Siga-nos no Whatsapp
Afonso Cabral
Opinião de Afonso Cabral
A+ / A-

Análise

​Algumas verdades e a versão Fernando ‘Martínez’ Santos

02 jul, 2024 • Opinião de Afonso Cabral


O treinador e comentador Renascença Afonso Cabral analisa o Portugal-Eslovénia, dos oitavos de final do Euro 2024

Do jogo frente à Eslovénia, que culminou na suadinha vitória da marca das grandes penalidades, exaltam-se várias verdades. Algumas ‘la palicianas’, outras que enchem o coração, outras que são um indicador terrível para o que falta do Campeonato da Europa.

Em primeiro, vamos às ‘la palicianas’: Portugal parece não saber ganhar de outra forma. Sofrer até ao fim, algo que nos está na génese, seja no desporto ou na vida. A imaculada fase de qualificação foi um oásis no meio de um deserto de sofrimento a que nos temos vindo a habituar. Salvou-nos Diogo Costa, repetindo o feito histórico de Ricardo no Mundial 2006 – três penáltis defendidos.

Depois há que celebrar a capacidade camaleónica do adepto, que de insultos e críticas à exibição de Cristiano Ronaldo passou a um coro de apoio homogéneo ao capitão. Às lágrimas ninguém ficou indiferente. Eu próprio, que achei a exibição do eterno 7 pouco conseguida, fiquei a torcer desesperadamente para que conseguíssemos a vitória por ele após o penálti falhado, por tudo o que ele nos deu ao longo da carreira.

E as lágrimas têm um paralelismo muito grande com a exibição que fez. Ora, a vontade de vir buscar jogo, a vontade de resolver sozinho (olhe-se aos livres diretos) e o desespero, muitas vezes mesclado com a ganância, explicam essas mesmas lágrimas. Afinal, Ronaldo tem o peso de uma nação em cima, sente que tem de ser ele a resolver e fica frustrado quando não consegue. Os olhos vão estar apontados para ele, no bom e no mal.

Dentro deste parâmetro ainda, olho de outro prisma: a visão do treinador. E é alarmante perceber que na seleção continuam a haver jogadores intocáveis. Ronaldo, Bruno Fernandes e Bernardo Silva fizeram um jogo pouco conseguido. Os primeiros a sair? Vitinha e Rafael Leão, os dois maiores agitadores do jogo luso.

As substituições não melhoraram a equipa e no final a cereja no topo do bolo: Rúben Neves para dentro de campo quando o empate não servia as nossas pretensões. A título de exemplo, Matheus Nunes (que jeito daria num jogo que se partia de forma visível a cada minuto), João Félix, João Neves, Gonçalo Ramos e Pedro Neto não saltaram do banco. Uma versão Fernando ‘Martínez’ Santos que espero que não voltemos a ver.

Na conferência de imprensa, o treinador voltou a falar de um jogo muito bem conseguido frente a um adversário muito difícil. Senti que estava a ouvir Roger Schmidt em 2023/24. Não é verdade e Portugal precisa de ser melhor.

O jogo contra a França marca o reencontro da final do Euro 2016, e esperemos que o desfecho seja o mesmo. Eu acredito nisso, e na elevação do jogador português contra adversários mais ‘ao seu nível’. A França não tem deslumbrado, e mesmo que Portugal também não, tem de pensar estar na final de 14 de julho.

Por fim, deixo apenas uma nota de rodapé que me parece interessante. Ao longo de todo o Europeu temos assistido a relvados impraticáveis em que a bola tem dificuldades em rolar. Jogadores constantemente a escorregar e tufos de relva um pouco por toda a parte. Não é admissível numa fase final de um Europeu, nem num país de cultura futebolística como a Alemanha.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.