27 mai, 2016 - 15:25
A grande reportagem “Encalhados no Quintal da Europa”, que a Renascença publicou esta semana, mostra "como o ser humano, dependendo das suas circunstâncias, pode dar-se por feliz com pequenas proezas”. O comentário é de Pedro Santana Lopes no programa “Fora da Caixa”, evocando o testemunho dos que lutam por um pedido de asilo em solo grego.
Comentando a reportagem “magnífica" de Catarina Santos em campos de refugiados da Grécia, o antigo primeiro-ministro sublinha a falta de funcionários gregos para lidar com os milhares de pedidos de asilo, que obrigam as autoridades a usar a plataforma Skype para processar os requerimentos.
Sofisticação inesperada
António Vitorino, antigo comissário europeu com a pasta da imigração, considera que a reportagem sublinha a sofisticação tecnológica de muitos migrantes que chegam à Grécia.
"Todos os refugiados têm hoje um ‘smartphone’ com GPS, com acesso à internet. Todas essas movimentações são hoje muito mais sofisticadas e coordenadas entre si. A informação passa com uma enorme rapidez. As autoridades não estavam preparadas para a sofisticação de que eles dão provas”, constata o antigo ministro socialista, profundo conhecedor das questões das migrações no espaço europeu.
Sublinhando que não está em causa "a natureza humanitária do problema e a necessidade de acorrer aos refugiados”, Vitorino apela a um olhar para lá das dificuldades evidentes das famílias para alimentar as crianças na frágil situação em que chegam á Grécia, insistindo nas "formas de auto-organização muito mais sofisticadas” dos migrantes com o objectivo de tentar chegar ao "El Dorado do seu imaginário, que é a Alemanha".
O porquê do limbo
A reportagem conta como 50 mil pessoas estão bloqueadas na Grécia, sem rumo definido, por diversas razões.
António Vitorino sustenta que o problema diz respeito a uma discrepância de expectativas no número de chegadas.
“O número de refugiados que vêem os seus pedidos de asilo aceites pela Grécia é muito superior àquilo que a UE estava à espera. Então gera-se esse limbo de pessoas que estão na Grécia, que pediram asilo e que não viram o seu asilo formalmente reconhecido mas cujos processos foram abertos”, explica o antigo comissário europeu.
Para Vitorino, essas pessoas vão permanecer na Grécia uma vez que não podem ser reenviadas para a Turquia nos termos do acordo entre a UE e a Turquia. "Como as autoridades gregas foram mais ‘generosas' do que se esperava, essas pessoas estão nessa situação, a aguardar uma decisão”, complementa Vitorino.