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Vila Nova de Foz Côa

Padre detido por abusar sexualmente de homem com incapacidades

27 out, 2022 - 12:57 • Celso Paiva Sol , Ângela Roque

O detido, de 63 anos de idade, sem antecedentes criminais, deverá ser ouvido sexta-feira por um juiz de instrução criminal. Até lá, fica detido na PJ do Porto. O caso estava a ser investigado há um mês, na sequência de uma denúncia às autoridades. Diocese desconhecia suspeitas, mas vai abrir processo canónico.

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A Polícia Judiciária (PJ) deteve, esta quinta-feira, na zona de Foz Côa, um padre de 63 anos suspeito dos "crimes de tráfico de pessoas e abuso sexual de pessoa incapaz de resistência".

Em comunicado, a Judiciária explica que o detido é tutor da vítima desde 2017, tendo-a "acolhido na sua residência, oferecendo-lhe trabalho, em troca de alojamento e alimentação, sem qualquer outro pagamento".

"Aproveitando-se das incapacidades psíquicas e da especial vulnerabilidade da vítima", o arguido terá depois exigido serviços sexuais, fechando a vítima em casa e impedindo-a de contactar com o exterior "quando recusava aceder aos seus propósitos".

Fonte ligada à investigação explicou à Renascença que a detenção ocorreu esta manhã, na sequência de buscas realizadas nas instalações de uma Igreja e na residência do sacerdote, que tem a seu cargo várias paróquias da Zona Pastoral de Vila Nova de Foz Côa, uma delas a de Numão. O concelho faz parte do distrito da Guarda, mas pertence à diocese de Lamego.

O caso estava a ser investigado há cerca de um mês, na sequência de uma denúncia às autoridades.

O comunicado da PJ adianta ainda que a vítima, um homem de 44 anos de idade, "vai ser instalada num centro de acolhimento e proteção especializado para vítimas de tráfico de seres humanos".

O sacerdote que hoje foi detido tem 63 anos, só foi ordenado padre em 2013 e não tem antecedentes criminais. Deverá ser ouvido sexta-feira por um juiz de instrução criminal. Até lá, fica detido na PJ do Porto.

Diocese de Lamego desconhecia suspeitas

Contactada pela Renascença, a Diocese de Lamego diz que a notícia da detenção do sacerdote caiu como "uma bomba", surpreendendo todos.

O padre Amadeu Castro, coordenador da Comissão Diocesana de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis, garante que nunca tiveram conhecimento do caso, nem receberam qualquer denúncia, "nem nós, nem o senhor bispo”.

“Foi uma surpresa, porque reunimos na última sexta-feira (a Comissão) e não tínhamos nenhuma notícia ou sinalização".

A diocese vai agora atuar cumprindo as regras previstas, mas primeiro terão de ouvir o sacerdote suspeito. "As instâncias responsáveis - diocese e Comissão - vamos desde já assumir as nossas próprias diligências para averiguar a situação. Temos a base comum de atuação das comissões diocesanas e temos que atuar segundo essa base comum. Esta notícia, quer queiramos quer não, é a receção de uma sinalização", explica aquele responsável.

O bispo de Lamego, D. António Couto, irá abrir um processo canónico, mas primeiro quer ouvir o sacerdote suspeito. "Temos de ouvir as pessoas, inteirarmo-nos de toda a situação", refere Amadeu Castro.

O responsável da Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da diocese de Lamego confirma, ainda, que estão neste momento a analisar um caso de abuso de menores, do qual tiveram conhecimento há pouco tempo, na sequência de uma denúncia feita primeiro às autoridades judiciais.

“Foi há duas semanas. Estamos na fase preliminar de diligências, e na próxima segunda-feira vamos reunir a Comissão para aprovação do relatório final, para ser enviado à comissão coordenadora das comissões diocesanas".

O processo “já está nas autoridades judiciais, no Ministério Público, e também já foi aberto o processo canónico”, mas a Comissão diocesana “só teve conhecimento desta sinalização à posteriori".

O caso "envolve um sacerdote e um menor", que não é da diocese.

Ao final da tarde, em comunicado enviado à Renascença, a Diocese de Lamego e a respetiva Comissão Diocesana de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis reforçam "nada saber dos eventuais factos que correm na comunicação social acerca do padre António Júlio", que foi detido esta sexta-feira por suspeita dos "crimes de tráfico de pessoas e abuso sexual de pessoa incapaz de resistência". Afirnam, ainda, "não ter recebido até ao presente qualquer denúncia a esse propósito", adianta a mesma nota.

A Diocese de Lamego continua atenta "à evolução da situação" e manifesta total disponibilidade para "apoiar cristã e solidariamente todos os sofredores".

[notícia atualizada às 20h24, com comunicado da diocese]

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  • nelsonsilvalopes@hotmail.com Lopes
    28 out, 2022 Samora Correia 11:34
    Após sete anos de continuados abusos, uma familiar da vítima fez a denúncia. Onde andaram os paroquianos e frequentadores da Igreja nestes sete anos? Foz Côa e uma povoação onde todos se conhecem. Ninguém desconfiou de nada? Não terão os acólitos e paroquianos sido coniventes com estes crimes? A Igreja é a casa de todos, mas não pode acolher monstros disfarçados de anjos.

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