras e relevantes instituições do setor social e organizações do país".

Para "breve" será anunciada a composição da futura mesa da provedoria, com a ministra a esperar que os "trabalhos possam ter início o mais depressa possível". A governante definiu entretanto os desafios do novo provedor, que passam por "continuar a assegurar condições de sustentabilidade" da SCML.

Essas "condições" são consideradas "indispensáveis" pelo Governo para a "insubstituível missão" da SCML, "o que exige gestão responsável e rigorosa dos recursos humanos e financeiros", em mais um remoque da ministra à anterior provedora.

Ana Jorge admite que gostava de ter levado mandato "até ao fim"

Ana Jorge ouviu tudo a partir da plateia, onde esteve acompanhada por outros ex-membros da anterior mesa da Provedoria, como o dirigente socialista Sérgio Cintra, e no final a ex-provedora falou aos jornalistas para deixar recados a Paulo Alexandre Sousa.

Questionada sobre que conselho dá ao novo provedor, Ana Jorge diz que "sendo um bom gestor", Paulo Alexandre Sousa "há de encontrar a melhor solução para o que a ministra o encarregou".

A ex-provedora espera ainda pelo resultado do inquérito da Procuradoria Geral da República e o relatório do Tribunal de Contas para "ajudar a compreender como os negócios do Brasil decorreram".

Ana Jorge assumiu ainda que não sai da SCML com "espírito de missão cumprida", admitindo que "gostaria de levar mandato até ao fim" e "reorganizar a casa para a tornar mais eficiente".

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  • Anastácio José Marti
    21 mai, 2024 Lisboa 15:01
    Será bom que o novo Provedor nos prove ter a formação humana necessária para o desempenho do cargo e não apenas andar preocupado com as contas que outros desequilibraram, mantendo-se impunes tais decisões tomadas em nome da SCML, por quem as tomou, continuando a compensar os incompetentes e irresponsáveis como imagem de marca da Administração Pública com as nomeações por conveniência e nunca por mérito. De acordo com as informações que nos vão chegando do Banco Alimentar Contra a Fome, a pobreza alastra no país e nem as autarquias, nem as Misericórdias têm estado à altura das necessidades, motivos mais do que suficientes para que um país que subscreveu a Declaração universal dos Direitos Humanos que nunca respeitou, algo fizesse de sério, humano, responsável e construtivo para que deixemos de assistir às mortes lentas que a pobreza impõe, mas que os políticos, que nos sabem pedir o voto quando dele necessitam, nada fazem, do muito que podem e devem, para evitar tais mortes e sofrimentos, como imagem de marca do que nunca souberam fazer, como seja governar o país, fazendo uma distribuição dos valores disponíveis por quem deles necessita, pois não adianta uns andarem a fazer o que podem para salvarem vidas e outros a fazerem o que não devem, como seja nada fazerem para que a miséria portuguesa seja a que é e a que será se nada continuar a ser feito para a minorar.

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