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debate na renascença

Bento XVI marxista? “Está aproximado do Evangelho, não é de esquerda nem direita”

03 jan, 2023 - 20:08 • Diogo Camilo

Em debate na Renascença, o economista João César das Neves, a presidente da Cáritas, Rita Valadas, e o secretário-geral da ACEGE, Jorge Líbano Monteiro, falam sobre a terceira encíclica do Papa emérito e a importância de Bento XVI em "humanizar a economia".

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Debate Bento XVI
Ouça aqui o debate na íntegra

Bento XVI abriu caminho para civilizar a economia, através de uma encíclica baseada “não na justiça, mas na caridade”. Em “Caritas in Veritate”, o Papa emérito, que faleceu no passado sábado aos 95 anos, escreve que “o homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida económico-social”.

Em debate na Renascença, o economista João César das Neves destaca a “elegância estilística espetacular” do ensaio publicado em 2009, “sempre virado para a paixão no amor”.

Questionado sobre se o estilo de escrita e as ideias que transmite são marxistas, como alguns especialistas avançaram nos últimos dias, César das Neves diz que “Caritas in Veritate” está “aproximado do Evangelho, que não é de esquerda nem de direita”.

“O próprio Papa quis mostrar a prioridade de Deus. Os liberais vão considerar que é marxista e os marxistas vão considerá-lo liberal”, diz, referindo que a encíclica toca em imensos assuntos pouco habituais, como a ética empresarial e a etimologia da gratuidade, referindo que o que define Bento XVI é a “clarificação das coisas em termos teológicos”.

A presidente da Cáritas, Rita Valadas, destaca que o Papa emérito “mostrou-nos que o subdesenvolvimento não é só uma questão económica e material e a ética deve comandar todos os setores”, indicando a “importância da ética no exercício da economia”.

Recordando a frase de Bento XVI na encíclica, de que “o anúncio da palavra de Deus e o serviço da caridade são deveres que se reclamam mutuamente”, Rita Valadas refere que o “lucro separado do bem comum cria mais pobreza e desigualdades”.

Jorge Líbano Monteiro, secretário-geral da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), refere que Bento XVI foi “muito importante e carismático” para a associação e aponta que a encíclica “Caritas in Veritate” “levou a centrar a economia na fé e em Jesus Cristo” e a “lembrar-nos que as nossas decisões têm impacto moral”, com chamadas de atenção para humanizar a economia.

“A encíclica de Bento XVI mostrou-nos que a economia poderá funcionar melhor se pudermos introduzir a fé nas decisões do dia a dia”, diz, acrescentando que é necessária “coragem” para tomar essas decisões.

“Caritas in Veritate” é o título da terceira encíclica de Bento XVI, publicada a dia 7 de Julho de 2009. Até então, tinha lançado duas encíclicas, “Deus Caritas Est” e “Spe Salvi”. Joseph Ratzinger faleceu no passado sábado, aos 95 anos. Foi Papa entre 2005 e 2013, quando abdicou e passou a ser emérito da diocese de Roma.

O funeral de Bento XVI será na quinta-feira, na Praça de São Pedro, no Vaticano, com o Papa Francisco a presidir à cerimónia. O corpo está na Basílica de São Pedro desde segunda-feira para que os fiéis se possam despedir do Papa emérito.

Ouça este debate na íntegra.

O debate "A economia de Bento XVI" teve como convidados o economista e professor catedrático da Universidade Católica João César das Neves, a presidente da Cáritas Rita Valadas e Jorge Líbano Monteiro, Secretário Geral da ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores), moderados pelo jornalista Miguel Coelho, a partir da leitura de "Caritas in Veritate". Produção: Ana Marta Domingues.

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