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Portugal organiza conferência internacional sobre incêndios, anuncia Costa

08 nov, 2022 - 12:00 • Cristina Nascimento

Evento vai realiza-se em 2023. Primeiro-ministro falava na Cimeira do Clima, COP 27, que se realiza no Egito.

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Portugal vai acolher uma conferência internacional sobre incêndios florestais. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro António Costa, na intervenção que fez na Cimeira do Clima que se realiza no Egito.

No seu discurso, feito em português, Costa quis dar "uma palavra muito dolorosa sobre os incêndios rurais", um tema que segundo o primeiro-ministro "nem sempre abordada neste fórum, mas da maior importância para a redução de emissões e para a capacidade de a floresta desempenhar o seu papel de sequestro de carbono".

"A verdade é que se estima que 6% das emissões mundiais de CO2 resultem de incêndios de causa humana. Em anos mais extremos, pode chegar a representar 20%", acrescentou, defendendo ainda que "melhorias significativas nas políticas e nos processos de prevenção e extinção de incêndios" serão "um importante contributo para a redução de emissões e a defesa das florestas".

Neste contexto, anunciou, que será organizada "em Portugal a oitava International Wildland Fire Conference (8th IWFC), onde se pretende construir um referencial do risco de incêndio e o modelo de governança do mesmo".

O evento vai realizar-se na Alfândega do Porto, entre 16 e 19 de maio, e já tem site disponível.

No seu discurso, António Costa referiu ainda que, este ano, Portugal coorganizou com o Quénia, em Lisboa, a 2.ª Conferência dos Oceanos em Lisboa, e anunciou uma segunda edição desta conferência.

"A gestão sustentável dos oceanos é também central para a nossa resiliência às alterações climáticas. Destaco, nesse âmbito, o Fórum de Investimento em Economia Azul Sustentável, no qual foram assumidos compromissos no valor de 10 mil milhões de euros. Dado o sucesso desta iniciativa, iremos realizar em 2023 a segunda edição deste fórum", acrescentou.

Guerra, crise energética e o corredor verde

Anónio Costa começou o seu discurso começando por lembrar o contexto de guerra na Ucrânia, considerando que as consequências do conflito "têm mostrado quão necessário é acelerar a transição energética e diminuir a dependência dos combustíveis fósseis".

"Portugal, que há mais de 15 anos iniciou a aposta nas energias renováveis, é um exemplo de como investir na transição nos garante que somos menos dependentes e mais seguros do ponto de vista energético", afirmou, acrecestando também "que o hidrogénio verde e outros gases renováveis são energias para o futuro. E alcançámos há poucos dias um acordo com a França e a Espanha para a criação de um corredor verde para servir o Centro da Europa".

Leia o discurso de António Costa na íntegra:

Senhor Presidente da COP27,
Excelências,
Minhas Senhoras e meus Senhores,


A ciência é clara: a emergência climática é já uma crise que nos afeta hoje.
O drama da guerra na Ucrânia não nos pode desviar da urgência da resposta aos desafios das alterações climáticas.
Na verdade, as consequências desta guerra só nos têm mostrado quão necessário é acelerar a transição energética e diminuir a dependência dos combustíveis fósseis.
Todos somos afetados pela dramática escalada de preços na energia decorrente desta guerra, deixando milhões em situação de pobreza energética.
Portugal, que há mais de 15 anos iniciou a aposta nas energias renováveis, é um exemplo de como investir na transição nos garante que somos menos dependentes e mais seguros do ponto de vista energético.
Não podemos recuar nos nossos compromissos.
Importa que saiamos de Sharm el-Sheikh com uma visão clara e que nos permita obter resultados das questões da mitigação ao financiamento, passando pela adaptação e revisão das contribuições nacionais.
Este esforço tem de ser liderado pelos países desenvolvidos e pelos países grandes emissores.
Excelências,
Portugal não perde de vista os seus compromissos.
As nossas metas são ambiciosas, mas temos conseguido cumpri-las e até antecipá-las.
Acreditamos que a transição energética justa pode ser sinónimo de crescimento e prosperidade económica.
Mas é acima de tudo um imperativo moral: como Líderes, devemo-la às nossas populações, ao resto do mundo, e às gerações futuras.
Com a entrada em vigor, este ano, da primeira Lei de Bases do Clima, reforçamos o nosso objetivo de atingir a neutralidade carbónica até 2050, com o compromisso de estudar a viabilidade da sua antecipação até 2045.
Desde Glasgow, conseguimos antecipar em 2 anos o encerramento das nossas últimas centrais a carvão, que já deixaram de funcionar no ano passado e não vamos reativar.
Continuamos também a apostar nas renováveis e temos a capacidade e a ambição de passar de importadores de energia fóssil a exportadores de energia verde.
Hoje, as renováveis representam já cerca de 60% da eletricidade consumida. Queremos atingir os 80% até 2026.
Estamos também convictos de que o hidrogénio verde e outros gases renováveis são energias para o futuro. E alcançámos há poucos dias um acordo com a França e a Espanha para a criação de um corredor verde para servir o Centro da Europa.
Uma palavra muito dolorosa sobre os incêndios rurais. Uma realidade nem sempre abordada neste fórum, mas da maior importância para a redução de emissões e para a capacidade de a floresta desempenhar o seu papel de sequestro de carbono.
A verdade é que se estima que 6% das emissões mundiais de CO2 (1,9BtonCo2) resultem de incêndios de causa humana. Em anos mais extremos, pode chegar a representar 20%.
Melhorias significativas nas políticas e nos processos de prevenção e extinção de incêndios são assim um importante contributo para a redução de emissões e a defesa das florestas.
É nesse quadro que, em 2023, organizaremos em Portugal a oitava International Wildland Fire Conference (8th IWFC), onde se pretende construir um referencial do risco de incêndio e o modelo de governança do mesmo.
Convidamos todos os países a participar.

Excelências,
Mas se estamos a fazer a nossa parte não podemos também esquecer as nossas responsabilidades no esforço global de financiamento.
Esta COP, realizada em África, tem de conseguir também dar respostas aos problemas deste continente.
Portugal tem vindo a intensificar a cooperação para a ação climática.
Em setembro passado, assinámos com o Banco Africano de Desenvolvimento um acordo de garantias de 400 milhões de euros, para apoiar o investimento nos PALOP, em setores prioritários tais como as energias renováveis.
Mas pretendemos fazer mais. No quadro da Estratégia da Cooperação Portuguesa 2030, que estamos a finalizar, teremos um pilar dedicado ao “Planeta” e iremos reforçar em 25% o apoio aos nossos parceiros da cooperação neste domínio.
Excelências,
A gestão sustentável dos Oceanos é também central para a nossa resiliência às alterações climáticas.
E importa também nesse domínio que prossigamos políticas baseadas na ciência.
Foi nesse espírito que co-organizamos com o Quénia a 2.ª Conferência dos Oceanos em Lisboa. Destaco, nesse âmbito, o Fórum de Investimento em Economia Azul Sustentável, no qual foram assumidos compromissos no valor de 10 mil milhões de euros.

Dado o sucesso desta iniciativa, iremos realizar em 2023 a 2ª edição deste Fórum.


Excelências,
O diálogo multilateral é fundamental para atingir os objetivos de Paris e encontrar as respostas para fazer face aos desafios globais.
Juntos, podemos caminhar rumo a sociedades neutras em carbono. Sociedades resilientes aos impactos das alterações climáticas. Sociedades que gerem de forma eficiente, circular e sustentável os seus recursos.
Sociedades movidas por energias renováveis e apoiadas num princípio de transição justa.
É esta a sociedade que Portugal deseja construir. É este o caminho da paz, da prosperidade e do desenvolvimento sustentável.
Obrigado!
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