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Reportagem

Catalães unidos contra a carga policial no referendo

02 out, 2017 - 18:46 • Pedro Mesquita , em Barcelona

Nas ruas a tensão já passou e mantêm-se divisões entre os que se sentem catalães e os que se identificam com o Estado espanhol. Mas a vasta maioria dos catalães sente que Madrid foi longe de mais na repressão.

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Imagens da violência ficaram marcadas na memória dos catalães
Imagens da violência ficaram marcadas na memória dos catalães

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Os funcionários públicos pararam esta segunda-feira às 12h00, durante 30 minutos, na Catalunha num protesto simbólico contra a carga policial, durante o referendo, que terá feito cerca de 800 feridos. Também os autocarros não circularam.

Quase todos os catalães, sejam os defensores da independência ou os que defendem a unidade espanhola, reprovam a intervenção da Guardia Civil e da polícia nacional, considerando que houve um uso excessivo da forca para travar a consulta.

Questionado pela Renascença, um catalão sentado num café admitiu que é contra a independência e que se sente espanhol, mas, apesar de sublinhar a inconstitucionalidade do referendo, considera que se foi longe demais para travar a votação.

Paul argumenta que, se a consulta era ilegal, os boletins de voto depositados nas urnas deveriam ter sido simplesmente ignorados, como se fossem papéis atirados para um caixote do lixo. Assim, diz, ter-se-ia evitado a violência contra activistas que agiam de forma pacífica.

As suas palavras evocam uma das imagens mais marcantes do referendo. Cerca de mil independentistas sentados na rua formavam uma barreira humana, à frente de uma escola feita local de voto. Os Mossos d’Esquadra – a policia catalã – preparava-se para remover as urnas. Após muito diálogo com os activistas, o comandante – mesmo à frente do repórter da Renascença – disse pelo intercomunicador que a missão seria impossível de cumprir. Mas noutras mesas de voto a Guardia Civil e a Policia Nacional avançaram mesmo.

Piqué, um catalão em lágrimas: "Se sou um problema, estou disposto a deixar a selecção"
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De volta ao café, Paul diz que Mariano Rajoy esteve mal e deu argumentos aos independentistas, mas critica igualmente o que apelida de irresponsabilidade política do presidente do governo catalão, ao insistir num referendo ferido de ilegalidade e ao acenar com a proclamação unilateral da independência.

À espera da próxima jogada

Mas Paul – como tantos outros catalães – está longe das decisões politicas e neste xadrez particularmente complexo continua sem se saber com rigor como e quando irá o presidente do governo catalão proclamar a prometida independência.

O governo reuniu esta segunda-feira e, no final, Puigdmont foi pouco claro no discurso, insistindo na via da independência, mas defendendo igualmente que é preciso encontrar mediação que permita o dialogo com o Estado espanhol.

Enquanto os actores políticos de Barcelona e Madrid preparam a próxima jogada, na família catalã permanecem as divisões entre defensores do “sim” e do “não”. Quase nada mudou. Passado o referendo a tensão abrandou e a cidade até retoma o seu ritmo quase normal. Nas Ramblas, na Praça de Espanha, na Sagrada Família, por toda a parte.

Nunca, nem nos momentos mais tensos, se deixaram de ver turistas. Barcelona nunca foi uma cidade sitiada. Mas a ferida continua aberta. Tal como antes do referendo, com manifestações e discussões acaloradas e com uma greve geral marcada para terça.

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  • guadallupe
    03 out, 2017 elvas 15:01
    Meia dúzia de traidores à pátria, que arrastaram uma minoria de idiotas para o barulho, à muito que deviam de estar presos. VIVA A ESPANHA!
  • José
    03 out, 2017 Lisboa 01:53
    Luis B. a questão não é de esquerda nem de direita, nem de legalidade ... trata-se das legítimas ambições de um Povo - o Catalão - que luta há 500 anos pela sua Independência e esta é a sétima tentativa. Em todas as anteriores os cabecilhas foram fuzilados, mas agora os tempos são outros ... um tal general Espartero (Castelhano) dizia em 1800 que o problema Catalão se resolvia "bombardeando Barcelona de 50 em 50 anos" e fuzilando os cabecilhas. Você que é adepto da legalidade diga-me lá que País foi independente respeitando as Leis. Os EUA e o Brasil, por exemplo não respeitaram leis nenhumas. Nem os Capitães de Abril pediram autorização para fazer a Revolução em 1974 ... !!! nem respeitaram as leis do Salazarismo ...
  • Jone
    02 out, 2017 Caminha 23:39
    Muitos tentam fazer uma questão política para não ir ao fundo da questão. A liberdade de um povo ou, mais importante ainda, a liberdade individual, é um direito que nenhum estado pode tirar. Há um povo que quer decidir o seu próprio futuro. Que tem de mal isso? Não queremos isso para nós enquanto indivíduos? Ou na nossa família, não queremos ser nós a decidir o que fazer? Então porque terá de haver um estado, que nós não aceitamos, a mandar no nosso futuro? Quem deu autoridade ao governo de Madrid a mandar na vida dos catalães? Só existe uma razão a justificar a autoridade de Madrid: a força! E não venham venham cá dizer que o problema é o governo fascista... Os governos socialistas (não o nosso que nem socialista é) fizeram e fazem a mesma coisa. O problema é de autoritarismo e, como se sabe, não é uma doença que se pegue apenas à direita.
  • jose
    02 out, 2017 Santo Tirso 22:01
    Admiro os "democratas" que, para um problema político que já vem de longe, aceitam perfeitamente que se resolva esse problema à traulitada!...
  • Daniel S
    02 out, 2017 Amadora 20:43
    Em Espanha tal como em Portugal a pseudo policia sempre fraca contra os fortes e forte contra os fracos uma vergonha
  • Maria Catarina Lopes
    02 out, 2017 Porto 20:28
    Nos EEUU um só elemento matou 58 e feriu 500 pessoas, ainda acham muito que um batalhão de policias tenham ferido muitas pessoas?
  • Luís B.
    02 out, 2017 Para cá da muralha da China 19:50
    Quando há ilegalidades e quando se sabe que as forças da Ordem estarão ali para impedir que a ilegalidade se consume, é natural que pontualmente existam exageros.. Para a comunicação social de matiz esquerdista (como o movimento republicano catalão), só se fala dos catalães que queriam votar de forma ilegal.. Se forem procurar um pouco verão que houve vários policias feridos por agressão dos que queriam votar de forma ilegal... Não dá jeito falar disso?

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