13 out, 2015 - 14:52
Rodeada pela polícia israelita, Israa Abed segura uma faca numa mão e o telemóvel na outra. Ouvem-se tiros e ela cai ao chão.
O incidente, filmado por transeuntes nos seus smartphones em Afula, no norte de Israel, já foi visto milhares de vezes desde que foi publicado na sexta-feira passada (dia 9). Faz parte das dezenas de vídeos do mesmo género que têm aparecido na internet e parecem trazer uma nova dinâmica no que começa a ser descrito, segundo a agência Reuters, como uma “terceira intifada”, ou insurreição palestiniana.
Com os atentados desta terça-feira em Jerusalém - um num autocarro e outro um atropelamento - já morreram sete israelitas e 27 palestinianos nos últimos 13 dias, sendo que os números desta manhã estão em actualização.
A escalada da tensão começou em Setembro, quando a Esplanada das Mesquitas foi palco de violentos confrontos entre polícias israelitas e palestinianos durante três dias consecutivos. Os palestinianos estavam preocupados com o crescente número de visitantes judeus ao local e com as reivindicações de soberania de alguns responsáveis políticos israelitas.
O local rege-se por um "status quo" herdado do conflito de 1967: tanto judeus quanto muçulmanos podem visitar o lugar sagrado com vista para a Cidade Velha de Jerusalém, mas os judeus não têm o direito de aí rezar.
Nas redes sociais palestinianas têm vindo a aparecer vídeos, com crescente popularidade, a exortar a ataques aos israelitas – muitas vezes com a ajuda de animações, músicas e hashtags do Twitter como “Jerusalem Intifada” ou “Intifada of the Knives”. Entre estes surgem também vídeos dos incidentes e dos ataques, publicados à medida que vão acontecendo.
“Pai, não quero morrer!”
Muitos israelitas acharam que a acção policial filmada no vídeo foi uma resposta apropriada ao atentando. Entre os palestinianos, chegaram a circular rumores de que a rapariga estaria morta. De acordo com uma notícia do site Al Wattan Voice e partilhada mais de 3,500 vezes no Facebook, Abed, 30, estava a fazer uma chamada de emergência quando começou a ser baleada. “Pai, não quero morrer!”, citava o site, sugerindo que Abed se possa ter rendido.
No vídeo, as palavras em si não se ouvem entre os gritos das pessoas que a estão a cercar. Contactado pela Reuters, o pai, Zeidan Abed, disse que não recebeu qualquer chamada da filha, e recusou-se a fazer mais comentários.
A tensão tem vindo a crescer em Israel e nas zonas ocupadas da Cisjordânia nas últimas semanas, fazendo aumentar as preocupações face a uma nova confrontação militar, ainda que o conflito não tenha, para já, atingido a dimensão de outros do passado entre israelitas e palestinianos.
Esta terça-feira foi declarado um “Dia de Raiva” em retaliação "pelos crimes de Israel" contra os palestinianos. Israel está com dificuldades em lidar com estes ataques à “lobo solitário”, limitando-se a encerrar contas de Facebook e Youtube sob os protestos dos palestinianos. O atentados desta manhã já levaram o primeiro-ministro a convocar uma reunião de emergência para discutir medidas adicionais de segurança para o país.
“Luta até à morte” de Netanyahu vingada nas redes sociais
A actividade nas redes sociais não ajuda a acalmar os ânimos, nomeadamente caso os palestinianos tenham que vir encarar uma resposta na linha das fortes declarações do primeiro-ministro israelita.
A 4 de Outubro, Benjamin Netanyahu prometeu "travar uma luta até a morte contra o terror palestiniano", depois da morte de dois israelitas em Jerusalém. Dois dias depois, o presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, respondeu que não quer que a violência e tensão em Jerusalém e na Cisjordânia escale para um novo confronto militar com Israel.
“Hoje estamos numa era diferente, em que um grande, grande número de pessoas é incentivado pelas publicações nos seus smartphones e acabam por tomar decisões individuais. Saem para esfaquear e para se fazerem explodir com balões de gás”, declarou na segunda-feira o ministro israelita da Segurança, Gilad Erdan, à rádio militar israelita.
As autoridades disseram entretando que Abed, uma israelita árabe, está a ser tratada no hospital depois de ter sido baleada quatro vezes nas pernas, na sequência da tentativa de esfaqueamento a um agente de segurança numa paragem de autocarro em Afula.