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Papa apresenta a virgem de Guadalupe como programa pastoral

13 fev, 2016 - 18:37 • Aura Miguel , Filipe d'Avillez

Num discurso dirigido aos bispos mexicanos, Francisco partiu da mais famosa imagem religiosa do país para chamar a atenção da Igreja para a sua missão.

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Papa pede "coragem" da Igreja no combate ao narcotráfico
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É no olhar de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira do México, que os bispos encontrarão as pistas para o seu trabalho pastoral, explicou este sábado o Papa Francisco, que está de visita ao país.

O Papa, que antes tinha dito ao Presidente mexicano que estava no país na qualidade de peregrino, disse aos bispos que era dessa forma que pretendia alcançar o povo. “Sei que, fixando os olhos da Virgem, alcanço o olhar do seu povo, que aprendeu a mostrar-se n’Ela”.

Os mexicanos acreditam que Nossa Senhora apareceu a Juan Diego um índio mexicano no ano de 1531. Após a visão, a imagem de Nossa Senhora apareceu estampada na sua capa, que se mantém como relíquia no santuário onde Francisco celebra missa esta tarde. Foi esta aparição, mais que qualquer tentativa de evangelização levada a cabo pelos colonos, que permitiu a conversão de milhões de indígenas ao cristianismo.

Este facto comprova, segundo o Papa, que “a única força capaz de conquistar o coração dos homens é a ternura de Deus. Aquilo que encanta e atrai, aquilo que abranda e vence, aquilo que abre e liberta das cadeias não é a força dos meios nem a dureza da lei, mas a fragilidade omnipotente do amor divino, que é a força irresistível da sua doçura e a promessa irreversível da sua misericórdia.”

Francisco pede ainda que os bispos sejam pessoas de “de olhar límpido, alma transparente, rosto luminoso; não tenhais medo da transparência; a Igreja não precisa da obscuridade para trabalhar. Vigiai para que os vossos olhares não se cubram com as penumbras da névoa do mundanismo; não vos deixeis corromper pelo vulgar materialismo nem pelas ilusões sedutoras dos acordos feitos por baixo da mesa; não ponhais a vossa confiança nos ‘carros e cavalos’ dos faraós de hoje, porque a nossa força é a ‘coluna de fogo’ que irrompe separando em duas as águas do mar, sem fazer grande rumor”, afirmou o Papa, aludindo ao episódio bíblico do êxodo, quando os israelitas atravessaram o Mar, que depois se fechou sobre o exército dos egípcios.

“Nos vossos olhares, o povo mexicano tem o direito de encontrar os indícios de quem ‘viu o Senhor’, de quem esteve com Deus. Isto é o essencial. Assim, não percais tempo e energias nas coisas secundárias, nas críticas e intrigas, em projectos vãos de carreira, em planos vazios de hegemonia, nos clubes estéreis de interesses ou compadrios. Não vos deixeis paralisar pelas murmurações e maledicências. Introduzi os vossos sacerdotes nesta compreensão do ministério sagrado. A nós, ministros de Deus, basta a graça de ‘beber o cálice do Senhor’, o dom de guardar a parte da sua herança que nos foi confiada, apesar de sermos administradores inexperientes. Deixemos o Pai atribuir-nos o lugar que preparou para nós”, disse ainda o Papa.

Combate ao narcotráfico

O México é um país profundamente marcado pelo sofrimento do tráfico de droga. Durante a sua visita Francisco irá a Ciudade Juarez, um dos locais mais perigosos do país. O problema da droga não ficou de fora do discurso do Papa.

“Em particular preocupam-me tantos jovens que, seduzidos pelo poder vazio do mundo, exaltam as quimeras e revestem-se dos seus símbolos macabros para comercializar a morte em troca de moedas que, no fim, a ferrugem corrói e os ladrões arrombam os muros para as roubar. Peço-vos que não subestimeis o desafio ético e anticívico que o narcotráfico representa para a sociedade mexicana inteira, incluindo a Igreja.”

“A amplitude do fenómeno, a complexidade das suas causas, a imensidade da sua extensão como metástase devoradora, a gravidade da violência que desagrega e suas conexões transtornadas não consentem que nós, pastores da Igreja, nos refugiemos em condenações genéricas, mas exigem uma coragem profética e um projecto pastoral sério e qualificado para contribuir, gradualmente, a tecer aquela delicada rede humana, sem a qual todos estaríamos, desde o início, derrotados por tal ameaça insidiosa”, insiste Francisco.

No resto do seu discurso, o Papa pediu ainda aos bispos que respeitem e promovam as culturas e tradições indígenas e que encontrem na herança mexicana inspiração para formular respostas novas para perguntas novas.

Francisco deixou ainda um apelo especial para que os bispos cuidem dos seus sacerdotes, “Não os deixeis expostos à solidão e ao abandono, como presa do mundanismo que devora o coração. Estai atentos e aprendei a ler os seus olhares, para vos alegrardes com eles quando se sentem felizes contando tudo o que ‘fizeram e ensinaram’, e para não os abandonardes quando se sentem um pouco desanimados, só conseguindo chorar porque ‘negaram o Senhor’, e também para os apoiardes, em comunhão com Cristo, quando algum, abatido, sair com Judas ‘na noite’”.

Por fim, o Papa reservou umas palavras para a crise migratória que atinge o México na sua fronteira com os Estados Unidos, pedindo que os bispos de ambos os países trabalhem em conjunto para atender às necessidades de quem tudo arrisca em busca de uma vida melhor.

O programa do Papa segue ainda este sábado com a celebração de missa no santuário de Nossa Senhora de Guadalupe.

A Renascença no México com o apoio da Santa Casa da Misericórdia

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