03 fev, 2025 - 10:12 • Hugo Monteiro com Lusa
A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) lembra que só uma em cada dez crianças tem acesso, em tempo útil, a este acompanhamento em fim de vida. No total dos doentes, mais de 70% continua sem acesso a este apoio clínico.
A presidente da APCP, Catarina Pazes, diz que o quadro atual do apoio clínico pediátrico em fim de vida é “aterrador”.
Em entrevista à Renascença, Catarina Pazes lembra que “em cerca de oito mil crianças, apenas 800 têm acesso a cuidados paliativos”, sendo que “toda a região do Alentejo e do Algarve não tem uma única resposta desta área”.
A responsável da APCP sublinha que “esta área de cuidados é essencial”, porque se trata de “crianças que, sem este suporte, vivem praticamente dentro dos hospitais”.
“As crianças não estão sem cuidados, obviamente, mas o que se passa é que não estão a ter os cuidados que necessitam para ter uma vida mais feliz e mais plena, junto dos seus pais e da sua família."
A APCP lembra que mais de 70% dos doentes continua sem ter acesso em tempo útil a cuidados paliativos, pelo que pede medidas urgentes ao Governo. A associação lamenta que que o quadro não se altere “há vários anos”, sem haver “sinais claros de uma priorização efetiva desta área”. Catarina Pazes refere-se a uma “situação dramática”, porque “as iniquidades são muito grandes”.
“Há lugares de Portugal que não têm qualquer resposta. Há zonas de Lisboa que estão completamente a descoberto no que respeita a uma equipa comunitária de suporte em cuidados paliativos. Há equipas que estão a trabalhar, mas que apenas dão resposta a um terço, ou um quarto, da população que abrange”, logo, “não acompanhando, de todo, o crescimento, enorme, das necessidades”.
A responsável falava dias depois de a APCP ter apresentado um conjunto de propostas à Comissão Parlamentar da Saúde, entre as quais a criação de equipas comunitárias de suporte em todas as Unidades Locais de Saúde e a facilitação da mobilidade de médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais para estas equipas.
Catarina Pazes insiste na necessidade de melhorar a articulação entre a Rede Nacional de Cuidados Continuados e a Rede Nacional de Cuidados Paliativos, cuja coordenação se encontra inativa desde o final de 2023.