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Pobreza. "Pessoas com menos rendimentos em Portugal são as primeiras a sofrer na pele"

17 out, 2022 - 16:40 • Teresa Paula Costa , com Pedro Valente Lima

Em entrevista à Renascença, D. José Traquina mostra-se preocupado com o aumento da pobreza em Portugal. O bispo deixa o apelo, a Governo e partidos, que façam mais pela justiça redistributiva no país, especialmente face aos custos da guerra na Ucrânia.

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No dia em que a Pordata revelou que, no primeiro ano da pandemia, a pobreza aumentou 12,5%, colocando Portugal no 13.º lugar do ranking dos países mais pobres da União Europeia, o presidente da comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana mostrou-se preocupado com a forma como a situação está a evoluir.

Em entrevista à Renascença, D. José Traquina disse que os números confirmam o que as instituições da Igreja já vêm sentindo no terreno, dá conta das dificuldades que o aumento da procura das instituições tem causado e pede ao Governo que ajuste o Orçamento do Estado para 2023 à realidade do país.

"Com a pandemia e agora os efeitos da guerra e da inflação", o bispo salienta que as "coisas se tornaram mais complicadas". "Nomeadamente, as Cáritas Diocesanas e as Cáritas Paroquiais em Portugal já estão, há algum tempo, a receber muitos pedidos de apoio de pessoas e famílias".

Logo, D. José Traquina realça que os dados, aliados à experiência no terreno, já "indiciavam as aflições". O bispo preocupa-se ainda com as dificuldades que são sentidas, sobretudo, pelas pessoas com baixos rendimentos.

"As pessoas que têm menos rendimentos em Portugal, com a inflação e os custos de vida, são as primeiras a sofrer na pele. É evidente para toda gente que quem ganha menos ia sofrer mais com isso, a ter que fazer uma vida sóbria à força", lamenta.

Governo tem de atenuar as desigualdades socioeconómicas

O bispo salienta que a Igreja está pronta a ajudar, embora sabendo que essa "ajuda é sempre pouca". "Cabe, naturalmente, a quem governa encontrar as formas mais eficazes e fortes para atenuar as dificuldades das pessoas", salienta.

D. José Traquina acredita que o Governo tem que ser um agente ativo, especialmente no capítulo da redistribuição da riqueza no país: "Há muito, e não só agora, que nos preocupa a diferença de rendimentos na sociedade portuguesa. Portugal é dos países da Europa onde há maior diferença de rendimentos entre as pessoas".

O bispo deixa o apelo, a governantes e demais partidos políticos, para "que cuidem do equilíbrio dos rendimentos em Portugal". "Não queremos fazer outra coisa que não seja olhar com bondade, sentido de justiça e de paz para a população portuguesa."

Questionado se as medidas de combate à pobreza do Orçamento do Estado para 2023 são suficientes, D. José Traquina mostra-se expectante. Para o bispo, é "natural que o Governo tenha que fazer adaptações na evolução das coisas", especialmente devido à "situação instável" que se vive na Europa.

"Oxalá que as adaptações sejam para melhor. Confio que o Governo está atento às necessidades e que conseguirá corresponder, o mais possível, ao equilíbrio do bem-estar das pessoas."

Na hora de providenciar apoio às famílias, D. José Traquina admite que as igrejas estejam a passar por "muitas dificuldades".

"Muitas das instituições da Igreja estão preocupadas com a sua sustentabilidade, com o aumento de despesas de funcionamento com que não contavam, de modo nenhum. Estão a gastar reservas que tinham", afirma.

O bispo "não sabe bem onde isto [pobreza] vai parar" e pede que os ministros da Saúde e da Segurança Social "estejam atentos". "Porque se pode tornar num problema grave para o país."

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