Presidenciais na Rússia. Os outros sete que vão ser derrotados por Putin

16 mar, 2018 - 15:00 • Elsa Araújo Rodrigues , Inês Rocha (vídeo)

Os russos vão às urnas, no domingo, para escolher o próximo presidente e as previsões indicam que Putin sucederá a Putin. Saiba quem são os sete adversários do homem forte do Kremlin, que partem para a corrida derrotados.

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Os candidatos que enfrentam Putin nas eleições russas (e porque é que não vão ganhar)
Os candidatos que enfrentam Putin nas eleições russas (e porque é que não vão ganhar)

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Os russos têm eleições presidenciais no domingo e, de algum modo, o vencedor já é conhecido.

Vladimir Putin, o homem forte do Kremlin, está à frente em todas as sondagens, com níveis de popularidade a rondar os 80 por cento. A enorme aceitação que tem junto dos russos, aliada à falta de uma oposição organizada e forte, leva a que a sua vitória seja tida como certa.

O principal opositor ao Kremlin de Putin, Alexei Navalny, foi impedido de concorrer, em dezembro do ano passado, pela comissão eleitoral russa, que justificou a decisão com a “impossibilidade ser eleito” por ter sido, no passado, condenado por fraude.

O advogado, "blogger" e ativista tem sido um dos principais dinamizadores das maiores manifestações contra o Kremlin nos últimos anos, onde tem ajudado a denunciar a corrupção no aparelho estatal russo. Os protestos já lhe valeram umas quantas detenções e foi condenado duas vezes.

Em 2013, candidatou-se a presidente da câmara de Moscovo e perdeu. Embora os analistas políticos sempre tenham questionado a capacidade de o advogado vencer Putin nas urnas, agora está formalmente impossibilitado de o fazer. Apesar de Navalny ser bastante popular na Rússia e também fora de portas, ainda não é desta que irá saber quanto “vale em votos”.

O principal opositor ao líder do Kremlin está fora da corrida, mas isso não significa que Putin não tenha outros adversários.

"Quem é quem" na oposição

São sete os candidatos oficiais dispostos a enfrentar o atual presidente russo, apesar da fraca possibilidade de vencerem o escrutínio. Nenhum consegue recolher mais de dez por cento das intenções de voto e os críticos do regime não se cansam de afirmar que alguns candidatos são apenas putativos opositores de Putin.

De um “comunista capitalista”, a uma alegada afilhada do Chefe de Governo, passando por um anti-semita com origens judaicas, há aspirantes a presidente da Rússia para todos os eleitores.

Pavel Grudinin

É um empresário conhecido como “comunista capitalista” e está em segundo lugar nas sondagens, apesar de recolher apenas 8% das intenções de voto.

Em 1995, Grudinin privatizou uma quinta estatal de produção de frutas, uma “sovkhoz” - que no modelo de produção agrícola da ex-URSS, eram quintas do Estado onde agricultores recebiam um salário. Depois, transformou a nova empresa numa companhia com preocupações sociais.

Na “Lenin Sovkhoz” os trabalhadores agrícolas ganham mais que noutras quintas e têm direito a habitação, cuidados de saúde e subsídios para a educação dos filhos. Alguns meios de comunicação chamam mesmo à empresa de Grudinin, o “jardim socialista que floresce na Rússia capitalista”.

Apesar de ter feito parte do partido de Putin, o “Rússia Unida”, Grudinin concorre nestas eleições pelo Partido Comunista. Tem manifestado posições muito críticas em relação è elite russa próxima do Kremlin e defende um modelo de sociedade baseado na distribuição equitativa da riqueza.

Sempre que lhe perguntam o porquê da sua candidatura presidencial, Grudinin responde que “gostaria que todos na Rússia tivessem o mesmo nível de vida que nós temos [na ‘sovkhoz’]”. A oposição reage às críticas acusando o próprio Grudinin de ser um “milionário comunista” envolvido em “esquemas” e que também possui contas no estrangeiro (como os adversários a quem acusa de corrupção).

Vladimir Zhirinovsky

É o veterano da corrida e já concorreu mais vezes à presidência que o pŕoprio Vladimir Putin. Tem 71 anos e é a sexta vez que tenta ser eleito Presidente da Rússia. Zhirinovsky é líder do partido LDRP (ultra-conservador e ultra-nacionalista) e conhecido pelas suas afirmações anti-semitas, embora ele próprio seja descendente de judeus.

Vladimir Zhirinovsky, cujo apelido de nascimento é Eidelstein, reconheceu publicamente que o pai era um advogado judeu que emigrou para Israel.

Sem uma ideologia política clara, os seus discursos são frequentemente compostos por polémicas declarações anti-liberais, anti-Estados Unidos e contra os comunistas.

Zhirinovsky é essencialmente visto como um populista, em parte devido a algumas das suas promessas eleitorais, como baixar o preço da vodca. Reúne cerca de 6% das intenções de voto e é considerado por alguns observadores o "Trump russo", graças ao seu estilo confrontacional e ruidoso.

Ksenia Sobchak

É filha de Anatoli Sobchak, ex-presidente da Câmara de São Petersburgo e mentor político de Putin. A ex-apresentadora de televisão e estrela de um “reality show” russo, de 36 anos, é também conhecida como “Paris Hilton da Rússia” e é a única candidata mulher.

Há rumores de que seja “afilhada” do próprio Putin e os opositores afirmam que a sua candidatura serve apenas para o líder do Kremlin tornar a corrida presidencial “aparentemente competitiva”.

Não obstante as críticas, Ksenia Sobchak é das poucas que ousa criticar o governo russo de forma aberta e defende que o objetivo da sua candidatura é mostrar que aos russos que têm alternativas.

Sobchak avança com promessas eleitorais de colaborar com a NATO, com os Estados Unidos e União Europeia. Se for eleita, a estrela da televisão promete também devolver a Crimeia à Ucrânia - uma forma de mostrar o compromisso russo com a ordem internacional. Segundo as sondagens, Sobchak reúne 1,6% das intenções de voto.

Grigory Yavlinsky

A par com Navalni, Grigory Yavlinsky é considerado outro dos “verdadeiros membros da oposição” a Putin. Economista de formação, Yavlinsky ajudou a desenhar um programa económico de transição da ex-URSS para uma economia de mercado, nos anos 1990.

É também um dos fundadores do partido “Yabloko”, que foi a principal força política liberal da Duma (o parlamento russo) até 2003, e já se candidatou por três vezes à presidência da Rússia.

Em 1996, 2000 e em 2012, ano em que foi a sua candidatura foi “desclassificada” pelo comité eleitoral russo - algo que Yavlinsky sempre disse ter sido uma “manobra política para o afastar no último minuto”.

O economista tem sido muito crítico de algumas decisões do líder do Kremlin, como a anexação da Crimeia ou o papel da Rússia no conflito sírio. Nas eleições de 1996 e 2000 conseguiu menos de 10% por cento dos votos. As sondagens apontam para que no próximo domingo recolha menos de 1% dos votos.

Boris Titov

É o “homem do mundo dos negócios” da corrida presidencial e líder do “Partido do Crescimento”, que afirma defender os interesses da classe média russa, que está a aumentar.

Titov, de 57 anos, tem interesses empresariais na exploração petrolífera e na indústria química e é considerado um intermediário de Putin junto de vários oligarcas que saíram da Rússia levando os seus milhões para outros países. Os críticos apontam-lhe uma relação próxima com o Kremlin, Titov responde que o seu objetivo é influenciar as políticas económicas do governo.

O empresário tem feito campanha pela normalização das relações exteriores russas, com o intuito de estabilizar a economia do país. As sondagens indicam que Titov recolhe menos de 1% das intenções de voto.

Sergey Baburin

É líder do partido ultra-nacionalista “União Nacional Russa” e membro de várias organizações russas ligadas à extrema-direita.

Ex-militar, Barburin participou na guerra do Afeganistão nos anos 1980 e foi uma das vozes que mais se manifestou contra o colapso da URSS. Em 1991, enquanto membro do supremo conselho russo, votou contra a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Nos últimos anos têm defendido reiteradamente na Duma a reunificação da Bielorússia e da Rússia.

Apesar de concorrer contra Putin, Baburin é também conhecido pelos repetidos elogios públicos que ao longo dos anos tem feito ao Chefe de Governo.

Além de membro do parlamento, Sergey Baburin é também reitor da Universidade Estatal Russa de Comércio e Economia (em Moscovo). Uma das suas promessas eleitorais é a expansão das relações comerciais da Rússia com países com dimensões semelhantes, como o Brasil, Índia ou China. As sondagens apontam para que recolha menos de 1% das intenções de voto.

Maksim Suraikin

É um dissidente do Partido Comunista russo, que em 2012 fundou o sua própria força política, o “Comunistas da Rússia”. Suraikin, de 39 anos, aponta como principal objetivo político acabar com o capitalismo na Rússia e voltar a re-fundar a URSS.

Engenheiro de formação, Suraikin teve uma empresa de reparação de computadores e deu aulas na Universidade Estatal de Engenharia Ferroviária de Moscovo.

Para além de Putin, o seu outro opositor é Pavel Grudinin que foi nomeado candidato pelo Partido Comunista. Suraikin afirmou que Grudinin “tem muitos milhões de rublos” e é tudo menos um defensor da causa comunista.

O engenheiro goza de alguma popularidade entre os russos, em especial, porque sempre que fala em público ou para a comunicação social exige ser tratado por “camarada Suraikin”. As sondagens apontam para que venha a ter menos de 1% das intenções de voto.

Breve história de Putin no poder

Vladimir Putin tem governado a Rússia nas últimas duas décadas, alternando entre os cargos de Presidente e Primeiro-Ministro. E tudo indica que não será desta vez que saíra do Kremlin.

O ex-agente do KGB (serviços secretos russos) começou a sua carreira política nos anos 1990 quando se tornou o braço-direito de Anatoly Sobchak, então presidente da câmara de São Petersburgo.

Chegou ao governo do país em 1997, era Boris Yeltsin presidente, que o nomeou chefe dos serviços de segurança federais (o FDS, “sucessor” do KGB) e mais tarde foi indicado Primeiro-Ministro.

Quando Yeltsin se demitiu da presidência, em 1999, Putin assumiu o lugar. Foi eleito presidente no ano seguinte, em 2000, e quatro anos mais tarde foi reeleito para o segundo mandato presidencial.

Impedido pela constituição russa de se candidatar a um terceiro mandato consecutivo, Putin voltou ao cargo de Primeiro-Ministro durante a presidência de Dmitry Medvedev, entre 2008 e 2012. Nesse ano, Putin concorre novamente à presidência e ganha. Medvedev passa então a Primeiro-Ministro.

Putin, de 65 anos, deverá ser eleito no próximo domingo para o seu quarto mandato. Segundo a lei russa - e se a mesma não for alterada entretanto - este será o seu último mandato.

Comentários
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  • fanã
    16 mar, 2018 aveiro 18:04
    Com este Vlad , a farsa eleitoral não passa de um carnaval a moda Russa !
  • Anónimo
    16 mar, 2018 17:38
    Para que é que a Rússia tem eleições quando já se sabe o resultado?

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