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OIT: ​Crises agravaram a desigualdade, mas desemprego diminuiu

31 mai, 2023 - 15:31 • Sandra Afonso

Organização Internacional do Trabalho defende que aumento do investimento em proteção social traria grandes benefícios económicos, sociais e para o mercado de trabalho.

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As crises agravaram a desigualdade, mas diminuiu o desemprego. São conclusões da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estima menos um milhão de desempregados este ano, para um total de 191 milhões. Ou seja, é o regresso aos níveis pré-pandemia.

São boas notícias, mas esta recuperação não atinge todos os países por igual. Este crescimento reflete "uma resiliência maior do que a esperada nos países de alta renda, e não uma recuperação generalizada", sublinha a OIT.

Segundo a 11.ª edição do ILO Monitor sobre o Mundo do Trabalho, a região da América Latina e Caribe irá reduzir as taxas de desemprego "abaixo dos níveis pré-crise" da covid-19, assim como o norte, oeste e sul da Europa e a Ásia Central e Ocidental.

Já os países de baixo rendimento em África e na Região Árabe ainda não vão recuperar este ano para os níveis de desemprego anteriores à pandemia.

Fosso crescente nos níveis de emprego

No novo indicador sobre défice de emprego ("jobs gaps"), que abrange todos os que gostariam de trabalhar mas não encontram emprego, os países de baixo rendimento são mais uma vez os mais afetados.

Os de baixo rendimentos registam a maior taxa de défice de emprego, com 21,5%, que compara com pouco mais de 11% nos países de rendimento médio. Nos países de rendimento elevado as taxas rondam os 8,2%.

As restrições financeiras e orçamentais dificultam as respostas em países em desenvolvimento a ameaças complexas, como conflitos, catástrofes naturais e crises económicas, que tendem a reforçar-se (uma policrise), agravando o défice de emprego.

É preciso mais proteção social

Segundo este relatório, o aumento do investimento em proteção social traria grandes benefícios económicos, sociais e para o mercado de trabalho, e reduziria a segmentação global em termos de emprego.

Dá como exemplo as pensões de velhice nos países de médio-baixo e baixo rendimento, onde apenas 38,6% e 23,2% dos idosos recebem uma pensão, respetivamente. Já a nível global a percentagem é de 77,5%.

Segundo este estudo, se fossem introduzidas pensões de velhice básicas universais nos países em desenvolvimento o PIB per capita aumentaria quase 15% em 10 anos e reduziria a pobreza extrema em 6 pontos percentuais (a taxa atual é de 15,5%).

A OIT defende ainda “apoio financeiro global à criação de emprego e à proteção social durante um período de crises e choques múltiplos”.

O objectivo é garantir que a recuperação e reconstrução económicas não deixam ninguém para trás e que apoiem uma transformação estrutural de longo prazo, com “margem orçamental para investimentos sociais nos países de baixo rendimento”.

“Esta questão deve ser considerada com urgência no âmbito do atual debate mundial sobre a reforma da arquitetura financeira internacional”, sublinha a OIT.

O diretor-geral da OIT, Gilbert F. Houngbo, lembra que “investir nas pessoas através do emprego e da proteção social ajudará a reduzir o fosso entre as nações e os povos ricos e pobres.”

Por esta razão, “a OIT está a lançar uma Coligação Global para a Justiça Social”, diz Houngbo. “A Coligação reunirá um vasto leque de organismos multilaterais e de outras partes interessadas. Contribuirá para posicionar a justiça social como a pedra angular da recuperação global e torná-la uma prioridade nas políticas e ações nacionais, regionais e globais», explica o diretor-geral da OIT.
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