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Papa nos 60 anos do Concílio: “A Igreja não tem tempo para confrontos, venenos e polémicas”

11 out, 2022 - 20:37 • Aura Miguel

O Papa considera ainda que “o progressismo que segue o mundo” e “o tradicionalismo que lamenta um mundo passado são provas de infidelidade, não de amor”.

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O Concílio Vaticano II foi uma grande resposta à pergunta que Jesus fez a Pedro «Amas-Me?», disse esta tarde o Papa, na homilia da missa que presidiu na Basílica de São Pedro e onde, excepcionalmente junto ao altar da confissão, foi colocada a urna com o corpo embalsamado de João XXIII.

É a primeira vez na história que a Igreja “dedicou um Concílio a interrogar-se sobre si mesma, a refletir sobre a sua própria natureza e missão”, disse Francisco. “Reencontremos a paixão do Concílio e renovemos a paixão pelo Concílio! “

A partir da riqueza deste acontecimento histórico, inaugurado por João XXIII a 11 de outubro de 1962 e encerrado por Paulo VI a 8 de dezembro de 1965, Francisco fez uma reflexão com base em três olhares. O primeiro é o olhar do alto, ou seja, “com olhos enamorados de Deus”, porque “existe sempre a tentação de partir do eu antes que de Deus, colocar as nossas agendas antes do Evangelho, deixar-se levar pelo vento do mundanismo para seguir as modas do tempo ou rejeitar o tempo que a Providência nos dá”.

O Papa considera ainda que “o progressismo que segue o mundo” e “o tradicionalismo que lamenta um mundo passado são provas de infidelidade, não de amor”. Neste contexto, é preciso redescobrir o Concílio “para devolver a primazia a Deus, ao essencial”. Francisco quer uma Igreja “enamorada por Jesus” e “sem tempo para confrontos, venenos e polémicas. Deus nos livre de ser críticos e impacientes, duros e irascíveis. Não é só questão de estilo, mas de amor, porque quem ama – como ensina o apóstolo Paulo – faz tudo sem murmurar”. Por isso, deixa o apelo: “Reencontremos a paixão do Concílio e renovemos a paixão pelo Concílio!".

O segundo olhar que nos ensina o Concílio é “o olhar no meio, estar no mundo com os outros e sem nunca se sentir acima dos outros”. Por isso, o Concílio é tão actual: “Ajuda-nos a rejeitar a tentação de nos fecharmos nos recintos das nossas comodidades e convicções”, diz Francisco, ajuda-nos a “sair de nós mesmos e superar a tentação da auto-referencialidade”. Ou seja, “não existes para te apascentar a ti mesmo, mas os outros, todos os outros, com amor”, sublinha o Papa.

O terceiro olhar é um olhar de conjunto. O Papa esclarece que ”o bom Pastor vê e quer o seu rebanho unido, sob a guia dos Pastores que lhe deu”, sem cederem à “tentação da polarização”. Referindo-se às divisões que nasceram no do pós-Concílio, Francisco lamentou os que preferiram “ser adeptos do próprio grupo em vez de servos de todos, ser progressistas e conservadores em vez de irmãos e irmãs, sere de direita ou de esquerda mais do que ser de Jesus”. E deixou uma advertência: “O Senhor não nos quer assim: somos as suas ovelhas, o seu rebanho, e só o seremos juntos, unidos”.

No final da homilia, o Santo Padre agradeceu a Deus o dom do Concílio e pediu para todos: “Vós que nos amais, livrai-nos da presunção da autossuficiência e do espírito da crítica mundana. Livrai-nos da auto-exclusão da unidade. Vós, que nos apascentais com ternura, fazei-nos sair dos recintos da autorreferencialidade. Vós que nos quereis rebanho unido, livrai-nos do artifício diabólico das polarizações, dos ismos”.

As comemorações desta tarde começaram com a leitura de excertos do discurso inaugural de João XXIII e terminaram com uma procissão das velas, tal como a de há 60 anos que iluminou a Praça de São Pedro.

Nessa noite, o “Papa bom” veio à janela do Palácio Apostólico e proferiu um famoso “discurso ao luar”, surpreendendo a multidão com um improviso, em que pediu aos fiéis para, quando voltassem a casa, abraçarem os filhos e dizer-lhes “esta é a carícia do Papa”.

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