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Comissão para o diálogo inter-religioso do Porto publica Carta de Princípios

01 mar, 2024 - 12:15 • Olímpia Mairos

Documento une as religiões na construção da fraternidade humana.

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A Comissão para o Diálogo inter-religioso do Porto publicou uma Carta de Princípios unindo as religiões na construção da fraternidade humana.

“É em nome de Deus que somos convidados a essa fraternidade que recusa formas divisionistas e conflituais e discursos que convidam ao confronto e à desigualdade, à prevalência do estabelecimento de separações, em detrimento de pontes que abraçam e que acolhem”, lê-se no documento.

A constituição de uma comissão para o diálogo inter-religioso, surgiu da iniciativa do bispo do Porto, D. Manuel Linda e a elaboração da carta de princípios resulta de “um conjunto de encontros que ocorreram ao longo de mais de um ano, entre irmãos de vários credos que se abriram ao conhecimento, ao diálogo, à partilha das suas visões, às visitações dos seus locais de culto, visando sempre em estrito sentido, a construção da fraternidade humana”.

Segundo os signatários, “os princípios orientadores que se apresentam como pilares desta comissão para o diálogo inter-religioso, assumem o Homem na sua integralidade, enquanto ser biológico, psicológico, social, mas também, e sobretudo, na sua dimensão espiritual”.

Leia aqui o fundamental da carta de princípios:

É dessa dimensão espiritual, em primeira instância, expressa através da fé no Criador, mas também na assunção de uma presença do outro, um outro que é espelho de mim próprio, e por essa razão, igual a mim, que somos convidados a viver numa comunhão fraterna, que é acolhimento e guarida do outro.

É ainda dessa dimensão espiritual, em segunda instância integrada numa imanência que se apresenta sob as formas da natureza e do universo criados por Deus, que somos convidados a representar a condição de administradores, mas também de cuidadores, assumindo sempre a necessidade da preservação do ambiente e do desenvolvimento sustentável, em linha com os desígnios de Deus e assumindo o respeito pelo Seu ato criador. Assumindo esta missão perante Deus somos convidados à fraternidade para com a natureza e o ambiente, reforçando o nosso cuidado para com todas as formas de vida que nele habitam e para com o uso equilibrado e harmonioso dos seus recursos naturais.

É nessa dimensão espiritual que esta comissão encontra denominadores comuns associados ao dever de lançar um olhar sobre os pobres e carenciados, dos que são discriminados sob todas as formas, os inseguros, os órfãos, as viúvas, os sem-abrigo, os imigrantes tantas vezes desprotegidos, mas também os que se encontram em reclusão ou em situação de guerra e que procuram em todos os sentidos o conforto e a segurança de Deus.

É em nome de Deus que somos convidados a essa fraternidade que recusa formas divisionistas e conflituais e discursos que convidam ao confronto e à desigualdade, à prevalência do estabelecimento de separações, em detrimento de pontes que abraçam e que acolhem.

Fraternidade e estabelecimento da Paz mundial

É em nome de Deus que somos convidados à fraternidade e ao estabelecimento da paz mundial enquanto reduto do combate a todas as formas de extremismo: político, social, económico e também, e em última instância, pela responsabilidade acrescida de todos os crentes do combate ao extremismo religioso, que procura colocar o Homem no lugar de Deus, atribuindo erroneamente a este, um discurso de aniquilação do outro.

É em nome de Deus que, na nossa condição de crentes, somos convidados à fraternidade enquanto lugar de recusa das visões individualistas que ignoram a presença do outro e a noção de Bem Comum que nasce da construção coletiva e da consciência profundamente gregária do Homem.

É enquanto crentes que somos convidados à valorização da família, enquanto núcleo fundamental das sociedades, à preservação dos seus valores morais, e à valorização do seu papel na educação e no desenvolvimento das sociedades.

Partilhamos a crença em Deus Criador que nos moldou com a Sua Sabedoria divina e nos concedeu o dom da vida para o guardarmos. Um dom que ninguém tem o direito de tirar, ameaçar ou manipular a seu bel-prazer; pelo contrário, todos devem preservar este dom da vida desde o seu início até à sua morte natural.

Diálogo como caminho

Declaramos adotar a cultura do diálogo como caminho; a colaboração comum como conduta; o conhecimento mútuo como método e critério, e comprometemo-nos seriamente na difusão da tolerância, da convivência e da paz.

Este documento apresenta-se como forja a partir da qual a transversalidade dos valores da fraternidade, da reconciliação e da paz mundial é assumida por todos os credos que integram ou que virão a integrar esta comissão para o diálogo inter-religioso. Por essa razão, esta comissão deixa em aberto a outros credos o alcance da sua atuação e da sua abrangência, que se constituirão como mais próximos dos desígnios de Deus, quanto maior for a sua amplitude.

A comissão que assume a integridade desta carta de princípios compromete-se a pugnar pela defesa dos valores norteadores que a constituem, chamando a si a responsabilidade pela sua difusão e ampliação no seio dos crentes, dos não crentes e de todos aqueles que se assumem como indivíduos de boa vontade, de todos os lugares, circunstâncias e contextos.

Este documento deve ultrapassar a sua dimensão meramente teorética, procurando ganhar uma corporeidade efetivada sob a forma de iniciativas várias que incorporem a participação da sociedade civil, direta e indiretamente. Essa participação da sociedade civil deve ter sempre como fundamentos da sua presença os valores constituintes deste documento.

“Para que todos sejamos um e em unidade com o Criador”.

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