03 mar, 2023 - 06:30 • Lusa com Redação
Os bispos portugueses anunciam esta sexta-feira as medidas a tomar em resposta ao relatório sobre abusos sexuais de crianças na Igreja católica, que validou 512 dos 564 testemunhos recebidos em dez meses.
Os bispos reúnem-se durante o dia em Fátima, em assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), e apresentam as suas conclusões às 18h00, em conferência de imprensa, sendo esperado o anúncio de medidas imediatas por parte da hierarquia católica.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, que validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815, alertou desde logo que os dados “devem ser entendidos como a ‘ponta do iceberg’”.
No próprio dia da apresentação do relatório, 13 de fevereiro, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, reconheceu que os resultados não podem ser ignorados e admitiu estar-se perante uma “situação dramática” que será difícil ultrapassar.
No seu relatório, a Comissão Independente deixou algumas sugestões à Igreja, nomeadamente a constituição de uma nova comissão para dar continuidade ao “estudo e acompanhamento do tema”, com membros internos e externos à Igreja; a adoção do “dever moral de denúncia, por parte da Igreja, e colaboração com o Ministério Público” ou o pedido “efetivo de perdão sobre as situações que aconteceram no passado e sua materialização”.
O "apoio psicológico continuado às vítimas do passado, atuais e futuras” é encarado, também, como responsabilidade da Igreja, em articulação com o Serviço Nacional de Saúde.
Na quinta-feira, uma carta subscrita por centenas de católicos pediu também aos bispos portugueses medidas a curto prazo, entre as quais que os bispos “encobridores”, a existirem, se retirem de funções.
A carta pede ainda que “todos os abusadores que estejam atualmente ao serviço da Igreja” sejam suspensos preventivamente “sempre que haja indícios minimamente credíveis sobre abusos” e dispensados de funções quando considerados culpados “à luz da moral cristã, independentemente de eventual processo judicial”.
A criação imediata de modos de viabilizar apoio e ajuda psicológica, psiquiátrica e espiritual às vítimas de abusos sexuais que o pretendam, a preparação de um momento solene e coletivo para pedir-lhes perdão e a criação uma nova comissão independente que prossiga o trabalho da anterior são, segundo o 7Margens, algumas das medidas que mais instituições e pessoas católicas propõem aos bispos portugueses.
Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:
- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.
Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa
- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.
Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.
Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt
- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.
São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.
Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.
Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:
- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica
Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt