Como nasceu a JMJ? Um legado de João Paulo II aos jovens e à Igreja

21 jul, 2023 - 06:00 • Aura Miguel

O Papa João Paulo II lançou a semente da Jornada Mundial da Juventude e a semente deu frutos. “A «Cruz de Cristo!», levai-a pelo mundo", declarou. Ao longo dos anos juntou milhões de jovens em vários pontos do mundo. Dentro de poucos dias, é a vez de Portugal receber a JMJ.

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Seis momentos para a história da JMJ
Seis momentos para a história da JMJ

A ideia da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) nasceu com o Papa João Paulo II. Ainda sacerdote e mesmo depois de ser bispo, organizava com os mais novos saídas para as montanhas com passeios e campos de férias, dando aos jovens a oportunidade de partilharem com Wojtyla as suas dúvidas, inquietações, esperanças e desejos do coração. Esta opção preferencial nunca abandonou o seu percurso de pastor e, depois de eleito Papa, reforçou esta preferência de forma inovadora.

Nas suas viagens apostólicas pelo mundo passou a incluir encontros com jovens e, a 14 de maio de 1982, durante a visita apostólica a Portugal, celebrou missa no Parque Eduardo VII para uma jovem e colorida multidão, a perder de vista. Nessa homilia declarou:

“Deus deu-me a graça de amar muito os jovens. Por isso, gostaria de falar-vos como um amigo fala ao seu amigo, com cada um individualmente, olhos nos olhos, de coração a coração.”

Meses depois, esta atenção redobrada aos adolescentes e jovens viria a assumir novos contornos que perduram até hoje.

A 23 de março de 1983, o Papa inaugura o Ano Santo da Redenção (que assinala os 1950 anos da Paixão de Jesus) e convoca os jovens de vários continentes para um encontro, em Roma, no Domingo de Ramos de 1984. Os organizadores esperam 60 mil participantes, mas o jubileu da juventude atinge os 250 mil.

A multidão juvenil, de boné branco na cabeça, ocupa toda a Praça de São Pedro e ruas adjacentes. “Quem disse que a Juventude já perdeu o sentido dos valores e já não se pode contar com ela?”, questionou João Paulo II, considerando a experiência “gloriosa e consoladora” daqueles dias pelo exemplo que os jovens deram “de fraternidade e coragem, em aberta profissão de fé”.

Oito dias depois, na missa de encerramento do jubileu, João Paulo II confia-lhes a Cruz do Ano Santo da Redenção, dizendo: “A «Cruz de Cristo!», levai-a pelo mundo, como sinal do amor do Senhor Jesus pela humanidade, e anunciai a todos que só em Cristo, morto e ressuscitado, há salvação e redenção.”

A Cruz ainda hoje percorre o mundo, até chegar às cidades onde se realiza a JMJ.

No ano seguinte, a ONU proclama 1985 o “Ano Internacional da Juventude” e o Papa associa-se às celebrações. Convoca de novo os jovens para mais um encontro no Domingo de Ramos, em Roma. A resposta é surpreendente: 500 mil invadem a capital italiana e, antes do encontro com o Santo Padre, espalham-se pelas igrejas da cidade, em vários momentos de oração e catequese.

“Foi uma experiência maravilhosa e inesquecível”, comenta o próprio João Paulo II que decide então passar a celebrar, cada dois ou três anos, num país e continente diferentes, a Jornada Mundial da Juventude.

JMJ é para todos e convida a uma opção

A diversidade de Jornadas Mundiais da Juventude é fascinante e, ao longo das décadas, encarna nas cidades e respetivas realidades que as definem. Mas no meio de tanta variedade, há um fio condutor, como explicou o próprio João Paulo II em 1995, na cidade de Manila, perante quatro milhões e meio de pessoas:

“A Boa Nova é para todos. Por este motivo, a Jornada Mundial da Juventude realiza-se em diferentes lugares. A Cruz peregrina passa de um continente para o outro e os jovens de todo o lado reúnem-se para experimentarem juntos o facto de que Jesus Cristo é o mesmo para cada um e que a sua mensagem é sempre a mesma. Nele, não há divisões, nem rivalidades étnicas, nem discriminações sociais. Todos são irmãos e irmãs na única família de Deus.”

Em Toronto, na sua última JMJ, João Paulo II também deixou uma indicação sobre o real objetivo de encontros mundiais deste tipo. “Jesus oferece uma coisa, enquanto "o espírito do mundo" oferece múltiplas ilusões, numerosas paródias da felicidade”.

E deixou um desafio aos milhares de jovens reunidos para a missa de encerramento: “A maior utopia, a maior fonte da infelicidade consiste na ilusão de encontrar a vida renunciando a Deus, de conquistar a liberdade excluindo as verdades morais e a responsabilidade pessoal e deixou um. O Senhor convida-vos a escolher entre estas duas vozes, que concorrem para se apoderar da vossa alma. Esta opção constitui a substância e o desafio da Jornada Mundial da Juventude."

Visibilidade da fé que dá coragem

A experiência de Bento XVI nas JMJs foi revelada pelo próprio, a caminho de Madrid, em 2011, a última em que participou.

Interrogado pelos jornalistas sobre esta iniciativa criada pelo Papa anterior, Ratzinger não hesitou: “Após duas Jornadas Mundiais da Juventude vividas pessoalmente, só posso dizer que foi deveras uma inspiração a que o Papa João Paulo II nos ofereceu, ao criar esta realidade de um grande encontro dos jovens e do mundo com o Senhor. Diria que estas Jornadas Mundiais da Juventude são um sinal, uma cascata de luz; dão visibilidade à fé, à presença de Deus no mundo e criam assim a coragem de ser crente.”

Também o Papa Francisco, em 2019, no Panamá, sublinhou que “esta Jornada não se revelará fonte de esperança apenas por um documento final, uma mensagem consensual ou um programa a aplicar. Aquilo que dará mais esperança neste encontro serão os vossos rostos e a oração”. Por isso, cada JMJ traz em si um impulso missionário.

“Cada um regressará a casa com aquela força nova que se gera sempre que nos encontramos com os outros e com o Senhor, cheios do Espírito Santo para lembrar e manter vivo aquele sonho que nos faz irmãos e que somos convidados a não deixar congelar no coração do mundo”, recomendou Francisco.

Novos desafios nesta “mudança de época”

Ao considerar estes 40 anos de história e a riqueza de tantas edições espalhadas pelo mundo, com sucessivas gerações de cristãos a dizerem “sim” aos convites do sucessor de Pedro, Francisco sublinha o vigor daquela intuição original de João Paulo II. E agora, já de olhos postos em Lisboa, faz uma avaliação.

“As JMJs foram e continuam a ser momentos fortes para a experiência de tantos adolescentes, de tantos jovens e a inspiração inicial que moveu o nosso amado Papa Wojtyla não perdeu a força”, escreve o Santo Padre no Prefácio do livro “Um longo caminho até Lisboa”.

Por isso, quando chegar a Portugal, certamente não faltarão preciosas recomendações de Francisco aos jovens e indicações de caminho porque, como ele próprio reconhece, “a mudança de época que, mais ou menos conscientemente, estamos a viver, representa um desafio também e sobretudo para as jovens gerações”.

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