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​Dia Mundial do Sono

Dizia que dormia bem, mas adormecia em todo o lado. Foi o sono que o despertou

16 mar, 2018 - 07:33 • Ana Carrilho

Há 25 anos, Amável Lopes recebeu o diagnóstico: apneia do sono. O problema resolveu-se com uma máscara. "Se não a usasse, não estaria agora a dar-lhe esta entrevista”, diz.

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Dizia a toda a gente que dormia maravilhosamente. Mas a verdade é que no escritório em que trabalhava, em Valado dos Frades, Amável adormecia frequentemente, “quase a bater com a cabeça na secretária”.

Num percurso que fazia regularmente para a Figueira da Foz, tinha que parar três ou quatro vezes porque não conseguia conduzir, tal era o sono”. À noite, a mulher apanhava-o muitas vezes “sem respirar”. Dava-lhe uma cacetada (“salvo seja”), Amável virava-se para o outro lado e a coisa melhorava.

São algumas das situações que levaram Amável Ferreira Lopes, agora com 67 anos, a perceber que algo se passava. Era sono a mais, mas a sua médica de família identificou os sintomas e aconselhou-lhe um especialista em Leiria. Esse clínico, por seu turno, encaminhou-o para a consulta de pneumologia do Hospital dos Covões, em Coimbra. Foi a antecessora da atual Consulta das Doenças do Sono, chefiada por Joaquim Moita, presidente da Associação Portuguesa do Sono.

Tudo isto aconteceu há 25 anos. Amável dormiu duas noites no hospital para lhe monitorarem o sono e o diagnóstico chegou: apneia do sono. Desde então, dorme com uma máscara. “É simples: à noite ponho a máscara e de manhã, tiro-a. Nunca mais tive problemas”, revela na conversa com a Renascença. Desdramatiza, assim, as queixas que ouve de outros a dizer que não são capazes. “É tudo psicológico, tem é que haver uma certa naturalidade, não se pode logo dizer que não conseguimos.”

Sem demoras, descreve a máscara: um compressor regulado, totalmente digitalizado, com um cartão de memória que regista todas as anomalias ocorridas durante o sono, sendo transmitidas de imediato ao médico assistente. Revela que, ainda recentemente, teve um “episódio” e, logo a seguir, o médico contactou-o para lhe dizer que tinha de fazer exames mais profundos. “Afinal, há 25 anos que não vou dormir ao Covões”, diz, com humor.

Nas consultas de rotina, Amável encontra outros doentes, muitos que, como ele, começaram a adormecer em qualquer lado, que tiveram problemas com a condução e até quem tenha tido acidentes por causa do sono. “Muitas pessoas têm a doença e não sabem” - proclama do alto dos seus 25 anos de diagnóstico. É grave, mas tem um tratamento simples: é só dormir com a máscara. "Estou convencido de que se não a usasse não estaria agora a dar-lhe esta entrevista”.

Afinal, a culpa pode ser do sono

As doenças do sono são a causa de outras mais graves, como a diabetes, a obesidade, doenças cardiovasculares ou mesmo cancro.

Insónia crónica ou apneia do sono são apenas dois exemplos mais frequentes. A atenção para a importância do sono na saúde e bem-estar dos indivíduos é recente, mesmo entre a comunidade médico-científica. Mas a atribuição do Prémio Nobel da Medicina do ano passado a três investigadores americanos que estudam os ritmos circadianos veio dar-lhe maior projeção.

Não é uma questão de preguiça, mas sim de falta de descanso ou de mau sono. Não é por acaso que a sesta é uma “instituição” em vários países, nomeadamente no sul da Europa e mesmo em Portugal, sobretudo no Alentejo e Algarve. O sono é retemperador.

Há 25 anos, Amável Lopes teve uma médica que já mostrava interesse por este problema. Mas ainda hoje há clínicos que não associam o sono a outras doenças. E porque tudo deve começar no médico de família, na próxima semana (23 de março), a Associação Portuguesa do Sono organiza em Coimbra uma conferência sobre “O essencial da Medicina do Sono para a Medicina Geral e Familiar.

Para este Dia Mundial do Sono a mensagem da World Sleep Society é simples: “Dê importância ao sono. Cuide dos seus ritmos e desfrute a vida!”

Por cá, a Associação Portuguesa do Sono desenvolveu um pequeno vídeo para sensibilizar a população.

Ritmos circadianos

Os ritmos circadianos são oscilações biológicas de aproximadamente 24h, fundamentais para todas as células e seres vivo. São mesmo indispensáveis à sobrevivência. Estão condicionadas por estímulos como a luz/noite, temperatura, oxigénio, alimentação ou exercício físico. Estas variações cíclicas, que ocorrem no organismo ao longo do dia, estão sincronizadas com o meio ambiente. Essa sincronização é fundamental para a saúde e bem-estar. Por isso é que o mau funcionamento do relógio biológico está associado a diversas patologias do sono e a outras mais graves como o cancro, a diabetes ou as doenças cardíacas.

Apneia do Sono

A apneia do sono é um distúrbio potencialmente grave em que a pessoa para de respirar, por alguns momentos, diversas vezes durante a noite. Em muitos casos, as pessoas não sabem que têm esse problema. Um sinal exterior desta patologia pode ser o ressonar.

A consequência direta é a alteração do padrão do sono, onde há uma incapacidade de se atingir as fases profundas, ou seja, aquelas que permitem fazer o descanso físico e mental. Por isso é que os doentes não se sentem restabelecidos pela manhã. Podem ter sonolência durante o dia, quer no emprego, quer a conduzir ou a fazer outras atividades simples do dia-a-dia.

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