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Caminho Português de Santiago. “Todos os anos passam por Ponte de Lima 50 mil peregrinos”

05 nov, 2022 - 09:42 • Henrique Cunha

Algumas autarquias do Minho - Barcelos, Ponte de Lima, Paredes de Coura e Valença - voltam a desenvolver nos dias 8, 9 e 10 deste mês uma ação de promoção dos Caminhos de Santiago. O objetivo é “revelar a riqueza e o significado cultural do Caminho Português, cujo processo de certificação está em curso”.

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O Caminho Português, também conhecido como o Caminho Central, “é o mais percorrido do país e o segundo da Europa”, garantem os promotores da iniciativa.

Em entrevista à Renascença, Paulo Sousa, vereador da Câmara de Ponte de Lima reforça a ideia da importância “económica, cultural, e religiosa” do caminho e lembra “todos os anos no concelho passam cerca de 50 mil peregrinos”.

Os caminhos de Santiago estão na moda, ainda assim, continuam a apostar na sua divulgação. Porquê?

Porque também é uma forma de darmos a conhecer o nosso património, o nosso território, a nossa identidade cultural, através deste corredor, com grande impacto para o desenvolvimento do nosso território e também das nossas aldeias. E daí que este é também um desafio que os municípios têm adotado no sentido de valorizar algo que é genuíno, com história e que tem séculos.

É por isso que queremos dar continuidade a este processo de valorização e preservação de um itinerário classificado pelo Conselho Europeu e que para nós tem muito valor e que é importante também dar a conhecer, não só a nível nacional, mas também a nível internacional.

Esta promoção exige muito investimento?

Efetivamente, o município tem feito um grande trabalho de preservação e valorização de um conjunto de imóveis classificados, quer do ponto de vista religioso, quer patrimonial. Podemos recordar, por exemplo, a recuperação de uma capela de Santiago, na Correlhã, do século XV, do Anjo da Guarda, que fica no caminho do próprio Museu dos Terceiros. Ou seja, o município tem executado algumas candidaturas no sentido de valorizar o património que está junto do Caminho Português de Santiago. Ao estarmos a associar ao caminho o património classificado de grande valor histórico, estamos também a agregar valor. E que é que tem dado um outro tipo de retorno. Nós temos hoje, felizmente, peregrinos que passaram por Ponte de Lima e que vieram para investir cá, para comprar casa e para residir em Ponte de Lima.

Existem vários caminhos, mas vocês afirmam que o Central é que é o caminho. Do ponto de vista histórico, há fundamentos para esta afirmação?

Se pensarmos bem, a passagem da passagem terrestre sobre o rio Lima entre Xinzo em Ourense e Viana do Castelo, é Ponte de Lima, com uma ponte medieval e romana. Possivelmente haveria outras passagens, mas de barco, que muitas vezes se diluem no tempo, e certamente que esta passagem terrestre permitia uma centralidade muito própria a Ponte de Lima. Depois há um conjunto de elementos históricos desde a lenda do galo em Barcelos, há um conjunto de calçadas que ainda se mantêm preservadas e todo o trabalho de levantamento histórico, quer de monumentos, quer de elementos simbólicos ligados ao caminho que hoje é possível constatar ao longo do Caminho Português de Santiago e que certamente consolidam este caminho como uma referência histórica de peregrinação em Portugal. E, por outro lado, também é importante referir que há mais de duas dezenas de anos que temos cá sedeada a Associação de Amigos do Caminho Português de Santiago e isso também diz muito da antiguidade e da valorização do caminho.

Esta promoção visa a vertente turística económica, mas também não esquece a aposta no chamado turismo religioso…

E essa é uma matriz muito importante do caminho português de Santiago. E daí que, por exemplo, o município de Lima desenvolveu um projeto de reabilitação de uma capela dedicada a Santiago, que ficava em cima do caminho do Português de Santiago, na freguesia da Correlhã. Porque sentimos que entendemos que do ponto de vista histórico e do ponto de vista religioso, é um elemento importante para os próprios peregrinos.

E daí que o município tenha feito este trabalho de valorizar o património religioso. Assim como é importante dizer se que ao longo do caminho há todo um conjunto de património religioso de grande significado, não só concelhio, mas também a regional, que permite que os peregrinos realmente possam ter serviço de apoio religioso, com missas, confessos, um conjunto de atividades dirigidas aos peregrinos. E isso só é possível realmente porque há uma procura crescente do caminho. E há também este lado da fé, da procura, da introspeção individual dos peregrinos e por isso esta dimensão, eu acho que é importante também que seja sempre refletida num caminho com história.

Há alguma uma ideia de quantos peregrinos caminhantes passam por Ponte de Lima. Todos os anos?

É sempre difícil. Nós temos como referência o albergue de peregrinos. Para dar uma ideia, em 2021 pernoitaram no nosso albergue 12 mil peregrinos. Mas há muito alojamento em Ponte de Lima, que dá resposta às necessidades dos peregrinos que aqui passam. Os números que nós temos é de que passam por ali aproximadamente 50.000 peregrinos por ano. Este é o segundo caminho mais percorrido do mundo, a seguir ao caminho francês e isso diz muito do impacto que este caminho tem em todo o território por onde ele passa. E daí que os municípios também têm essa consciência e trabalham este produto religioso como um bem maior para o desenvolvimento dos seus territórios.

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