14 nov, 2017 - 14:08 • Filipe d'Avillez
O primeiro-ministro do Líbano anunciou esta terça-feira no Twitter que vai regressar ao país em breve.
Saad al-Hariri pediu aos libaneses que tenham calma, mas acrescentou que o resto da sua família permaneceria “no seu país, o Reino da Arábia Saudita”.
A informação bate certo com a garantia dada pelo patriarca Bechara al-Rai, líder da principal igreja cristã do Líbano, que de visita à Arábia Saudita, e depois de um encontro com o príncipe real Mohammed bin Salman, disse à televisão que o primeiro-ministro Hariri voltaria logo que possível.
Continua por resolver o mistério da demissão repentina de Hariri. O primeiro-ministro libanês leu uma declaração de demissão na televisão saudita no dia 4 de Novembro e desde então permaneceu naquele país, onde a sua família tem grandes empreendimentos e investimentos. Na altura disse temer ser assassinado, como foi o seu pai, que também ocupou o cargo de primeiro-ministro em Beirut.
Mas fontes próximas do primeiro-ministro libanês insistiram que Hariri tinha sido obrigado a tomar essa decisão pelos sauditas e que estaria a ser mantido à força em Ríade.
Segundo essa teoria, a Arábia Saudita estaria a tentar destabilizar o Líbano, como parte do seu braço de ferro regional com o Irão.
O Líbano, dividido mais ou menos em partes iguais entre cristãos, sunitas e xiitas, mantém um equilíbrio frágil entre as diferentes comunidades, procurando evitar uma guerra civil como a que destruiu o país nos anos 80. Segundo as regras políticas libanesas, o Presidente deve ser sempre um cristão maronita e o primeiro-ministro um sunita. O partido de Hariri, Movimento do Futuro, que representa a comunidade sunita, é próximo da Arábia Saudita, a grande potência sunita do Médio Oriente.
Mas o Movimento do Futuro apenas conseguiu formar Governo com o apoio do Hezbollah, um partido com uma milícia que muitos consideram mais forte que as próprias forças armadas do Líbano. O Hezbollah é xiita e próximo do Irão, a grande potência xiita do Médio Oriente. Numa entrevista concedida a partir da Arábia Saudita nos últimos dias, Hariri afirmou que apenas retirará o seu pedido de demissão caso o Hezbollah deixe de apoiar as causas iranianas militarmente, como faz abertamente na Síria e como os sauditas alegam que faz no Iémen.
A interferência saudita teria como objectivo enfraquecer a influência iraniana no Líbano, sobretudo tendo em conta os avanços de grupos xiitas pró-iranianos na Síria e no Iraque. Os dois países defrontam-se também – por procuração – no Iémen, com a Arábia Saudita a apoiar o Governo e o Irão a apoiar as milícias houthi.
Até ao momento, porém, as forças políticas do Líbano não têm dados sinais de fracturação, estando mesmo unidos na exigência de que Hariri regresse ao Líbano. O presidente, Michel Aoun, diz que não recebeu qualquer pedido de demissão formal e que Hariri ainda é primeiro-ministro do país.