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“Os alemães não querem mudar”

22 set, 2013 - 12:02 • José Pedro Frazão, enviado da Renascença a Berlim

Em dia de eleições, o analista Eckart Stratenschulte olha a política alemã, fala de Angela Merkel, a união bancária europeia e ainda da percepção dos alemães em relação aos portugueses.

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Uma campanha sem chama dá lugar a uma eleição que, a julgar pelos números, deveria ser mais renhida. Há apenas dez pontos de diferença entre CDU e SPD e Merkel não sabe com quem deverá coligar-se a partir de agora, mas ninguém acredita que não vença. É também a opinião do analista Eckart Stratenschulte, director da Academia Europeia de Berlim, entrevistado pela Renascença.

Não está à espera de uma grande mudança a partir de segunda-feira?
Não. E na verdade os alemães não querem mudar. A maioria acredita que nós estamos bem e que o melhor é continuar como estamos. Nesse caso, a discussão pode apenas centrar-se nos défices relacionados com as despesas sociais.

Não vale a pena alimentar cenários de alterações na política económica?
Não há muitas hipóteses. Há uma norma constitucional que obriga a redução do défice praticamente a zero em 2014. Isto é limitativo para qualquer novo Governo. As discussões sobre políticas sociais centram-se em questões como: devemos dar dinheiro a jovens mães para ficarem em casa com os filhos ou antes investir em infantários e centros de dia? Há também um debate em curso sobre um salário mínimo geral ou se, em alternativa, deve variar de região para região, e de profissão para profissão. Visto de fora, estas são questões sociais menores.

Fala numa ilusão. Isso estende-se à política europeia da Alemanha?
Os grandes partidos políticos seguem as mesmas ideias sobre a Europa. O sentimento popular sobre estes temas não deixa também grande espaço de manobra ao Governo.

E alguma coisa pode mudar nesse domínio com o desfecho do caso que opõe o BCE e o Banco Central Alemão?
Os partidos políticos estão também de acordo e há limitações constitucionais que garantem o controlo da questão pelo Parlamento alemão. A União Bancaria não é um tema de grande discordância entre diversos partidos. É mais uma questão de posição alemã face à britânica, por exemplo.

Mas Merkel pode sentir-se mais livre para outro tipo de decisões depois das eleições.
Merkel tem muito poder, mas precisa sempre de uma maioria. E a CDU também inclui vozes críticas nesta matéria. A sua margem de manobra é limitada, embora possa ser o seu último mandato e sentir outra liberdade. Ela vai sempre precisar de uma maioria parlamentar, o que a limita no que pode querer fazer.

E o que dizer da possibilidade de chegada ao Parlamento dos eurocépticos do AFD?
O AFD tem dois caminhos. Ou falham e passam à história ou conseguem uma representação parlamentar e isso pode forçar os conservadores a uma coligação. Há quem diga que pode ser um parceiro de coligação se chegar aos 5%. Eu não vejo as coisas assim porque são muito críticos da união monetária, que é um tema sagrado para a maior parte dos partidos. O AFD não é um partido com um programa claro. Não têm posições sobre política social ou assuntos de defesa ou relações internacionais. Não é possível fazer uma coligação com um partido desses. É provável que eles atraiam votos conservadores e se eles, por exemplo, obtiverem 4,9% podem não entrar no Parlamento mas tiram votos aos conservadores ou ao partido liberal. Os danos são mais à direita do que às formações à esquerda como o SPD ou os Verdes.

Como descreve a forma como os alemães vêem Portugal?
A atitude em relação a Portugal é muito positiva. Ao contrário, os gregos são muito criticados, devido ao seu comportamento, ao não cumprimento de promessas, à forma como as manifestações atingem os alemães. Há compreensão em relação à situação difícil em Portugal. A Irlanda é um caso diferente, a maioria pensa que foi um “mal-entendido da história” relacionado com a banca. Há diferentes diagnósticos em relação aos problemas do Sul.

E esta mudança de sistema eleitoral justifica-se?
Sim, o nosso sistema estava mais concentrado nas percentagens de voto em forças políticas e menos nas personalidades que estão na corrida. Tínhamos mais candidatos eleitos directamente do que o partido.

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