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Francisco reza com “caros irmãos mais velhos” por um futuro melhor

17 jan, 2016 - 16:27 • Filipe d'Avillez

O Papa diz, na sua visita à Sinagoga de Roma, que é preciso dar graças a Deus pela forma como evoluíram as relações entre a Igreja Católica e o judaísmo nos últimos 50 anos.

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Francisco reza com “caros irmãos mais velhos” por um futuro melhor
Francisco reza com “caros irmãos mais velhos” por um futuro melhor

O Papa Francisco visitou esta tarde a Sinagoga Maior de Roma, cumprindo assim uma tradição das últimas décadas, que teve início em 1976 com a visita de João Paulo II.

Embora todo o diálogo religioso seja importante, sublinha Francisco, as relações com os judeus são de natureza especial. “No diálogo inter-religioso é fundamental que nos encontremos como irmãos e irmãs diante do nosso Criador e o louvemos, que nos respeitemos e apreciamos, aproximando-nos e colaborando. No diálogo judaico-cristão há um elo único e peculiar, em virtude das raízes judaicas do Cristianismo”.

Diante do rabino de Roma e das principais figuras da comunidade judaica de Roma, Francisco sublinhou a mudança de paradigma dos últimos 50 anos nas relações entre cristãos e judeus.

O Papa citou um discurso seu, feito no passado dia 28 de Outubro quando recebeu uma delegação de representantes judaicos. “Devemos agradecer a Deus a verdadeira transformação que se deu nestes cinquenta anos nas relações entre cristãos e judeus. A indiferença e a oposição deram lugar à colaboração e boa-vontade. De inimigos e estranhos transformamo-nos em amigos e irmãos.”

“O concílio, com a declaração Nostra Aetate, traçou uma via. ‘Sim’ à redescoberta das raízes judaicas do Cristianismo; ‘não’ a todas as formas de anti-semitismo e a condenação de todas as injúrias, discriminação e perseguição que deles derivam”, disse Francisco, ainda citando.

Promessas irrevogáveis

Embora o Papa, em consonância com o Concílio Vaticano II, tenha sublinhado as raízes comuns, permanecem questões teológicas complexas nas relações entre os cristãos os judeus. O principal obstáculo é o papel de Jesus na história da salvação, que os judeus naturalmente rejeitam. Recentemente, porém, surgiu na teologia cristã a ideia de que a aliança entre o povo hebraico e Deus, do Antigo Testamento, mantém o seu valor e é, por isso, salvífica.

A Conferência Episcopal Americana emitiu um documento há cerca de uma década que ia nesse sentido, defendendo que, por isso, os cristãos não devem empreender missões especificamente dirigidas à conversão dos judeus, e mais recentemente o conceito apareceu de novo num documento da Comissão para as Relações Religiosas com os Judeus, da Santa Sé. Na sua base estão as palavras de São Paulo, na carta aos Romanos, de que as promessas de Deus são “irrevogáveis”.

Este domingo o Papa subscreveu o conceito. “Os cristãos, para se compreenderem a si mesmos, não podem deixar de referir as suas raízes judaicas, e a Igreja, apesar de professar a salvação através da fé em Cristo, reconhece a irrevogabilidade da Antiga Aliança e o amor constante e fiel de Deus por Israel”.

Causa comum contra a violência

Referindo-se aos judeus como “caros irmãos mais velhos”, o Papa realçou depois o muito trabalho conjunto que os fiéis de ambas as religiões podem fazer, nomeadamente no combate à violência e ao terrorismo.

“A violência do homem sobre o homem está em contradição com todas as religiões dignas desse nome, e em particular com as três religiões monoteístas”, disse Francisco.

“Deus é o Deus da vida e quer sempre promovê-la e defendê-la; e nós, criados à sua imagem e semelhança, devemos fazer o mesmo. Todo o Ser Humano, enquanto criatura de Deus, é nosso irmão, independentemente da sua origem e sua identidade religiosa.”

Mas se o sofrimento do homem deve ser combatido, também urge não esquecer o que já sucedeu, insiste Francisco, referindo-se à perseguição de que foram vítimas precisamente os judeus, em particular no século XX.

“O povo judeu, na sua história, experimentou a violência e a perseguição, até ao extermínio dos judeus da Europa durante a Shoah”, disse Francisco, utilizando o termo preferido para os hebraicos para aquilo a que geralmente se chama o holocausto.

“Seis milhões de pessoas, só porque pertenciam ao povo judeu, foram vítimas da mais desumana barbárie, levada a cabo em nome de uma ideologia que queria substituir Deus pelo homem. A 16 de Outubro de 1943, mais de mil homens, mulheres e crianças da comunidade judaica de Roma foram deportados para Auschwitz. Hoje gostaria de recordá-los de modo particular: O seu sofrimento, a sua ansiedade, as suas lágrimas não devem ser esquecidos.”

Francisco foi o terceiro Papa a visitar a Sinagoga de Roma, construída sobre as ruínas do antigo gueto judaico de Roma. João Paulo II fez a visita em 1996 e Bento XVI em 2010.

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  • José T Silva
    17 jan, 2016 Oeiras 17:58
    Quem é o Francisco ? Chamavas ao teu professor ...oh João ! ? Dirigias-te ao general do teu regimento ... meu António ? Alguns média contribuem para a total banalização da dignidade .

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