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GNR indicou aos condutores EN 236-1 porque não tinha "qualquer informação" de "risco"

21 jun, 2017 - 19:26 • Paula Caeiro Varela

A Renascença teve acesso à resposta do comandante-geral da GNR às perguntas do primeiro-ministro. Manuel Couto assume que a EN 236-1 foi indicada como alternativa aos automobilistas durante o incêndio de Pedrógão Grande.

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A GNR assume que a EN 236-1 foi indicada como uma alternativa ao IC8, que estava encerrado devido às chamas, porque não havia "qualquer indicador ou informação" que "apontasse para a existência de um risco potencial ou efectivo em seguir" em qualquer dos sentidos daquela estrada nacional, onde morreram 47 pessoas devido ao fogo de Pedrógão Grande. Além disso, houve "dificuldades" em "todas" as comunicações.

Os esclarecimentos surgem na resposta do comandante-geral da GNR, o tenente-general Manuel Couto, ao primeiro-ministro, a que a Renascença teve acesso.

No despacho que emitiu na segunda-feira, António Costa quis saber "porque não foi encerrada ao trânsito a EN 236-1" e se "foi esta via indicada pelas autoridades como alternativa ao IC 8 já encerrado" e se foram "adoptadas medidas de segurança à circulação nesta via".

"Não havia qualquer indicador ou informação que apontasse para a existência de um risco potencial ou efectivo em seguir por esta estrada (EN 236-1) em qualquer dos sentidos", respondeu a GNR a Costa, num documento com data de terça-feira, 20 de Junho.

"Acresce, ainda, referir que o acesso à EN 236-1 se faz a partir de múltiplos locais, muitos deles provenientes de pequenas localidades e propriedades existentes nas proximidades e não apenas a partir do IC 8", cortada "cerca das 18h50", acrescenta Lopes Pereira.

“Estrada da morte” indicada como alternativa ao IC8

A GNR explica que cortou o IC8 pelas 18h50, mas, “passado algum tempo”, foi forçada a recuar para a zona de confluência daquele itinerário, devido à evolução do incêndio.

Os militares continuaram a impedir que os carros seguissem pelo IC8, no sentido Oeste – Este, e passaram a indicar três alternativas aos automobilistas.

“Assim, o trânsito proveniente de Oeste passou a ser encaminhado para a passagem superior, existindo ali três opções para os automobilistas: retroceder pelo mesmo IC em direcção a Oeste; tomar a EN 236-1 em direcção a Figueiró dos Vinhos; ou a EN 236-1 em direcção a Castanheira de Pera”, diz a resposta enviada ao primeiro-ministro.

Dificuldades em "todas" as comunicações

A GNR confirma "dificuldades nas comunicações (todas)", mas, apesar disso, "manteve em toda a área o socorro e apoio às populações, tendo em conta os múltiplos focos de incêndio e as povoações e casas em risco".

A Guarda Nacional Republicana diz que naquela tarde de sábado a zona de Pedrógão Grande (distrito de Leiria) registou "condições meteorológicas verdadeiramente anómalas e adversas, com trovoadas secas e ventos intensos, que provocaram múltiplos focos de incêndio e propagações galopantes e imprevisíveis".

A carta termina com uma frase já citada pelo primeiro-ministro, em entrevista à TVI: "Foi no contexto deste fenómeno invulgar (como o atestam, inclusivamente, os testemunhos recolhidos pelos OCS no local) que terão ocorrido os fatídicos acontecimentos da EN 236-1, uma vez que o fogo terá atingido esta estrada de forma totalmente inesperada, inusitada e assustadoramente repentina, surpreendendo todos, desde as vítimas aos agentes de protecção civil, nos quais se incluem os militares da Guarda destacados para local."

Na resposta enviada ao primeiro-ministro, António Costa, a que a Renascença teve acesso, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) considera que ocorreram “condições excepcionais”, entre as quais vento em "todas as direcções" , que levaram a situações de “excepcional gravidade” na região de Pedrógão Grande.

Da água ao fogo. Porque não fechou a N236-1, a "estrada da morte"
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  • Azevedo Santos
    11 ago, 2017 Porto 16:09
    Anda todo o mundo a tentar encontrar responsáveis pelo que aconteceu, quando na verdade o principal já está há muito identificado: O governo que tutela instituições que se mostraram totalmente incapazes, inoperantes, e descoordenadas: um sistema de comunicações que não funciona; uma Protecção Civil invadida por boys incompetentes.
  • J. Pires
    10 ago, 2017 Évora 17:22
    Depois desta tragedia e todos nós termos conhecimento da distancia que as arvores devem estar das estradas e mesmo das habitações, já alguém tomou providencias disso para pelo menos minimizar mais estragos de habitações e mais mortes nas nossas estradas, é que isto não passa da cepa torta todo o mundo fala mas ninguém faz nada, nem as câmaras nem as juntas de freguesia nem as pessoas que estão em risco de lhes acontecer o mesmo nas suas próprias habitações, tudo continua na mesma, as pessoas têm que meter na cabeça que o mal pode bater á porta de todos engane-se quem pensa o contrário, portanto meus senhores mãos á obra antes que nos aconteça o mesmo, menos palavreado e mais trabalho.
  • Farto de desculpas
    24 jun, 2017 setubal 09:12
    Agora é o vale tudo para sacudir a agua do capote. Ademais quando se trata de tragédias onde se encontra envolvida a gnr. é certo e sabido que se esquivam sempre mas sempre das suas responsabilidades.É o normal em Portugal. veja-se indiquem-me se alguem da gnr teve um castigo exemplar e publico. Tudo é feito entre paredes. Enfim é a pobreza de acção . Para eles 64 mortes não lhes devem importunar muito " É só mais alguns" no seu historial.
  • MAMM
    23 jun, 2017 Sintra 19:44
    Oh Amigo Desiderio Pergunte lá à Ascendi porque é que as árvores não estavam cortadas. É que não se pode andar a pedir que se entregue a gestão a Privados (os tais que gerem tudo melhor que o Estado) e depois pedir responsabilidades às Câmaras. Ainda não vi ninguém atirar-se a quem tinha que manter esta estrada limpa. Agora a raiva contra tudo o que é do Estado mesmo do fogo apagado continua a fazer faisca.
  • São Miguel, Açores
    23 jun, 2017 R.Peixe 13:18
    Luís, Lamento por tudo aquilo que passou e por tudo aquilo que perdeu, como amigos ou familiares, uma perda irrecuperável. Eu até sou dos Açores, mas não deixei de ficar triste e também revoltado ao mesmo tempo quando muitas vezes via na tv o sofrimento a que todos os atingidos estavam a passar, revoltado porque é inadmissível que as coisas tenham chegado a este ponto, uma grande tragédia, e com tantas falhas, sem que ninguém, ano após ano, e aqui não defendo qualquer partido politico, tivesse tomado as medidas necessárias para que se pudesse evitar este terrivel acontecimento, no meu entender são todos culpados. Que Deus lhe dê forças para que possa suportar toda a sua dor.
  • Luis
    23 jun, 2017 pedrogao Grande 10:25
    Gostava só de pedir a todos que tenham calma com os comentarios, todos tem razao e ninguem a tem....peço por respeito a todos, só quem viveu todo este inferno como eu... onde perdi bens, vizinhos , amigos , conhecidos , colegas de escola e outros menos conhecidos....todos nos sabemos que nem tudo correu bem , fossem causas climatéricas ou erros humanos (desgoverno por completo), nos que tivemos no terreno na luta contra este inferno onde me senti um inútil na tentativa de salvar familia e bens familiares onde me desdobrei em mil sem puder pedir auxilio dos vizinhos pois os mesmos lutavam com os mesmos problemas, onde durante a tarde e noite e dia seguinte nao vi um bombeiro no nosso auxilio e atençao que nao digo que os bombeiros tenham alguma culpa pois a eles guardo toda a minha gratidao e reconhecimento, mas sim a quem os coordena ou comanda esses sim falharam redondamente e mostraram puro desconhecimento do terreno. Quanto ao corte ou nao da IC8 esse nunca deveria ter sido efectuado pois esta estrada é uma arteria e se houve corte por esta mesma estar com arvores a impedir a circulaçao da mesma , aqui é muito facil encontrar os responsaveis , pois se bem me lembro antes nem arvores poderiam existir para alem da rede agora ja existiam pois era negocio, quanto a N236-1, todos nos sabemos que praticamente todas as nossas estradas nacionais quase em toda a sua extensao existem arvores o que as torna das mais belas do mundo, mas tambem perigosas nestas alturas.
  • Para 11:42
    22 jun, 2017 Bolo-Pêra 19:38
    Passei esta estrada perto das 18:30 de Sábado e por 3 camiões dos bombeiros que estavam parados à saída do IC8 junto a 2 carros da GNR. Estava fumo (como em todo o lado), vim com os médios acesos a conselho do GNR que estava à saída de Figueiró mas, o fumo permitia ver a estrada sem problema. Não havia fogo nas imediações. Viam-se labaredas ao longe na serra do lado esquerdo de quem vai para a Castanheira, do outro lado do IC8. Junto ao cruzamento que dá para o Carregal Fundeiro, um rapaz fez-me sinal para parar, perguntou-me se a estrada estava aberta. Disse-lhe que sim mas, que estava muito fumo. Nessa altura, estava uma ventania terrível. Ao chegar à rotunda do Troviscal virei para São Nicolau e segui pela estrada nova. Ao parar no Simão (um café na entrada da vila) o dono disse-nos que a polícia estava a preparar-se para fechar a estrada, porque o fogo tinha passado o Vale Vicente num piscar de olhos e estava a trovejar lá para baixo, aquilo ia-se complicar e ele fechou o café. Quando se voltou ao carro, ouviam-se trovões para os lados de Figueiró e o fumo era muito. Vi um carro da polícia a passar com a sirene e um carro com um casal, a parar e perguntar a um homem como se ia para Figueiró. Terá sido nessa altura que fecharam a estrada. Os telemóveis ficaram sem rede antes das 21h, de manhã é que nem televisão nem internet e a luz foi-se eram 9 e pouco de Domingo. Para Sesimbra, fiz a viagem na madrugada de segunda-feira onde só vi fogo à distância e sem vento.
  • desiderio
    22 jun, 2017 sitio do campo de cima 16:59
    Então e os queridos presidentes de câmara não são chamados à pedra? Onde é que as árvores na N236 estão a 10 metros de distância das bermas?.E onde estão os 4 metros entre árvores? Os ditos gostam muito de se servir dos munícipes para se governarem mas, quando há desgraça fogem que nem enguias entre mãos!
  • Danilo
    22 jun, 2017 Pereira 16:37
    Não tenho dúvidas. A Grande Ninhada de Ratos esteve à altura dos acontecimentos. São bons para contabilizar os mortos e sacar umas massas ao pessoal. Aliás sempre que eles vão para a estrada é só gente a morrer. Porque será?
  • Oh caro cidadão
    22 jun, 2017 de longe 15:35
    Oh caro cidadão as pessoas têm o direito de se interrogar, de criticar quando acham que as coisas não são justas, não são resolvidas quando estão mal, ainda por cima quando o que está em causa são muitas vidas que se perdem. Ninguém está pretendendo ser carrasco de ninguém, mas se as pessoas começarem a fechar os olhos às culpas dos outros porque acham que da parte deles não houve má intenção, então não vale a pena se pedir inquéritos ou de se corrigir o que quer que seja. E se assim for ficará tudo em águas de bacalhau. Eu já estou farto de ouvir esta treta, " não quero fazer de ninguém o bode expiatório, não quero servir de juiz a ninguém, não quero achar culpados, e por aí fora" isto não tem qualquer nexo. É claro que tem que se procurar culpados e tudo o que foi negligente , apurar responsabilidades e tentá-las corrigi-las para que de futuro não haja mais destas mortes horríveis. Isto não se trata de alguém querer crucificar alguém, trata-se sim de se querer combater o que está mal.

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