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Papa no Sudão do Sul

“Deponhamos as armas do ódio e da vingança”. Papa despede-se do Sudão do Sul

05 fev, 2023 - 09:22 • Henrique Cunha

Na Eucaristia que encerrou a sua visita ao mais jovem país do mundo, Francisco voltou a lembrar “a dor, angustias e anseios” que a população traz “no coração”, e a tristeza pela guerra que marca o quotidiano do Sudão do Sul, para pedir “não nos deixemos corromper pelo mal!”.

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“Deponhamos as armas do ódio e da vingança”. Palavras do Papa na Homilía
“Deponhamos as armas do ódio e da vingança”. Palavras do Papa na Homilía

“Deponhamos as armas do ódio e da vingança”. O Papa deixou uma mensagem de paz e de esperança na missa desta manhã no mausoléu “Jonh Garang”, no Sudão do Sul.

Francisco foi recebido com cânticos e manifestações de alegra pelos católicos do país, que representam cerca de 36% da população do Sudão do Sul e que vivem uma grave crise humanitária devido à guerra, fome e desastres naturais.

No último dia da sua peregrinação por África, o Santo Padre sublinhou a necessidade de serem superadas “as antipatias e aversões que, com o passar do tempo, se tornaram crónicas e correm o risco de levar à contraposição de tribos e de etnias”.

“Aprendamos a colocar nas feridas o sal do perdão, que causa ardor, mas cura. E, mesmo que o coração sangre pelas injustiças sofridas, renunciemos duma vez por todas a responder ao mal com o mal, e sentir-nos-emos bem cá dentro; acolhamo-nos e amemo-nos sincera e generosamente como Deus faz connosco. Salvaguardemos o bem que somos, não nos deixemos corromper pelo mal!”, exortou.

E dirigindo-se à assembleia presente no “Jonh Garang”, o Santo Padre apelou à esperança, mesmo quando vemos “as feridas, as violências que alimentam o veneno do ódio, a iniquidade que causa miséria e pobreza”.

"Poder-vos-ia parecer que sois pequenos e impotentes. Mas, quando vos assaltar a tentação de vos sentirdes inadequados, procurai olhar para o sal e seus grãos minúsculos: é um pequeno ingrediente que, uma vez espalhado sobre a iguaria, desaparece, derrete-se, mas é justamente assim que dá sabor a todo o conteúdo. De igual modo nós cristãos, apesar de ser frágeis e pequenos, mesmo quando nos parecem insignificantes as nossas forças se comparadas com a grandeza dos problemas e a fúria cega da violência, podemos oferecer uma contribuição decisiva para mudar a história”, afirmou.

Francisco sujeitou a sua reflexão às palavras do Evangelho deste domingo: “Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo”, e referiu que aos cristãos “é pedido para arder de amor”.

“Não suceda que a nossa luz se apague, que desapareça da nossa vida o oxigénio da caridade, que as obras do mal tirem o ar puro ao nosso testemunho”, afirmou. “Esta terra, tão bela e tão martirizada, precisa da luz que tem cada um de vós, ou melhor, da luz que cada um de vós é”, reforçou.

Depois o Papa fez votos para que cada um possa ser “sal que se espalha e derrete generosamente para dar sabor ao Sudão do Sul com o gosto fraterno do Evangelho; de serdes comunidades cristãs luminosas que, como cidades situadas no alto, lancem uma luz benéfica sobre todos e mostrem que é belo e possível viver a gratuidade, ter esperança, construir todos juntos um futuro reconciliado”.

“Estou convosco e desejo que experimenteis a alegria do Evangelho, o sabor e a luz que o Senhor, «o Deus da paz» o «Deus de toda a consolação» quer derramar sobre cada um de vós”, concluiu.

Oração do Ângelus: Papa reforça mensagem de esperança e paz e não esquece “a martirizada Ucrânia”.

E durante o Ângelus, o Santo Padre retomou a mensagem de esperança e de paz que quis deixar no último dia da visita ao Sudão do Sul. “Esperança é a palavra que quero deixar a cada um de vós, como um dom a compartilhar, como uma semente que dá fruto”, disse, juntando mais à frente uma outra palavra: “À esperança quero associar outra palavra; paz”.

“Desejo-o com todas as minhas forças. Continuaremos a acompanhar os vossos passos, fazendo tudo o que pudermos para que sejam passos de paz, passos rumo à paz”, garantiu.

Francisco diz que “no Sudão do Sul, há uma Igreja corajosa, irmanada com a do Sudão, como nos recordava o Arcebispo, que mencionou a figura de Santa Josefina Bakhita: uma grande mulher que, com a graça de Deus, transformou o sofrimento suportado em esperança: «a esperança, que nascera para ela e a “redimira”, não podia guardá-la para si; esta esperança devia chegar a muitos, chegar a todos».

O Papa confiou “o caminho da reconciliação e da paz à nossa mui terna Mãe, Maria, a Rainha da Paz”, e não esqueceu “os numerosos países que se encontram em guerra, como a martirizada Ucrânia”.

Francisco reforçou a mensagem de que a população do Sudão do Sul está “nos nossos corações, e nos corações dos cristãos de todo o mundo”. E garantiu: “volto a Roma lavando-vos ainda mais estreitos ao coração”.

“Nunca percais a esperança. E não se perca ocasião de construir a paz. Que a esperança e a paz habitem em vós, que a esperança e a paz habitem no Sudão do Sul!”, rematou.

Este foi o último momento da viagem apostólica de seis dias do Papa Francisco à República Democrática do Congo e ao Sudão. O Santo Padre partiu do aeroporto internacional de Juba com destino a Roma, este domingo, às 9h30, depois da cerimónia de despedida.

Centenas de pessoas estavam presentes no “Jonh Garang”, para ver e ouvir o Papa Francisco. Foto: Aura Miguel/RR
Centenas de pessoas estavam presentes no “Jonh Garang”, para ver e ouvir o Papa Francisco. Foto: Aura Miguel/RR
Foto: Aura Miguel/RR
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