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Cuidados paliativos. Dão-se pequenos passos, mas a caminhada é longa

14 out, 2017 - 11:16 • Ana Carrilho

A psicóloga Helena Salazar diz que a cobertura nacional ronda os 100%, mas que falta reforçar as equipas de apoio ao domicílio.

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Ainda há muito para fazer em Portugal na área dos Cuidados Paliativos. Mas a psicóloga clínica Helena Salazar, coordenadora do livro “Intervenção psicológica em cuidados paliativos” e membro da comissão nacional criada o ano passado, considera que nos últimos meses já se registou alguma melhoria.

“A conjugação de diversos fatores, como a criação da primeira Comissão Nacional de Cuidado Paliativos e a vontade política que tornou esta área numa prioridade na Saúde resultou num acréscimo das equipas que estão no terreno. Embora ainda estejamos longe das necessidades”, admite à Renascença.

Helena Salazar revela que há, ao nível das estruturas hospitalares, uma cobertura praticamente a 100%, mas as equipas integradas nas Unidades de Cuidados de Saúde Primários rondam apenas as três dezenas. “É o calcanhar de Aquiles essa falta de equipas para a apoio ao domicílio. A forma como é feita a contratualização nas UCSP não facilita a criação das infraestruturas necessárias a este nível.”

Psicólogos têm papel essencial

As equipas de cuidados paliativos incluem um médico, um enfermeiro, um psicólogo e um assistente social, elementos que têm que ter uma formação especial para lidar da melhor forma com situações complexas, em grande parte dos casos, de fim de vida.

O objectivo da intervenção em cuidados paliativos é melhorar a qualidade de vida dos doentes, promovendo activamente a sua dignidade, sem esquecer a família. E os psicólogos são essenciais.

“Há uma abordagem integrativa do ponto de vista da existencialidade daquela pessoa. Temos questões emocionais, psicológicas, existenciais que têm que, necessariamente, ser abordadas. Algumas são transversais à abordagem da equipa, outras – face à complexidade – precisam de um saber acrescido na área da psicologia. Senão ficaremos com uma parte fundamental daquela pessoa e daquela família que não tem resposta”, refere a psicóloga clínica.

Medo e resistência revelam negação de uma realidade

As equipas de Cuidados Paliativos actuam como um todo e as pessoas vêem-nas como um todo a funcionar em prol do bem-estar daquelas pessoas – doentes e familiares.

“A certa altura são os próprios a perceber que o nosso contributo para minimizar o sofrimento é possível e está ali”, afirma Helena Salazar, admitindo, contudo, que há resistências: “Na adesão ao processo, nomeadamente, na negação. É tentar ao máximo pensar que aquela é uma realidade que não lhe está a acontecer. Há que fazer um trabalho conjunto para que estas pessoas consigam alcançar aquilo que pretendem ainda, independentemente do tempo que têm, que tenham tempo de qualidade.”

Em relação às crianças, é necessário fazer uma abordagem especial e prioritária, sublinha Helena Salazar, que também integra o Grupo de Trabalho para os Cuidados Continuados Integrados na área Pediátrica. Trata-se de algo fundamental quando as crianças estão perante a perda de algum familiar mais próximo - como pai, mãe, avós ou irmãos -, mas também quando são os próprios doentes.

Helena Salazar defende que é necessário acrescentar outros saberes, como o desenvolvimento infantil ou a estratégia farmacológica, e entender a doença do ponto de vista de uma comunidade, onde este quadro tem mais impacto do que quando envolve um adulto, "porque a criança doente arrasta não apenas a família, mas os amigos, os colegas e professores, os vizinhos do mesmo prédio”.

Neste processo, a comunicação é fundamental: sem equívocos, transmitindo serenidade e confiança, mesmo quando é necessário dar más notícias. E no livro "Intervenção Psicológica em Cuidados Paliativos", Helena Salazar alerta que é preciso ter um domínio razoável das palavras e das expressões.

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