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Puigdemont​ declarou independência da Catalunha, mas deixa-a em suspenso

10 out, 2017 - 18:40

Presidente da região autónoma da Catalunha quer abrir diálogo com Espanha para iniciar processo de independência.

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Catalunha. Puigdemont​ declara independência, mas deixa-a em suspenso
Catalunha. Puigdemont​ declara independência, mas deixa-a em suspenso

O presidente do governo regional da Catalunha, Carles Puigdemont, declarou esta terça-feira a independência da região, mas propôs ao Parlamento que suspenda os efeitos desta declaração com o objectivo de abrir um processo de negociações com Madrid.

"Assumo o mandato do povo para que a Catalunha se torne independente sob a forma de uma república. Proponho suspender os efeitos da declaração da independência para levar a cabo conversas para alcançar uma solução negociada", disse esta terça-feira, no Parlamento catalão.

Puigdemont não pediu ao Parlamento que votasse a declaração de independência porque isso fecharia as portas a uma negociação, mas assinou formalmente a declaração de independência, bem como a sua suspensão, por volta das 21h00, hora de Lisboa.

“A Catalunha restaura hoje a sua soberania plena. Apelamos a todos os Estados e organizações internacionais que reconheçam a República Catalã como um Estado independente e soberano. Convidamos o Governo catalão a tomar todas as medidas necessárias para tornar possível e plenamente efectiva esta declaração de independência bem como todas as medidas contidas na lei de transição que funda a república”, lê-se na declaração.

"Não somos delinquentes, não somos loucos, não somos golpistas"

O "conflito" com Madrid tornou-se "insustentável" e precisa de uma resolução, disse Puigdemont.

O líder catalão referiu que esta não é “uma decisão pessoal", mas resulta do "referendo de 1 de Outubro” que deu 90% de votos favoráveis à independência. Afirmou que a consulta popular foi alvo de “ataques policiais” a “pessoas indefesas”, algo inédito na União Europeia e cujas imagens deixaram o mundo “horrorizado”. Mais: houve detenções de altos responsáveis catalães, “escutas telefónicas” e ataques informáticos que, ainda assim, não impediram o referendo.

Para Puigdemont, o Governo central quis provocar o pânico generalizado para levar à abstenção mas, mesmo assim, mais de dois milhões de pessoas “venceram o medo e foram votar”. “Não somos delinquentes, não somos loucos, não somos golpistas, somos gente normal que pede para poder votar”, declarou.

“Apesar dos esforços para combater o referendo, quando os cidadãos chegaram aos colégios eleitorais encontraram todas as condições para votar”, defendeu.

Puigdemont diz que antes do referendo houve várias iniciativas que poderiam ter resultado num estatuto autonómico positivo para a Catalunha, algo que, afirmou, não chegou a bom porto.

“O povo da Catalunha há muitos anos que reclama liberdade para poder decidir e ainda não encontrámos interlocutores”, disse. “A última esperança é que a monarquia exerça o papel de moderador que se exige, mas o discurso do Rei, na semana passada, confirmou o pior dos cenários.”

No início do discurso, o presidente do Governo Regional da Catalunha apelou à redução da tensão entre Barcelona e Madrid. “Não temos nada contra Espanha e os espanhóis”, afirmou mais à frente. Sobre a saída de empresas da Catalunha, defendeu que estas mudanças de sede afectam mais os mercados do que a economia real catalã.

Sessão atrasou-se

A sessão estava marcada para as 17h00 (hora de Lisboa), mas foi adiada uma hora.

Segundo o “El País”, Carles Puigdemont reuniu-se com deputados independentistas. Já de acordo com fontes do governo catalão citadas pelo "La Vanguardia", o atraso foi motivado por Puigdemont estar reunido com "mediadores internacionais". Madrid terá recusado esta hipótese de mediação, avançou a AFP.

Esta sessão parlamentar tinha como ponto único na ordem de trabalhos a análise da situação política na região, na sequência do referendo pela independência de dia 1 de Outubro – que o Tribunal Constitucional espanhol considerou ilegal.

O presidente regional afirmou nos últimos dias que iria declarar a independência em breve, mas nunca disse quando. Inicialmente, os grupos parlamentares independentistas da Catalunha tinham marcado o plenário para segunda-feira, mas o Tribunal Constitucional espanhol suspendeu a sessão.

A associação pró-independência Assemblea Nacional Catalana (ANC) apelou a uma grande concentração de cidadãos perto do parlamento regional à hora do plenário. Mas esta terça-feira, a polícia encerrou o parque Ciutadella de Barcelona, junto ao edifício do Parlamento, durante todo o dia, por "motivos de segurança". A ANC comunicou, entretanto, que a concentração convocada pelo grupo de apoio à declaração de independência tinha sido transferida para o Paseo de Lluis Companys, nas imediações do Parlamento e junto ao Tribunal Superior de Justiça da Catalunha. Ali se concentrou uma multidão durante a sessão parlamentar.

Parlamento catalão rodeado pela polícia espanhola antes do discurso de Puigdemont
Parlamento catalão rodeado pela polícia espanhola antes do discurso de Puigdemont

E agora?

Mariano Rajoy já disse ao "El País" que Madrid "fará tudo o que for preciso", com "mão firme e sem complexos" para impedir a independência da Catalunha. Uma das possibilidades é activar o artigo 155.º, a “bomba atómica” da Constituição espanhola, nunca usada desde que foi escrita e aprovada em 1978.

Este artigo permite a suspensão de uma autonomia e dá ao governo central poderes para adoptar “as medidas necessárias” para repor a legalidade.

Antes da declaração desta terça-feira, o governo espanhol afirmou que Puigdemont e outros políticos catalães poderão estar a incorrer em dois delitos tipificados no código penal espanhol, sedição e rebeldia, pelo que pode ordenar as suas detenções (tal como aconteceu na Catalunha com Lluís Companys, em 1934).

Além do artigo 155.º, Rajoy também pode aplicar a Lei de Segurança Nacional ou tentar juntar apoios no Congresso dos Deputados para apoiar a declaração do Estado de Emergência ou o Estado de Sítio na Catalunha.

[Notícia actualizada às 21h17]

Como é que a Catalunha chegou até aqui?
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  • anónimo
    11 out, 2017 amarante 11:08
    Madrid não deve dar mais confiança a este GAJO. É um TRAIDOR e como tal deve ser banido de todos os lugares públicos. As conversações com este GAJO, terminaram, não passa de um ARRUACEIRO.
  • Manuel Sá
    11 out, 2017 Porto 09:38
    A minha única preocupação é: contra quem vai o poderoso Barcelona jogar, em caso de independência? Em que campeonato? Das aldeias?
  • Elsa
    11 out, 2017 Braga 07:03
    Alguns mais estupidos continuam a comparar a soberania da Catalunha com uma qualquer região portuguesa. Quando na realidade a Catalunha nunca foi espanhola, esteve sim ocupada por Espanha. Independentemente das comparacões mais idiotas que possa fazer, o direito a um povo decidir o seu destino nunca deverá ser posto em causa. Ninguem questiona a soberania da Eslovénia, Eslováquia ou Estónia, até mesmo o Kosovo já foi reconhecido internacionalmente por quase todos os paises que importam. Recentemente a Escócia fez um referendo. O Curdistão brevemente será um país. No entanto os menos inteligentes continuam a opor-se ao direito de voto e decisão do povo catalão. A questão é que a Catalunha será independente, custe a quem custar. E enquanto isso preocupem-se é com Gibraltar, esse territorio do UK que Espanha está mortinha por anexar. Ou com a ocupacão da Ucrania por parte da Russia. Ou com a ocupacão turca da ilha do Chipre. Todos estes casos violam o direito internacional, mas aparentemente estão preocupados com a Independência de um estado soberano que é a Catalunha. Visca Catalunya!
  • Manuel Sá
    11 out, 2017 Porto 02:28
    A minha única preocupação é: contra quem vai o poderoso Barcelona jogar, em caso de independência? Em que campeonato? Das aldeias?
  • Fernando botelho
    10 out, 2017 Porto 23:46
    Boa noite meus senhores eu nao pesco nada mas a minha opiniao vale o k vale mas aparece um senhores na catalunha vamos fazer isto sem analizar as coisas boas e mas disto tudo devem estarem a brincar com o povo iberico sem mais agora pensem k a cabeca foi para pensar
  • António Valente
    10 out, 2017 SINTRA 23:06
    Se a moda péga qualquer dia temos as BERLENGAS a pedir a independência de Portugal
  • Andre
    10 out, 2017 lx 23:05
    Sinto-me dividido entre os "idi**as" de Madrid e o "alucinado" da Catalunha. Não questiono a legitimidade ou não das partes no processo, é problema deles que deverão ser eles a resolver, tudo o resto é mediatismo. Mas de ambas as partes não parece desde logo haver qualquer flexibilidade de chegar a algum acordo, fazer tudo a "revelia" não parece correcto, responder com bastonada à eito idem, declara independência unilateral idem, a resposta de Madrid, será destituir a Assembleia e convocar eleições? Ou vai mandar exercito para o local? Já falam de golpe de estado.....
  • Manuel Simao
    10 out, 2017 Porto 22:57
    A montanha pariu um rato. Já estou cheio de tanta telenovela. Espanha é um reino soberano. Ponto.
  • Bela
    10 out, 2017 Coimbra 22:14
    Se a moda pega, não tarda muito, teremos o Algarve, Açores e Madeira também a pedirem a independência. E quem sabe também Norte.
  • AB
    10 out, 2017 Evora 21:14
    Para a Catalunha ser um país terá de ter a aprovação da ONU - não a terá. Se, por milagre a tiver, está automáticamente fora da UE e privada do seu maior parceiro comercial - Espanha. Para fazer parte da UE precisa do voto de Espanha. Mas, pior ainda, é que os catalães independentistas são uma minoria, e os unionistas não podem continuar calados a assistir a esta farsa patrocinada DE FORA, por grupos e países que só desejam a queda do ocidente. Puidgemont é um apátrida e devia ser deportado, junto com os cabecilhas deste golpe.

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