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“Fraternidade sem fronteiras”

Augusto Santos Silva: "Portugal é um modelo de encontro de culturas e o diálogo entre as religiões"

14 out, 2022 - 16:04 • Aura Miguel

O Congresso Missionário 2022 conta com a participação do padre Laurent Basanese, especialista no diálogo com o Islão, membro do Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso. O especialista da Santa Sé afirmou que a violência e o conflito resultam da incapacidade de formular respostas “articuladas” e esclareceu que “identidade e diálogo não são opostos” porque “o outro também pode ser um aliado, um sócio, um amigo”.

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“A liberdade religiosa é um direito fundamental, primário e inalienável, que é preciso promover em todos os lugares e que não se pode limitar apenas à liberdade de culto”, sublinhou o Papa numa mensagem enviada aos participantes no congresso missionário sobre “Fraternidade sem fronteiras”, que decorre esta sexta-feira e amanhã, na Universidade Católica, em Lisboa.

A mensagem do Papa recorda que não se pode ficar bloqueado pelas divergências e conflitos, pelo contrário, a alteridade deve é “abrir novos processos numa dinâmica em que cada um fala com liberdade, mas também escuta e está disponível a aprender e a mudar”.

O objetivo do congresso missionário 2022 é aprofundar esta questão, a partir da Declaração sobre a Fraternidade Humana, assinada em Abu Dhabi pelo Papa Francisco e pelo líder muçulmano sunita da Universidade de e Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, a 4 de fevereiro de 2019.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEDP), D. José Ornelas, afirmou na sessão de abertura, que o tema do congresso assume as “preocupações do Papa sobre o futuro da humanidade".

Também interveniente na sessão, o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, valorizou a influência social e política das religiões, considerando que “desde a transição democrática, Portugal é considerado um modelo de encontro de culturas e o diálogo entre as religiões, cultivado pela Assembleia da República e por outros orgãos de soberania”.

Os trabalhos contam com a participação do padre Laurent Basanese, especialista no diálogo com o Islão, membro do Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso. O especialista da Santa Sé afirmou que a violência e o conflito resultam da incapacidade de formular respostas “articuladas” e esclareceu que “identidade e diálogo não são opostos” porque “o outro também pode ser um aliado, um sócio, um amigo”.

No entanto, é necessário um “novo paradigma formativo” para a universidade, já que o futuro vai requerer “competências transdisciplinares, superando a pretensão de impor um pensamento único”.

Por sua vez, a reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil, fez uma intervenção em que afirmou que, neste “tempo do conflito”, falar de fraternidade “é um gesto contracorrente”.

A reitora deixou alguns exemplos. “Não falo apenas da escalada bélica na guerra da Ucrânia, mas também do que se passa nas outras zonas quentes do globo: da Somália à Etiópia, no Médio Oriente, no Afeganistão, as tensões no sudeste asiático, no mar do sul da China, sem esquecer a América Latina”. E também denunciou as sociedades polarizadas por causa da guerra, “minadas pelo dissenso radical”, pelas desigualdades e por “uma radicalização do discurso público”, que leva a uma “tribalização social”.

Nesta intervenção, a reitora da Católica sublinhou a importância da Encíclica do Papa Francisco, "Fratelli Tutti", considerando-a um “poderoso documento de evangelização, tratado de política e grande ensaio de teoria cultural”.

Capelou Gil pôs o dedo na ferida ao recordar que os migrantes e refugiados são “um desafio para os nacionalismos europeus”, uma vez que na Europa, o discurso social, cultural, e político sobre a figura do migrante reduz-se às narrativas da necessidade e emergência por um lado e da segurança por outro. Ora, para o Papa Francisco, “a Fraternidade na Cultura do Diálogo”, exige outra narrativa, que é a “do cuidado em torno de um objetivo de ação, a amizade social”, afirmou. Ainda a propósito da atualidade deste Congresso, a reitora apelou à coresponsabilidade, porque “cuidar significa reconhecer na diferença antropológica que os outros representam uma mesma identidade”, ou seja, manifestam a mesma dignidade.

Durante a tarde, a perspetiva da “Fraternidade sem fronteiras” reuniu intervenções de representantes do islamismo e do cristianismo e uma conferência de Guilhermo d’Oliveira Martins sobre “A Fraternidade na Política, na Economia e no Meio Social”, a partir da doutrina social da Igreja e do Concílio Vaticano II.

O Congresso Missionário 2022 prolonga-se pelo dia de amanhã e a conferência de encerramento está a cargo do cardeal D. José Tolentino de Mendonça, sob o tema “A Fraternidade e a Reconstrução da Esperança”.

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