17 nov, 2017 - 17:49 • Maria João Costa
“Chamo-me Pascoal Silva, tenho 51 anos e nasci num paraíso chamado São Tomé e Príncipe. Cheguei a Lisboa há 44 anos, de barco, para estar com os meus pais e o meu irmão.” Pascoal é músico, mas ganha a vida na construção civil. Esta é uma das histórias que escutamos no palco do Teatro da Trindade, na peça “Todo o Mundo é um Palco”.
A peça nasceu de um convite da então directora do teatro, Inês de Medeiros, ao colectivo artístico Arena Ensemble. A encenação é assinada pela actriz Beatriz Batarda e pelo realizador Marco Martins, com a colaboração do coreógrafo Vitor Hugo Pontes.
Batarda e Marco Martins tiveram a ideia de “trazer a rua para o palco”, tiraram o cenário, despiram o palco de onde se veem duas janelas que dão para a Rua da Misericórdia. “Para comemorar os 150 anos do teatro tínhamos que trazer o público para o palco”, explica Marco Martins.
“Esta ideia da migração para uma cidade utópica, das pessoas que vêm à procura de trabalho, de um modo de vida e da felicidade” é a grande metáfora que está neste espectáculo, indica Marco Martins, que acrescenta que “é muito bonito pensar que dec todos os intérpretes do espectáculo, apenas uma criança é nascida em Lisboa”.
“É sobre as histórias biográficas dos intérpretes”, diz Beatriz Batarda, de que se fala neste palco que é um mundo, um fresco das diversas nacionalidades que habitam Lisboa com a suas vivências e percursos. Os encenadores tiveram mesmo de recorrer a um dispositivo de tradução para que todo o texto chegue ao público sentado na plateia do Trindade.
O teatro apropria-se das histórias deste conjunto de actores amadores e junta-lhes também actores profissionais, como Miguel Borges ou Romeu Runa.
Beatriz Batarda explica que foram “buscar pessoas à rua, não necessariamente entre o público do teatro, mas entre os habitantes de Lisboa”. Com eles trabalharam vários meses e o resultado vai agora estar em palco no Teatro da Trindade até 10 de Dezembro.
O titulo para a peça “Todo o Mundo é um palco” foram pedi-lo emprestado ao pai do teatro, William Shakespeare, e à peça “As you like it”.