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Paula Rego mostra o lado de "caçadora furtiva"

17 dez, 2015 - 21:06

Exposição mostra mais de uma centena de obras da artista portuguesa, que foram inspiradas em obras-primas de grandes mestres como Leonardo da Vinci, Botticelli, Caravaggio, Rembrandt ou Rubens.

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"Caçadora Furtiva" é o nome da nova exposição de Paulo Rego, que a partir desta sexta-feira apresenta mais de uma centena de obras da artista portuguesa inspiradas em grandes mestres britânicos.

Em 1990, Paula Rego foi desafiada a explorar as reservas da National Gallery, em Londres. Durante 18 meses, a artista montou o seu atelier numa cave do museu e daí saíram algumas das obras agora expostas na Casa das Histórias, em Cascais.

“O desafio era ela criar uma obra que acabasse por traduzir o sentido da colecção. Essa obra foi finalizada em 1991, a partir de uma obra de integra hoje a ala norte da National Gallery, intitulado ‘O Jardim de Crivelli’, que é um painel de oito metros por dois. É uma obra que, no fundo, acaba por recolher a iconografia das obras com que o olhar de Paula Rego se cruzou”, explica a curadora da exposição, Catarina Alfaro.

O mural “O Jardim de Crivelli” encontra-se na cafetaria da National Gallery, fundada em 1824, que constitui um dos mais importantes museus europeus e um dos mais visitados em todo o mundo.

A galeria londrina acolhe uma colecção com mais de 2.000 pinturas criadas desde o século XIII até o início do século XX, com obras-primas de grandes mestres, como Leonardo da Vinci, Botticelli, Caravaggio, Rembrandt ou Rubens.

Catarina Alfaro conta como surgiu o nome da exposição: “Quando ela se relaciona com outras obras, com os mestres antigos, ela não copia as pinturas, ela não ilustra aquelas pinturas, ela integra e comporta-se como uma caçadora furtiva. E o termo é dela”.

Entre as obras desta nova exposição está uma inédita em Portugal, intitulada "A Artista no seu Atelier", criada depois desta estada na galeria londrina, "em que a pintora portuguesa se retrata a si própria, inserida neste contexto exploratório do que é ser uma artista a relacionar-se com os grandes mestres da pintura antiga".

Na pintura, Paula Rego "surge rodeada de uma série de adereços simbólicos que vêm do atelier de artista, e ela própria assume uma postura bastante masculina, com um cachimbo, numa posição pouco comum às mulheres pintoras".

Catarina Alfaro explicou que, "no fundo, a obra reflecte sobre a auto-referenciação da artista na História da Arte e nessa percepção do que é ser artista e ser mulher, e em que termos é necessário a uma mulher afirmar-se num mundo que tem mais artistas homens".

Todo o percurso de vida e criação artística de Paula Rego se reflecte na obra da pintora, que, aos 17 anos, na década de 1960, foi estudar para Londres, pelas dificuldades de ser artista em Portugal, numa altura em que se vivia a ditadura de Oliveira Salazar.

Desde então que a obra da pintora ficou marcada por reflexões sobre temas sociais, sobretudo os relacionados com as mulheres, nomeadamente o aborto e os casamentos combinados.

Na mostra encontram-se obras importantes do percurso da pintora, desde os anos 1990, entre elas a série "Vanitas", criada para a Fundação Calouste Gulbenkian, "O Tempo passado e presente", "Mãe", "Anjo" e "Entre as Mulheres", provenientes de colecções britânicas e também portuguesas, como Serralves, além da colecção da Casa das Histórias.

Paula Rego, que reside em Londres, onde continua a pintar diariamente no seu ateliê, segundo o filho, Nick Willing, que virá a Cascais para a inauguração, em representação da mãe, actualmente com 80 anos.

A exposição "Caçadora Furtiva" vai estar patente ao público até 24 de Abril do próximo ano, na Casa das Histórias, em Cascais.

Este é um dos temas em destaque no programa “Ensaio Geral, que pode ouvir na Renascença, na sexta-feira, pelas 23h30.

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