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"Mea Culpa". Livro de Carla Pais ficou sem um prémio, mas chegou às livrarias

11 jan, 2018 - 22:31 • Maria João Costa

“Mea Culpa” viu o Prémio Agustina Bessa-Luís ser-lhe retirado. A autora Carla Pais compreende a decisão do júri, mas diz que o livro cumpriu o seu objectivo. A obra está nas livrarias, a Renascença entrevistou a escritora que já fez de tudo na vida.

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Carla Pais deixou a escola aos 17 anos para ser mãe. Só concluiu a escolaridade mais tarde, no ensino nocturno. Em 2012 emigrou para França, onde fez limpezas, embalou salmão e tomou conta de crianças. Hoje é empregada de escritório num Centro de Formação à Distância. Diz que a sua vida não dava um livro, é só uma soma de “coisas atípicas” que fez “prematuramente”.

Carla Pais é escritora e o seu livro “Mea Culpa”, editado agora pela Porto Editora, também sofreu um episódio atípico.

Em 2016, “Mea Culpa” foi indigitado para o Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís, mas qual golpe de secretaria, a distinção foi-lhe retirada. O júri enalteceu a escrita, mas percebeu depois que a autora tinha publicado antes uma obra classificada como de carácter ficcional, e que o regulamento não permitia que recebesse o prémio.

Em causa está o livro “Renascer”, editado em 2009 pela Chiado Editora, em que, segundo a autora, era feito um relato não ficcional da sua experiência de dar aulas de formação numa empresa. A obra já retirada do mercado retirou, contudo, o prémio à escritora.

Em entrevista à Renascença, Carla Pais diz que se estivesse no júri “faria o mesmo”. Mas, para a autora, “a obra a concurso atingiu o objetivo, ainda que tenha tido depois uma reviravolta”. Para Carla Pais, “o júri considerou que teria alguma relevância”.

“Mea Culpa” chega agora à apreciação dos leitores. Segundo Carla Pais, é um livro que apresenta “um conjunto de histórias trágicas que tentam, de alguma forma, encontrar a luz”. É um livro onde “o mal está dissimulado” e onde o leitor tem de tirar “camada após camada para encontrar alguma coisa que faça sentido na vida”, explica a autora.

Carla Pais quis explorar a ideia “de julgar o outro sem o conhecermos”. Mas no livro há “luz, esperança e poesia”, apressa-se a autora a dizer.

“Cresci numa aldeia a ouvir este tipo de histórias mais cruéis, mas que são fundamentadas através da fé. Há sempre Deus.”

Nascida em Leiria, a autora vê a escrita como “um escape”. Nas palavras de Carla Pais, “nem sempre o mundo é claro aos nossos olhos e a escrita surge como uma forma de o entender”.

A autora, que em 2015 venceu o Prémio Literário Horácio Bento Gouveia com o conto “A Alma do Diabo”, diz que enquanto escreve “as respostas vão aparecendo”.

No centro da acção de “Mea Culpa” está a personagem de Amadeu Jesus que Carla Pais usa para explicar que nem sempre o que parece é. “Ele nasce já rotulado”, por ser filho de uma prostituta, explica a escritora. “Isso acontece muito hoje, as pessoas são rotuladas pelo nome que carregam, pelo estatuto que ocupam, pela imagem, pela roupa, por uma data de coisas inúteis.” Carla Pais lembra que “não temos o direito de julgar o outro sem o conhecer”.

Para a autora, “o livro é todo ele um jogo de espelhos onde ninguém é aquilo que parece ser”.

Com “Mea Culpa” Carla Pais quer pôr em evidência “os julgamentos infundados” em que, diz, “muitas vezes não damos ao outro a oportunidade de se dar a conhecer e por vezes passamos ao lado de pessoas belíssimas”.

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