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Entre o mundo real e o digital, o criador do ChatGPT procura a fórmula para a imortalidade

14 abr, 2023 - 14:22 • Pedro Valente Lima

Sam Altman é o presidente executivo de uma das empresas mais populares do momento. A OpenAI plantou a semente da inteligência artificial e já está a colher frutos à escala mundial. No entanto, as ambições do criador do "chatbot" mais famoso do momento vão para lá do mundo físico, investindo na longevidade do ser humano - mesmo que em formato digital.

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Numa das várias declarações que já prestou ao The New York Times, o fundador do ChatGPT chegou a comparar os avanços na Inteligência Artificial com a bomba atómica.

Quer isto dizer, não a tecnologia em si. Sam Altman compara a dimensão da OpenAI - empresa por trás do ChatGPT - ao Projeto Manhattan, responsável pela produção das primeiras bombas nucleares da História.

Ao mesmo jornal, o empreendedor norte-americano salientou que os esforços para criar esse armamento foram "um projeto à escala do OPenAI" e que é a esse "nível de ambição que aspiram chegar".

Tal como a bomba atómica, a Inteligência Artificial é uma inevitabilidade do progresso científico, defende. "A tecnologia acontece, porque é possível."

O que também parece ser inevitável é, certamente, a morte. Algo que Sam Altman, aparentemente, pretende evitar - ou adiar o máximo que conseguir.

A fixação do fundador do ChatGPT na longevidade humana - senão mesmo pela imortalidade - não é, contudo, novidade. Em 2018, Altman pagou 10 mil dólares (cerca de nove mil euros) para "digitalizar" a sua mente.

Segundo o MIT Technology Review, o CEO da OpenAI foi uma das 25 pessoas que, há cinco anos, investiu na Nectome, uma startup que oferece serviços de "preservação e arquivamento" do cérebro humano, com o intuito final de, no dia em que os avanços científicos o permitirem, transferir a mente para o mundo digital.

Questões legais e éticas

À revista, Sam Altman admite não ter dúvidas de que a tecnologia necessária para finalizar o processo será alcançada ainda durante a sua vida: "Assumo que o meu cérebro vai ser carregado na cloud."

Há um senão neste back-up: o procedimento é "100% fatal". Para se conservar o cérebro, é necessário que este esteja "fresco", escreve o MIT Technology Review.

Nesse sentido, o plano da empresa passa por ligar as pessoas, sob anestesia geral, a um sistema de oxigenação por membrana extracorporal, num processo conhecido como ECMO ("Extra Corporeal Membrane Oxygenation"), a partir do qual se injeta uma mistura de químicos de embalsamamento nas artérias da carótida.

Na prática, "a experiência é idêntica à de um suicídio medicamente assistido", sublinha Robert McIntyre, cofundador da Nectome.

O produto levanta muitas questões legais - bem como éticas -, mas a empresa californiana garante ter contactado advogados a propósito do "End of Life Option Act", legislação que permite o suicídio assistido no estado da Califórnia para doentes terminais.

É nesse enquadramento que McIntyre acredita na legalidade do serviço. Contudo, o MIT Technology Review nota que a companhia ainda não tem licença e muito menos a tecnologia para concretizar o procedimento nos próximos anos.

A eterna procura pela "fonte da juventude"

O interesse de Sam Altman remonta já a 2015, nota o MIT Technology Review. Nessa altura, o CEO da OpenAI mostrava-se curioso pela investigação em "sangue jovem", mais concretamente, estudos sobre a transfusão de sangue de organismos mais novos para organismos mais velhos.

Num dos trabalhos de investigação financiados pela Y Combinator - empresa aceleradora de startups presidida por Altman à época -, os cientistas cosiam um rato jovem a um rato mais velho, com o intuito de as cobaias partilharem apenas um sistema circulatório.

A experiência acaba por ter resultados "surpreendentes": o rato mais velho parecia parcialmente rejuvenescido. Desde então, o empreendedor norte-americano começou a olhar com outro interesse para a indústria de antienvelhecimento.

Com o investimento "parado" na Nectome, o criador do ChatGPT não perde tempo em apostar em vias alternativas. A mais recente incluiu a injeção de 180 milhões de dólares (quase 163 milhões de euros) na Retro Biosciences.

A empresa surgiu em meados de 2022 sob uma neblina "misteriosa", aponta a MIT Technology Review, com "investidores anónimos". No entanto, a mesma revista conseguiu desvendar a identidade do "mecenas" principal: Sam Altman.

A empresa, com sede em São Francisco, na Califórnia, foca a sua atividade na "reprogramação celular, autofagia e nas terapias à base de plasma" e tem um grande objetivo: "adicionar mais 10 anos à esperança média de vida do ser humano saudável".

Segundo a mesma revista de ciência e tecnologia, um dos atuais projetos da Retro Biosciences passa por testar o "rejuvenescimento das células T, parte do sistema imunitário que desempenham um papel importante no combate a infeções e na desaceleração do cancro".

Apesar destas aventuras mais desligadas da Inteligência Artificial, o criador do ChatGPT não deixa de se inspirar nos "esforços" do projeto da OpenAI. Altman reconhece que as empresas do ramo da biotecnologia progridem lentamente, mas não se mostra preocupado com o tempo que pode demorar a alcançar resultados.

"O principal objetivo da Retro é ser uma startup de biotecnologia realmente boa, porque isso é uma coisa rara", conclui. "É ao combinar o bom trabalho na ciência com os recursos de uma grande empresa, e com espírito de startup, que se fazem as coisas."

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