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Exposição

Açúcar, o doce “ouro branco” que mudou a Madeira (e gerou arte)

15 nov, 2017 - 19:19 • Maria João Costa

MNAA mostra 86 peças de pintura, escultura e ourivesaria, obras adquiridas com o dinheiro da indústria do açúcar, o chamado “Ouro Branco”.

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Terá sido o Infante D. Henrique a importar cana-de-açúcar da Sicília, em Itália, e a introduzi-la na ilha da Madeira, no século XV. A produção em larga escala permitiu transformar a economia da ilha atlântica que exportava o chamado “Ouro Branco” para portos europeus como Bruges, Antuérpia, Constantinopla ou Nápoles.

Com este doce “ouro branco”, a Madeira foi povoada por gente endinheirada, que nos séculos XV e XVI levou a cabo uma série de encomendas de obras de arte, na sua maioria de carácter religioso, que podem agora ser vistas no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa.

A antecipar o arranque do programa de Comemorações dos 600 anos do Descobrimento da Madeira e do Porto Santo, que se assinalará em 2019 de forma intensa, o Governo Regional da Madeira, em conjunto com o MNAA, apresenta a exposição "As Ilhas do Ouro Branco - Encomenda Artística na Madeira (séculos XV-XVI)". Em Lisboa, estão reunidas 86 peças provenientes do Museu de Arte Sacra da Diocese do Funchal, colecções privadas e um retábulo do espólio do MNAA.

A abrir a exposição, que junta obras de pintura, escultura e ourivesaria, está uma grande tela onde é projectado um filme que mostra a Madeira e a sua natureza em bruto, tal como terá sido encontrada pelos primeiros navegadores. É neste território que se desenvolve a produção de açúcar que veio alterar os hábitos alimentares e algumas práticas medicinais no mundo.

Com um pé na economia açucareira, eram feitas encomendas artísticas que geraram “uma economia da salvação”, explica o comissário Fernando António Baptista Pereira.

Nas palavras deste historiador de arte, as peças expostas resultavam “da oferta à igreja de obras de arte que eram compradas com os excedentes económicos para remissão dos pecados”.

Virgem com o menino. Foto: Pedro Clode

Ao longo de várias salas no MNAA, surgem muitas peças, algumas delas restauradas de propósito para esta exposição.

Segundo o outro comissário, Francisco Clode de Sousa, esta mostra revela também a história da Madeira, a ilha “onde Portugal se ensaiou fora de si próprio”. Na apresentação à imprensa, Clode de Sousa sublinhou que “a Madeira é uma espécie de balão de ensaio do que será Portugal da expansão, primeiro atlântica e depois no Índico.”

Para o director do MNAA, a história da Madeira olhada através da produção artística gerada a partir da riqueza da produção do açúcar “só poderia ser contada” no museu que dirige e que considera “uma tribuna e uma varanda do património português aberta ao mundo”.

Na exposição, o público poderá ver, segundo os comissários, "a mais importante e emblemática escultura da Madeira, com extraordinária qualidade do entalhe escultórico", uma Virgem e o Menino do século XVI, proveniente da Flandres. É, aliás, da Flandres que eram provenientes muitas das obras adquiridas e que agora podem ser vistas no MNAA, de terça a domingo das 10h00 às 18h00, e até 18 de Março de 2018.

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